domingo, 31 de maio de 2009

AS DIFERENÇAS ENTRE O PCB E O PCdoB

AS DIFERENÇAS ENTRE O PCB E O PCdoB: No texto abaixo, Mário Maestri comenta um artigo de Aldo Rebelo (deputado e dirigente do PCdoB, ex-presidente da Câmara dos Deputados), publicado no jornal conservador O Estado de São Paulo, sobre a Guerra do Paraguai e nossa relação com este país irmão. Para se ter uma idéia das diferenças entre o PCB e o PCdoB, publicamos ao final do texto de Mário Maestri o manifesto sobre o mesmo tema que o PCB divulgou, no Brasil e no Paraguai, por ocasião da posse de Fernando Lugo, em maio de 2008.

Aldo Rebelo em verde, amarelo, branco, azul anil...

Os crimes cometidos contra a população e a nação paraguaias são de exclusiva
responsabilidade das classes dominantes brasileiras, como um todo, e das facções liberais argentinas e uruguaias de então. Por Mário Maestri (*). Leia mais. Aldo Rebelo serviu-se de simples proposta de deputados paraguaios ao Parlamento Mercosul para publicar, no poderoso Estado de São Paulo, de 1º de maio, dia internacional dos trabalhadores, desbragada defesa da ação criminal do Império, quando da destruição do Paraguai como nação independente, em 1864-1870. A diatribe foi publicada dias antes da chegada de Fernando Lugo, na procura de rediscussão do acordo imposto pela ditadura brasileira, nos anos 1970, quando reinava no Paraguai Alfredo Strossner, o sinistro ditador morto há alguns anos, em Brasília, em exílio dourado, concedido sem qualquer ranger de
dentes.

Rebelo não se opõe a “Memorial da Guerra da Tríplice Aliança" a ser organizado pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Indigna-se, porém, com a possibilidade de que tenha como objetivo rememorar o “genocídio levado a cabo contra o povo paraguaio”, que define como “ignomínia contra o Brasil”. Para apoiar sua defesa incondicional da ação do Império contra a pequenina nação, desenvolve desbragada manipulação nacional-patriótica da verdade e do
método históricos, ao estilo “verde, amarelo, branco, azul anil....”, dos anos 1970. Nada estranho nos atuais tempos bicudos, se o deputado não se assinasse comunista.

Abraçando o irracionalismo e o relativismo histórico, Rebelo propõe ser impossível escrever história isenta da guerra, pois as análises sobre ela variariam segundo os “autores e as conjunturas”. Fulmina as leituras do “passado com as lentes do presente”, talvez sugerindo que deva ser analisado com os olhos do passado ou do futuro! Defende que, para se ter “conclusões irrefutáveis” sobre “aspectos controversos da guerra”, faltariam sobretudo “muitos documentos a apresentar”. Proposta paradoxal para apoiador de governo que rejeita caninamente a exigência dos historiadores ao direito de consulta de documentos sobre o conflito classificados como secretos pelo atual governo!

O Mal Uso da História

Rebelo empreende igualmente passeio sumário na historiografia do conflito. Sempre apoiado na atual historiografia nacional-patriótica restauracionista, esclarece que as “primeiras interpretações tecidas nos panteões oficiais” – em geral por oficiais das forças armadas – teriam sido sucedidas por “criticismo exarcebado”, que define como “revisionismo infantil”. Fulmina, assim, sem ter a coragem de citar, o estudo Genocídio americano: uma história da Guerra do Paraguai, do jornalista Júlio Chiavenatto, que, apesar de seus indiscutíveis limites, contribuiu corajosamente, durante a ditadura, ao esclarecimento da ação – esta sim ignominiosa – do governo imperial no Paraguai.

Promove paradoxal defesa do imperialismo inglês no Prata, ao propor que o Império Britânico, além de não ter responsabilidades no conflito, teria tentado “pôr panos quentes na desavença”! Destaque-se que, em Cartas dos campos de batalha do Paraguai, o diplomata britânico sir Richard F. Burton [1821-1890] registrou, sem papas na língua, a visão geral das classes dominantes da grande potência imperialista: “Minhas simpatias vão para o Brasil, pelo menos enquanto sua ‘missão’ for desaferrolhar [...] o grande Mississipi do Sul.”


Na sua empolgação nacional-patriótica, desatento à própria linguagem – surpreendente para autor de proposta de lei supostamente destinada a proteger a língua portuguesa da ingerência externa –, afirma nada menos do que o “nosso [sic] Império escravista” seria “pacifista”, escamoteando com sua apologia as múltiplas intervenções imperialistas do Segundo Reinado no Prata, entre 1851-1876! Registre-se a paradoxal apresentação do exército imperial como vanguarda da Abolição! [...] o Segundo Reinado era pacifista [...], e foi a guerra que conferiu a esta força militar fôlego e consciência para se reorganizar e se consolidar como instituição decisiva, a ponto de ser protagonista das rupturas históricas representadas pela Abolição [...].”


Para inocentar os crimes realizados na guerra, apoiado em “pesquisadora americana [sic]” – estadunidense, prezado deputado! –, impugna a estimativa de 1,1 milhões de habitantes para o Paraguai, que reduz para 320 mil, dos quais “60 mil” teriam morrido “durante a guerra”. O paradoxal no raciocínio é que, se esses números forem corretos, o Paraguai teria perdido em torno de 20% de sua população! Um verdadeiro e indiscutível genocídio! A minoração apologética extremada da população paraguaia deixa também em péssimos panos o Império que, com mais de nove milhões de habitantes, necessitou de seis anos, dezenas de milhares de mortos e recursos impressionantes para se impor a país, segundo proposto, na época, com uma população menor do que a da província do Rio Grande do Sul – 430 mil habitantes, em 1872!

Guerra entre nós, paz com os senhores!

A avaliação histórica de Rebelo do grande conflito é de relativismo patriótico paradoxal. No conflito, o Paraguai teve suas razões e seus heróis, ao igual que o Brasil. “Cabe-nos”, apenas, “perfilar os heróis de cada lado”, cantando, cada um, paraguaio e brasileiro, loas aos seus feitos patriótico-militares. Os combatentes paraguaios merecem a honra eterna de seus compatriotas”, como “os mais de 50 mil brasileiros mortos merecem e aguardam o reconhecimento plena da Pátria, pois foi por ela e em nome dela que pereceram [...]” – propõe o deputado.


Visão que liquida qualquer possibilidade de construção de interpretação geral da história, desde o ponto de vista dos povos e dos oprimidos, ao reduzi-la a realidade de valores e parâmetros essencialmente nacionais-patrióticos, que irmana oprimido e opressores. No frigir dos ovos, Rebelo substitui o grito sintética sobre a falta de contradição entre os oprimidos de todo o mundo, lançado há 161 anos, com a velha proposta nacional-patriótica de que os
“proletários e povos de todo o mundo devem unir-se .... sob o mando das suas respectivas classes dominantes!”


Sem dúvidas a “historiografia ainda tem um longo caminho a percorrer” para elucidar todos os aspectos daquela guerra fratricida. Porém, ao contrário do que propõe Rebelo, não há hoje dúvidas, entre os especialistas não dogmáticos, sobre o caráter socialmente avançado do Paraguai, nascido das suas singularidades históricas que deprimiram o surgimento de classes proprietárias e comerciais, ensejando o desenvolvimento de poderosa classe de pequenos camponeses proprietários ou arrendatários, sobretudo das grandes fazendas públicas do país. Principal base social dos governos nacional-jacobinos paraguaios do dr. Francia e de Lopez pai e filho.


Contra-Revolução Liberal

O sentido da Guerra contra o Paraguai explicita-se plenamente após o conflito, quando o país, sob governos fantoches e liberais, foi obrigado a endividar-se para pagar, por décadas, indenizações draconianas ao Brasil e à Argentina e perdeu boa parte de seus territórios em favor desses países. A Guerra constituiu sobretudo espécie de implantação sob as forças das armas, com o apoio indiscutido da Inglaterra, de ordem liberal-mercantil no país. A partir dos
anos de ocupação militar pelos exércitos do Império brasileiro, privatizaram-se
aceleradamente as fazendas públicas, os ervais, as reservas florestais e constituíram-se grandes latifúndios, em geral propriedades de estrangeiros – argentinos, ingleses, brasileiros, paraguais colaboracionistas etc.


Desde a independência, em 1810, até o fim do sangrento conflito, em 1870, o Paraguai fora caso único de estabilidade política e social na América do Sul. Ao desorganizar para todo o sempre o poderoso campesinato de origem guarani, derrotado e profundamente dizimado durante a guerra, o conflito lançou aquela nação em uma situação de instabilidade e ditaduras militares, permanentes cortejadas e manipuladas pelos grandes interesses econômicos sobretudo do Brasil e da Argentina.


Alfredo Strossner manteve, de 1954-1989, uma das mais longevas, corruptas e desapiedadas ditaduras latino-americanas, ao dar as costas à Argentina e obter o apadrinhamento permanente dos sucessivos governos brasileiros. Foi durante o seu governo que os ditadores em turno no Brasil ditaram as condições draconianas que permitiram a construção da Usina Hidroelétrica de Itaipu Bi-nacional. Fernando Lugo elegeu-se defendendo precisamente uma rediscussão desses acordos espúrios e a devolução parcial das terras arrancadas ao campesinato paraguaio, hoje em boa parte nas mãos de grandes sojicultores brasileiros.


Por uma História e Política dos Povos


Os crimes cometidos contra a população e a nação paraguaias são de exclusiva
responsabilidade das classes dominantes brasileiras, como um todo, e das facções liberais argentinas e uruguaias de então. No Brasil, na Argentina, no Uruguai, a população pobre partia, não raro, manietada e tratada como gado, para ir lutar em conflito que literalmente abominava, pois tudo tinha a perder e nada a ganhar na luta contra os irmãos paraguaios.


Na Argentina, os gauchos desertaram e levantaram-se em armas aos milhares contra os governos liberais de Mitre e Sarmiento que agrediam sua autonomia provincial e os direitos nacionais paraguaios. No Brasil, a negativa do homem livre em partir para o Prata obrigou a compra e libertação de cativos destinados a morrer sob bandeira negreira que manteria nos grilhões, por ainda quase vinte anos, seus irmãos. Durante a guerra, os quilombos brasileiros regurgitaram de desertores, que compreendiam que, se “deus é grande, o mato é maior!”


Ao contrário do que afirmam os proprietários das riquezas e do poder e seus intelectuais arrendados, não houve, ontem, como não há hoje, contradições entre os trabalhadores e trabalhadoras, entre os homens e as mulheres de bem das nações latino-americanas. O “Memorial da Guerra da Tríplice Aliança” que devemos construir deverá cimentar a aliança dos trabalhadores, pobres e oprimidos latino-americanos e celebrar o martírio dos populares e combatentes guaranis, brasileiros, argentinos e uruguaios, ceifados no altar dos mesquinhos
interesses das suas classes dominantes nacionais.


(*) Mário Maestri, 60, é doutor em História pela UCL, Louvain, Bélgica. Foi preso e refugiado
durante a Ditadura Militar brasileira. É atualmente comunista sem partido. E-mail:
maestri@via-rs.net


SOLIDARIEDADE AO PARAGUAI:
UMA DÍVIDA HISTÓRICA
(Nota Política do PCB – Partido Comunista Brasileiro)

O novo presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, que tomará posse em 15 de agosto de 2008, apresentou como um dos principais pontos de sua campanha a disposição de renegociar os termos do acordo que criou a binacional Itaipu, sobretudo no que se refere ao preço pago pelo Brasil na compra do excedente de energia gerada.

Com uma população estimada de 6.100.000 habitantes, a economia do Paraguai baseia-se, principalmente, nas atividades agropecuárias que representam mais de 70% de suas exportações que, pelo fato de o país não possuir saída para o mar, são escoadas pelo Rio da Prata, que lhe permite acesso ao oceano Atlântico. Desse modo, a sua dependência em relação ao Prata tem imposto ao país uma subordinação aos interesses das duas principais economias da região: Brasil e Argentina. Uma subordinação derivada, no passado, de uma “paz de cemitério”.
Em meados do século XIX, o Paraguai conquistou uma posição de destaque no continente. O analfabetismo havia sido erradicado, fábricas foram instaladas com subsídio estatal, uma reforma agrária fora implantada. Diante dos riscos, a emergente potência regional buscou desenvolver uma força militar que lhe oferecesse garantias para um possível enfrentamento.

Valendo-se de divergências regionais e da subserviência do Brasil e da Argentina, bem como de suas pretensões em se constituir hegemônica no continente, a coroa britânica não se esquivou em incentivar os dois países a praticarem o estrangulamento da economia paraguaia, impondo o fim da livre navegação no rio da Prata. Diante desse cerco, a guerra era inevitável.

A Guerra do Paraguai constituiu um dos maiores massacres já cometidos na
América do Sul. A Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), financiada pelo capital inglês, foi responsável pelo extermínio de 300 mil paraguaios, entre civis e militares, para uma população de 500 mil, além da total desarticulação de sua economia. Como conseqüência, o país passou a conviver com a instabilidade política de golpes de estado, renúncias forçadas e mortes de presidentes nunca explicadas, culminando com a ditadura do general Alfredo Stroessner, a mais longa da América Latina (1954 a 1989), subserviente aos interesses do grande capital, já em mãos norte-americanas, em vista do deslocamento do eixo dinâmico do capitalismo mundial.

Foi justamente nessa conjuntura de total falta de liberdades políticas - tanto no
Brasil quanto no Paraguai - que, em 1966, iniciam-se as conversações bilaterais para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Em 1971, o consórcio formado pelas empresas IECO (USA) e ELC (Itália) iniciou as obras. Em 26/04/1973, os dois países assinaram o Tratado de Itaipu, que regulamentaria o aproveitamento hidrelétrico do rio Paraná, para vigorar por 50 anos, ou seja, até 2023! Praticamente dez anos depois, em 1984, entrou em operação a primeira unidade geradora da Usina. Em toda a fase de negociação, planejamento e execução reinava, em ambos os países, o cerceamento da liberdade de expressão, o que inviabilizava não só o debate técnico como o debate político a respeito da questão.

Dessa forma, quando o novo presidente paraguaio, Fernando Lugo, reivindica a
renegociação contratual do preço da energia vendida ao Brasil, o faz com a
legitimidade de buscar realizar um debate sobre novas bases históricas. O governo brasileiro não pode se valer de subterfúgios burocráticos, pois permanecerá fazendo o jogo dos interesses do grande capital e ignorando as mazelas sociais latinoamericanas sobre as quais, no caso do Paraguai, temos enorme responsabilidade histórica.

O Partido Comunista Brasileiro (PCB) conclama o governo brasileiro a sair da
simples retórica da integração continental e passar para a ação, aceitando uma
renegociação com o Paraguai a respeito do acordo de Itaipu, sob pena de se
posicionar à imagem e semelhança dos países imperialistas. A integração da América Latina não deve seguir a lógica do mercado, mas, ao contrário, estar voltada para a superação das diferenças sociais, tanto entre os países como dentro de cada um deles. Assim sendo, o PCB presta irrestrita solidariedade militante ao povo paraguaio, em sua luta por soberania e justiça social, fazendo votos de que, com o respaldo e a pressão do movimento de massas, o novo governo possa cumprir suas promessas de campanha eleitoral, inclusive no que se refere ao fim da presença militar do imperialismo norte-americano no território do Paraguai, que tem como objetivos estratégicos, entre outros, o controle da chamada Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil e Paraguai) e de uma das maiores reservas de água doce do mundo, o Aqüífero Guarani.

COMITÊ CENTRAL

Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Maio de 2008


terça-feira, 26 de maio de 2009

45º Aniversario das FARC-EP (por Estado Maior Central)

"As circunstâncias políticas são propícias
para o accionar do Movimento armado
e do Movimento Bolivariano."

Manuel Marulanda Vélez

. Neste pensamento de Manuel está retratada a alma das FARC como bandeira ao vento. Há 45 anos surgimos nas alturas de Marquetalia, a montanha da resistência dos povos, buscando a paz para a Colômbia, a justiça e a dignidade. Desde então somos a resposta armada dos despossuídos e dos justos às múltiplas violências do Estado.

A paz é a nossa estratégia e o accionar do Movimento armado empunhando a bandeira da alternativa política é a táctica para chegar a ela. Dizemo-lo também com a palavra de fogo de Bolívar: "a insurreição anuncia-se com o espírito de paz. Resiste ao despotismo porque este destrói a paz e não empunha as armas senão para obrigar os seus inimigos à paz". Por ela deram a sua vida Manuel Marulanda Vélez, Jacobo Arenas, Efraín Guzmán, Raúl Reyes, Iván Ríos e toda essa invencível legião de comandantes e combatentes aos quais hoje recordamos com veneração. Para todos eles, honra e glória neste aniversário das FARC.

"Aquele que assegura a sua honra – dizia o Libertador – dedicando sua vida ao serviço da humanidade, à defesa da justiça e ao extermínio da tirania, adquire uma vida de imortalidade ao deixar o âmbito da matéria que o homem recebe da natureza. Uma morte gloriosa triunfa sobre o temo e prolonga a sublime existência até à mais remota posteridade" ... É o que ocorre com todos eles, que apesar de haverem partido continuam vivos nos fuzis e no projecto político das FARC, com Bolívar a combater pela Nova Colômbia, a Pátria Grande e o Socialismo, ombro a ombro com o povo e seus guerrilheiros.

Queremos o país vislumbrado pelo Manifesto das FARC e pela Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia. Queremos que ele surja de um Grande Acordo Nacional rumo à Paz rubricado por todas as forças dispostas a protagonizar a mudança das estruturas injustas e anacrónicas, sem exclusões. Emanado de um pacto social rodeado de povo que instrumente a articulação de uma alternativa política com vistas à conformação de um novo governo nacional, patriótico democrático, bolivariano, rumo ao socialismo. Sim, rumo ao socialismo, que é justiça e redenção do povos!, a arca de salvação da humanidade frente ao afundamento do sistema capitalista mundial.

A dignidade da Colômbia e o resgate do sentimento de pátria reclamam uma nova liderança que privilegie a unidade e o socialismo ao avançar rumo ao futuro. Um novo grito de independência nos convoca, mostrando-nos o campo de batalha de Ayacucho do século XXI onde flameja a certeza do triunfo da revolução continental, a de Bolívar e dos nossos próceres.

É hora de superar a vergonha nacional que representa um governo ilegítimo e ilegal, gerador de morte e pobreza. Um governo que, apoiado pelo de Washington, só actua para perpetuar a guerra e a discórdia enquanto garante a sangue e fogo a segurança investidora às transnacionais que saqueiam os nossos recursos. Um regime apátrida que, apesar do alto número de tropas norte-americanas que intervêm no conflito interno da Colômbia, permite que o nosso solo sagrado seja espezinhado por mais tropas estrangeiras, as expulsas de Manta, permitindo aos Estados Unidos operarem nesta terra uma base de agressão para o assalto aos povos irmãos do continente. Um governo desavergonhadamente narco-militar, que já não se importa perante as contundentes confissões de capos paramilitares que asseguram, como "Don Berna", haver financiado com dólares da cocaína as campanhas presidenciais de Álvaro Uribe Vélez. Um governo e um presidente que converteram o Palácio de Nariño em escuro antro de conspiração entre mafiosos para desestabilizar os Tribunais, obstruir a justiça e deixar sem efeito a independência dos poderes públicos. Que extraditou para os Estados Unidos dos cabecilhas paramilitares quando estes começaram a vincular o séquito de Uribe, os generais, os empresários e os ganadeiros à estratégia paramilitar do Estado que sangra a Colômbia.

O país não sai do assombro perante o autismo da Promotoria, que prefere enterrar a sua cabeça na areia a fim de não empreender qualquer acção de responsabilidade penal contra as empresas Chiquita Brand – a mesma do massacre das bananeiras em 1928 –, a Drummond, Postobón, Brasilia, Carbones del Caribe..., denunciadas pelo chefe paramilitar Salvatore Mancuso como financiadoras do paramilitarismo. O mesmo cabecilha revelou que o massacre da Gabarra, no qual foram assassinados 40 camponeses, perversamente atribuído à guerrilha a fim de desprestigiá-la, foi realmente executado pelos paramilitares, pelo exército e pela polícia.

A máscara caiu. A Uribe ronda-o insistente o fantasma de Fujimori, condenado no Peru a 25 anos de prisão por crimes de lesa humanidade. Prevê que os covardes assassinatos de civis não combatentes, estimulados pela insânia de mostrar a todo transe resultados com sangue da sua política fascista de segurança, não ficarão na impunidade. Clamam justiça ao céu o deslocamento forçado de mais de 4 milhões de camponeses, o despojamento das suas terras, as milhares de fossas comuns e a vinculação do presidente a massacres de cidadãos indefesos. O chefe paramilitar que denunciou a responsabilidade directa de Uribe no espantoso massacre de El Aro, Antioquia, acaba de se assassinado para satisfação do tirano do Palácio de Nariño. Ele sabe que, cedo ou tarde, terá que responder pelos seus crimes.

Deve ser revogado o mandato de um presidente que impôs o desonroso recorde de ter mais de 90% da sua bancada parlamentar vinculada ao processo da narco-parapolítica; que mantém como ministros de Estado delinquentes subornados; que utiliza o poder para enriquecer os seus filhos, que converte o serviço diplomático em refúgio de assassinos como o tantas vezes denunciado general Montoya, e que promove referendos inconstitucionais para perpetuar-se no poder como mecanismo de fuga à justiça. Uribe é um verdadeiro bandido que se ampara por trás da faixa presidencial.

Quantos problemas internacionais gerou a sua absurda pretensão de transnacionalizar a política fascista de segurança com a qual o governo da Colômbia arroga-se o direito de actuar extraterritorialmente no desenvolvimento da sua visão particular e da sua estratégia contra-insurgente, por cima dos povos e dos seus governantes, pisoteando a soberania das nações e desestabilizando a região, sempre apoiado pelo governo de Washington.

Quer incendiar o país indefinidamente com o fogo da guerra e da violação dos direitos humanos, aferrado à quimera do triunfo militar. Com inconsequência nega a existência do conflito político e social, mas coloca a sua ilusão enfermiça no Plano Patriota do Comando Sul do Exército dos Estados Unidos, crendo inutilmente que a inconformidade social pode ser abatida a tiros e a tecnologia militar de última geração.

Incrementar a base de força a mais de 450 mil efectivos por conta da maior ajuda militar dos gringos no hemisfério não o manterá no poder, porque assim o diz a experiência história e o bom senso. "Os povos que combateram pela liberdade exterminaram por fim os seus tiranos". Mas além disso um governo desprestigiado, atado à ilegitimidade e acossado pela crise do capitalismo mundial é um governo condenado ao fracasso.

A Colômbia de hoje não quer o guerreirismo ultramontano do governo. Quer soluções para o desemprego e a pobreza crescentes. Reclama o investimento social, sacrificado no altar da guerra. Pede educação, habitação, saúde, água potável, direitos trabalhistas, terra, estradas, electricidade, telefonia e comunicações, comércio de produtos, renacionalização das empresas que foram privatizadas, castigo da corrupção, soberania do povo, protecção do meio ambiente, democracia verdadeira, liberdade de opinião, libertação de presos políticos, fim à extradição irracional de nacionais que mantém de joelhos a soberania jurídica, informação veraz, relações internacionais de respeito recíproco entre as nações, integração e Pátria Grande, justiça social e paz.

Uribe tem, como o diabo à água benta, o clamor crescente dos que pedem paz, castigo aos crimes de Estado e novo governo. Por isso exige com angústia que o tema da paz seja proscrito do debate eleitoral que se avizinha. É a loucura e o absurdo transfigurados num mandatário que quer encadear o país aos seus ódios e ressentimentos. Ninguém poderá desligar de um projecto de nova sociedade e novo governo a paz a que anelam as maiorias nacionais. Ela é a bandeira que unirá os colombianos contra a tirania, a guerra e a injustiça.

Devemos estar todos alerta para impedir a manobra uribista de mudar o actual Registrador Nacional por um dos seus serventuários. A única esperança do guerreirismo desgrenhado perante o anseio das maiorias é a fraude. E é o que devemos impedir agora, uma vez que este foi amo e senhor das eleições de 2002 e de 2006. A reeleição de Uribe é um asqueroso monumento à fraude e ao roubo erguido pelo ex-director do DAS, Jorge Noguera, e pelo capo narco-paramilitar Jorge 40. Nas 4 milhões de assinaturas recolhidas pelos uribistas em favor do referendo com apoio de dinheiros de DMG estão estampadas as assinaturas de um milhão e meio de mortos. Isso é fraude e roubo.

Fraude à opinião pública é também a peregrina fábula da derrota militar da guerrilha, argumento falacioso, parente dos "falsos positivos", utilizado no fundo para justificar os terríveis desaforos do Estado contra a população civil. Como sempre quiseram com Manuel Marulanda Vélez, quiseram matar as FARC com os fuzis do desejo e o ensurdecedor matraquear das rotativas. Nenhuma guerrilha pode ser exterminada com disparos de tinta. Não há era do pós-conflito senão no sonho delirante do guerreirismo sem futuro de um regime em decadência.

Das montanhas da resistência, como temos vindo a fazer desde há 45 anos, convocamos os colombianos a mobilizarem-se resolutamente pela paz, a paz que nos negaram os santanderistas e o império washingtoniano quando mataram Bolívar e a Colômbia da unidade dos povos em 1830. O passado conta na construção da sociedade futura. Ninguém nos pode desligar do destinado assinalado pelo Libertador nas origens da República. A incitação do senador Álvaro Gómez Hurtado em princípios da década de 60 a submeter a sangue e fogo o que considerou "República Independente de Marquetalia" não foi suficiente para entender que os problemas nacionais não se solucionam através da violência do Estado. Há que construir uma Nova Colômbia sobre o sólido cimento da paz concertada.

O Grande Acordo Nacional Rumo à Paz deve ter como norte estratégico a formação de um novo governo que garanta ao povo "a maior soma de felicidade possível, a maior soma de garantias sociais e a maior soma de estabilidade política", como exigia o Libertador. Um governo patriótico, democrático, bolivariano, rumo ao socialismo, como assinala da Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia.

Como garantia de paz e de soberania nacional devemos erigir novas Forças Armadas compenetradas da doutrina militar bolivariana que inculca o amor ao povo e o ódio à tirania. Não devemos esquecer que o exército patriota foi o criador da Colômbia e da República nas fulgurantes vitórias de Boyacá e de Carabobo, e que seu comandante Bolíver definiu-o como "defensor da liberdade", acrescentando que "as suas glórias devem confundir-se com as da república, e sua ambição deve ficar satisfeita ao fazer a felicidade do seu país". Assim devem ser as novas Forças Armadas e estamos seguros de que muitos dos actuais oficiais sonham desempenhar esse papel.

Solidarizamo-nos com a luta justa das famílias dos soldados regulares que reclamam o direito e não serem obrigados a entrar em combate mortal com a guerrilha. A guerra que o governo nega para não reconhecer o carácter político da insurgência que luta pelo poder, apenas no mês de Março produziu 297 militares mortos e 340 feridos. Conclamamos aos soldadores a que não se deixem utilizar mais como carne de canhão defendendo interesses que não são os seus e sim de uma oligarquia podre e criminosa, insolidária, que muito pouco faz por eles se caem prisioneiros ou ficam mutilados. Estados seguros que os seus familiares também quiseram gritar ao governo, com o professor Moncayo, que os seus filhos não foram paridos para a guerra da oligarquia.

Para alcançar o objectivo da Colômbia Nova é necessário reorganizar o Estado na base da soberania do povo, tal como concebeu o Libertador em Angostura. Aos três ramos do poder público devemos acrescentar os poderes moral e eleitoral, instituindo a revogação do mandato em todas as instâncias de eleição popular. Não mais cópias de leis estrangeiras para resolver os nossos assuntos internos. Não mais sistema penal acusatório. Exigimos um novo governo que castigue exemplarmente a corrupção e feche espaços à impunidade, que proscreva a política neoliberal que causa nossas desgraças económicas e sociais. O país e o governo que sonhamos devem assegurar o controle dos ramos estratégicos, estimular a produção em suas diversas modalidades, fazer respeitar a nossa soberania sobre os recursos naturais. Tornar realidade a educação gratuita em todos os níveis, levar justiça ao campo com uma verdadeira reforma agrária que gere emprego e soberania alimentar e semear a infraestrutura do progresso nacional. Os contratos com as transnacionais que sejam lesivos para a Colômbia devem ser revistos, assim como os pactos militares, os tratados e convénios que manchem a nossa soberania devem ser anulados. Neste mesmo sentido o país não tem porque pagar a dívida externa naqueles empréstimos viciados de dolo em qualquer das suas fases. Solução não militar nem repressiva ao problema social da narco produção. A nossa política internacional deve reorientar-se rumo à integração solidária dos povos da Nossa América na Pátria Grande bolivariana, e o Socialismo.

A etapa definitiva da luta pela paz começou. O povo colombiano não pode afrouxar até que seja concretizado este direito.

Com Bolívar, com Manuel, com o povo, ao poder! Manuel vive na luta do povo colombiano.

Jurámos vencer e venceremos.

Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, Maio de 2009

Afegãos relatam a devastação causada por bombardeios americanos

Por Carlotta Gall e Taimoor Shah

Em Farah (Afeganistão)


O número de civis mortos pelos ataques aéreos norte-americanos na província de Farah na semana passada talvez nunca seja totalmente conhecido. Mas moradores do local, incluindo duas meninas que ainda se contorciam de dor por causa de queimaduras, descreveram uma devastação que as autoridades e trabalhadores de ajuda humanitária consideram o pior episódio em oito anos de guerra no Afeganistão.

Saiba mais sobre o Afeganistão

"Estávamos muito nervosas e com medo, e minha mãe falou: 'Venha, rápido; vamos sair daqui e ficar a salvo'", disse Tillah, 12, deitada na cama do hospital enquanto contava como as mulheres e crianças fugiram do bombardeio, escondendo-se num condomínio que depois foi atingido.

As bombas foram tão poderosas que desmembraram as pessoas atingidas.

Sobreviventes dizem que só conseguiram reunir pedaços de corpos.

Vários moradores disseram que não conseguiam distinguir os mortos e foram incapazes de encontrar alguns parentes.

Autoridades do governo acataram as listas manuscritas compiladas pelos moradores, que dão conta de 147 civis mor tos. Um grupo afegão independente de defesa dos direitos humanos estima o número de mortos em 117. Oficiais americanos dizem que os números são exagerados, mas ainda não divulgaram sua própria contagem.

A calamidade no vilarejo de Granai, a cerca de 30 quilômetros daqui, ilustra da forma mais terrível o teste do governo Obama, que enviou mais de 20 mil tropas adicionais para cá e apontou um novo comandante, o tenente general Stanley A. McChrystal, em busca de uma nova estratégia para combater a tenaz insurgência Taleban.

Bombardeios como este fizeram com que os afegãos se voltassem contra o governo apoiado pelos EUA e contra a presença militar estrangeira. Os acontecimentos em Granai levantaram mais uma vez questionamentos quanto à necessidade e eficácia dos bombardeios aéreos numa guerra de guerrilha, na qual os insurgentes deliberadamente se misturam à população civil para lutar e se esconder.

Os insurgentes do Taleban co nhecem bem essas fraquezas e estão se aproveitando ao máximo delas, dizem autoridades americanas e afegãs. Farah, uma vasta província no oeste do país, conta com apenas um pequeno número de forças especiais estrangeiras e oficiais responsáveis por treinar a polícia afegã e unidades do Exército. Explorando essa escassez de forças, os insurgentes tentaram tomar o controle de Granai e desencadearam uma batalha violenta sobre as cabeças da população civil, dizem oficiais afegãos e americanos.

Depois de horas de luta e algumas mortes, as forças norte-americanas usaram sua arma mais poderosa, os ataques aéreos, em pelo menos três alvos no vilarejo.

O rápido enterro coletivo das vítimas e a presença contínua de insurgentes na área obstruíram as investigações. Os jornalistas foram aconselhados a não visitarem Granai. Moradores foram entrevistados pela reportagem em Farah, capital da província, onde vieram receber indenizações, e n a província vizinha de Herat, onde alguns foram levados para hospitais.

A maioria das descrições dos moradores corresponde aos relatos do porta-voz militar dos EUA, coronel Greg Julian, e ao depoimento do chefe de polícia provincial, coronel Watandar. Mas diferem num ponto

importante: se o Taleban já havia ou não deixado Granai antes do começo do bombardeio.

Os moradores ficaram especialmente enraivecidos com o fato de que o bombardeio aconteceu depois que o Taleban já havia deixado a área ao entardecer e a batalha já havia terminado, dizem, tanto que os homens haviam saído para fazer suas orações noturnas às 19h e voltado, e estavam jantando com suas famílias.

O chefe de polícia disse que o combate esporádico continuou durante a noite e que o Taleban ficou no vilarejo provavelmente até a 1h da manhã.

Qualquer que seja o caso, os aviões americanos bombardearam o vilarejo várias vezes depois das 20h, quando a maioria dos moradores achava que o combate já havia terminado, e qualquer que seja o número real de mortos, está claro a partir dos relatos dos moradores que dezenas de mulheres e crianças morreram depois de se esconderem.

Um grupo foi para a ampla residência de um homem chamado Said Naeem, no lado norte do vilarejo, onde as duas meninas foram feridas. Apenas uma mulher e seis crianças que estavam no local sobreviveram, disse um dos pais.

Outro grupo se reuniu na casa do imã [líder religioso] do vilarejo, Mullah Manan. O local também foi bombardeado, resultando num número de mortos equivalente, dizem os moradores. As enormes explosões deixaram uma devastação tão grande que os moradores tiveram dificuldades de descrever. "Havia pernas, ombros, mãos", disse Said Jamal, um homem de barbas brancas e olhos úmidos, que perdeu dois filhos e uma filha.

"Foram muitos mortos."

Uma delegação conjunta do governo afegão e milita res americanos visitou Granai na semana passada, mas voltou bastante dividida quanto às suas conclusões. O governo afegão disse que 147 civis morreram e 25 ficaram feridos, e que 12 casas foram destruídas.

Os militares americanos disseram que os números afegãos eram altos demais. Esta semana, um investigador sênior do Exército, o brigadeiro general Ray Thomas, chegou ao local para conduzir uma investigação profunda para o comandante militar geral da região, o general David.

H. Petraeus.

A organização afegã independente Afghanistan Rights Monitor disse na quarta-feira que pelo menos 117 civis morreram - incluindo 26 mulheres e 61 crianças - a partir de entrevistas com 21 moradores e parentes dos mortos. O grupo criticou tanto o Taleban, por lutar entre os civis, quanto o exército dos EUA, por usar uma força excessiva.

O chefe de polícia, Watandar, confirmou a maior parte dos relatos dos moradores sobre o combate. Um gran de grupo de guerrilheiros do Taleban, estimado em cerca de 400 homens, entrou no vilarejo e tomou posições na manhã de 4 de maio. Na metade da manhã, o Taleban começou a atacar os postos de polícia na rua principal, a poucos metros do vilarejo, dizem.

O combate durou o dia todo. A polícia pediu reforço a unidades do exército afegão e a uma força de reação rápida americana da cidade de Farah.

No meio da tarde, a troca de fogo aumentou drasticamente e deslocou-se para dentro do vilarejo. Os guerrilheiros do Taleban atiravam de dentro das casas, e em determinado momento uma unidade americana pediu ataques aéreos, para que os soldados pudessem avançar e resgatar um soldado afegão ferido, disse Julian, porta-voz militar dos EUA. Depois disso, o ataque do Taleban ficou bastante reduzido, disse.

Um morador chamado Multan disse que uma casa no extremo sul do vilarejo foi atingida por uma bomba e que um guerrilheiro Taleban morreu lá . Mas os moradores não relataram nenhuma morte de civis até o bombardeio americano à noite.

A menina Tillah, de 12 anos, cujo rosto carrega as cicatrizes da explosão, ainda reclama da queimadura em sua perna no hospital provincial de Herat, para onde ela e outros sobreviventes foram levados a uma ala especial de queimados. Suas duas irmãs, Freshta, 5, e Nuria, 7, mal podiam ser vistas sob as bandagens enroladas em suas cabeças e membros.

As três meninas visitavam a casa da tia com a mãe, quando um avião bombardeou uma mesquita próxima, por volta das 20h, disse Tillah. Foi então que elas fugiram para a casa de sete cômodos de Said Naeem.

"Quando chegamos lá, nos sentimos a salvo, e eu dormi", disse Tillah.

Ela disse que ouviu o zumbido do avião, mas depois só se lembra de quando a retiraram dos escombros na manhã seguinte.

Outra menina, Nazo, 9, ao lado dela, em outra cama do hospital, disse que viu dois flashes vermelhos no quintal que fizeram a poeira levantar logo antes da explosão.

"Eu ouvi uma explosão barulhenta, e o prédio começou a queimar e o teto caiu", disse. Sete integrantes da família que estava com ela morreram, e quatro ficaram feridos, disse o pai dela, Said Malham.

"Por que eles atacam o Taleban dentro do vilarejo?", perguntou ele com raiva. "Por que não os bombardeiam quando estão fora do vilarejo?"

"Os estrangeiros são culpados", continuou. "Por que não bombardeiam seus próprios alvos, em vez de vir aqui bombardear nossas casas?"

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Por trás da CPI, AEPET vê interesses em privatizar a Petrobrás

A Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) vem manifestar seu veemente repúdio às sucessivas tentativas, perpetradas freqüentemente por diversas origens, de manchar a imagem da Petrobrás, orgulho da nação brasileira, líder mundial na tecnologia de exploração em águas profundas e ultra profundas, descobridora do pré-sal, entre inúmeros outros premiados feitos realizados a partir da instituição da Lei 2004/53 (Lei do Petróleo).

Com base nos objetivos de sua existência, definidos no artigo 3º dos seus Estatutos, a AEPET é respeitada nacional e internacionalmente pela intransigente defesa do monopólio estatal do petróleo e da Petrobrás como sua executora, capaz de levar a bom termo a exploração do óleo e gás que repousam no subsolo nacional. A AEPET defende, também, de forma firme e decisiva, o corpo técnico da empresa, também reconhecido internacionalmente, mas que vem sofrendo com os diversos ataques à Petrobrás e aos seus direitos trabalhistas conquistados.

Devido à magnitude dessas tarefas, a AEPET tem procurado sempre cumpri-las irmanada com outras entidades do setor petrolífero e da sociedade brasileira, independentemente de orientação político-partidária, de crença religiosa ou não, de raça, de ideologia, pois a Petrobrás é de todos os brasileiros, assim como o petróleo e o gás. A Associação procura levar estas tarefas de forma firme, sem ataques pessoais, e sim na crítica às teses em confronto. No repúdio aos leilões da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), por exemplo, a AEPET criticou veementemente diversas autoridades e personalidades pela continuidade da entrega de nossas áreas de petróleo e gás, mas sem atingir as pessoas responsáveis por tais procedimentos.

A AEPET entende que uma empresa, de investimentos bilionários para a nação, considerada pela Reputation Institute (RI) a quarta mais prestigiosa do mundo, não pode ser tratada com desrespeito, como vem sendo feito nos últimos meses, culminando na criação da chamada CPI da Petrobrás. Foi também considerada pelo Goldman Sachs entre as 10 empresas mais viáveis do planeta. As consequências negativas podem ser proporcionais à importância da estatal, inclusive enfraquecendo-a como exploradora e operadora do pré-sal.

A AEPET não é - e nunca foi - contrária à criação de CPIs, isentas, bem fundamentadas e debatidas e que, acima de tudo, sejam de relevância para o Brasil e seu povo. No entanto, na medida em que aumenta o debate na sociedade sobre a denominada CPI da Petrobrás, saltam aos olhos os contornos de uma batalha político-eleitoral da oposição contra o governo, o que não ajuda em nada na defesa dos interesses maiores da nação e do povo em geral e especificamente no setor petrolífero.

O fato de os senadores não estarem dispostos a ouvir a Petrobrás, antes de se decidir por uma CPI, nos leva a crer que os entusiastas daquela Comissão de Inquérito querem os "holofotes" da mídia e a criação de um "palanque eleitoral", em detrimento de apuração séria e imparcial dos fatos. Uma CPI só se instaura quando se esgotam outros meios de se chegar à verdade, o que não foi o caso. Acusaram a Petrobrás, entre outras coisas, de sonegar impostos e não lhes deram o direito prévio de se defender, de esclarecer a sua posição.

A Petrobrás divulgou em seu portal na internet e através da Agência Petrobrás de Notícias, a nota intitulada "Petrobrás esclarece sobre pagamentos e compensação de tributos", também disponível no portal da AEPET, com exaustivas, claras e didáticas explicações sobre o direito legal da empresa (Medida Provisória 2.158-35/2001, que objetiva neutralizar o impacto das variações cambiais no pagamento de tributos federais) de procurar escolher a melhor forma de recolher impostos. Tal medida é muito compreensível hoje, tendo em vista os desequilíbrios da crise global.

Mas parece que os senadores (oposicionistas) puseram vendas nos olhos e não tiveram interesse em olhar para o direito da Petrobrás. Essa é uma atitude equivocada, que não dignifica o Congresso junto à sociedade brasileira. É dever dos parlamentares ouvir todos e esgotar discussões antes de decidir por atitudes extremas, como é o caso de uma CPI.

Na visão da AEPET, esse acontecimento, aliado aos diversos óbices promovidos pelos lobistas privados nacionais e internacionais contra a Petrobrás, têm como objetivo inviabilizar as mudanças necessárias na Lei 9478/97, para que prevaleçam os interesses do Brasil na exploração do pré-sal. Basta olharmos para os promotores da CPI, para concluirmos que visam levar a termo (em algum momento) a privatização, de fato, da Petrobrás, como sonharam em passado não muito distante, e foram derrotados.

O presidente da AEPET, Fernando Leite Siqueira, tem destacado em diversas palestras pelo país e em entrevistas à imprensa que o partido dos autores da CPI foi o responsável pela quebra do monopólio estatal do petróleo, bem como da venda de mais de um terço das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova Iorque, por valor menor que 10% do seu valor real.

No governo FHC foi instituída uma política econômica contrária aos interesses nacionais, que resultou em três crises e sucessivos empréstimos ao FMI. No desespero, o referido governo comprometeu nossas riquezas na assinatura de uma Carta de Intenção, o que, segundo a imprensa, se comprometeu a privatizar a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Para concluir, citemos um exemplo bastante recente no cenário internacional, que atesta o prestígio da Petrobrás: durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China, entre os dias 17 e 20 de maio, diversos acordos comerciais esbarraram em algumas pendências. No entanto, os chineses foram rápidos em fechar acordos bilionários que envolviam a Petrobrás.

Assim a AEPET vem a público repudiar a criação da chamada CPI da Petrobrás, reafirmar seu compromisso em defesa do monopólio estatal do petróleo, da Petrobrás como sua executora, a exemplo do que ocorre nas diversas nações detentoras de grandes reservas petrolíferas, por mudanças urgentes na Lei 9478/97, pelo fim dos leilões da ANP e pela exploração do pré-sal visando exclusivamente os interesses do Brasil e dos brasileiros.

"O petróleo tem que ser nosso!"

Diretoria da AEPET - Associação dos Engenheiros da Petrobrás.

Manuel Marulanda vive!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO (A PETROBRÁS NO CENTRO DA DISPUTA POLÍTICA)

Nota Política do PCB

As possibilidades que se abrem para o Brasil com as descobertas na camada do pré-sal acirram a luta de classes em nosso país, colocando a Petrobrás no centro de uma disputa política que, para além da preocupação das elites com o calendário eleitoral de 2010, envolve a definição do papel do Estado brasileiro e de a quem ele deve servir: aos trabalhadores ou à burguesia?

Lamentavelmente, o governo Lula manteve, no fundamental, o marco regulatório da exploração do petróleo herdado do governo FHC: a famigerada ANP e seus leilões abertos às multinacionais; 62% das ações da empresa vendidas em bolsas de valores, inclusive na de Nova Iorque.

Na sua opção pela governabilidade conservadora, em detrimento da mobilização popular, capitulou frente aos interesses do grande capital e tornou-se refém do jogo parlamentar burguês, sobretudo do PMDB, de que depende para tudo, até para a vitória de sua candidata à própria sucessão. Com sua cumplicidade, vemos hoje José Sarney e Michel Temer comandando o Congresso Nacional!

Só com mais de seis anos de mandato, quando surgem as possibilidades do pré-sal - no contexto de uma crise global do capitalismo -, é que Lula parece acordar para a necessidade de preservar o que ainda pode restar do mais valioso patrimônio nacional, que são nossas reservas de petróleo.

Ao invés de usar o respaldo que lhe daria o povo brasileiro para adotar atitudes firmes no caminho da reestatização da Petrobrás, nosso Presidente certamente optará pela criação de uma nova estatal para gerir apenas o pré-sal, num formato em que o Estado brasileiro cobra um percentual sobre a exploração do petróleo e a parte do leão fica para as concessionárias: a Petrobrás 38% estatal e empresas privadas, entre multinacionais e algumas de origem nacional, que certamente também se locupletarão neste jogo de cartas marcadas.

É neste quadro que surge esta cínica CPI convocada pela oposição de direita, formada exatamente por aqueles que implantaram este modelo antinacional e corrupto por sua natureza, mantido por Lula.

A oposição de esquerda ao governo não pode se iludir com esta CPI da direita, muito menos se aproveitar dela, por oportunismo político. Seus objetivos, para além do aspecto eleitoral, são claros. Trata-se de fragilizar a Petrobrás para tentar barrar a luta pela reestatização do petróleo, abrindo espaço para mais privatização e internacionalização do setor.

A esquerda como um todo também não pode se iludir com a movimentação de Lula, por mais que possa ser ou parecer bem intencionada. Ainda mais agora com a jogada política da CPI da direita, que o bota na defensiva e o encurrala no único campo institucional pantanoso em que se movimenta.

Com um governo de centro e uma CPI da oposição de direita, a única possibilidade de prosperar a campanha pela reestatização da Petrobrás é a mobilização do povo brasileiro. E as condições estão dadas. Numa Plenária Nacional na semana passada, com a presença das mais variadas organizações políticas e sociais do campo da esquerda - em que o PCB e o MST jogaram papel importante -, conseguimos unificar o título da campanha (O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO), as bandeiras políticas e as formas de luta, dentre as quais se destacam um abaixo assinado dirigido ao Congresso Nacional e à Presidência da República e jornadas nacionais de luta.

Não há mais tempo a perder. Conclamamos todas as organizações e todos os militantes antiimperialistas a organizarmos de imediato Comitês Estaduais O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO, amplos e unitários, em todo o Brasil.

  • REESTATIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DA PETROBRÁS;
  • RESTABELECIMENTO DO MONOPÓLIO ESTATAL DO PETRÓLEO;
  • FIM DOS LEILÕES ENTREGUISTAS DA ANP;
  • DESTINAÇÃO SOCIAL DOS LUCROS DO PETRÓLEO.

Rio de Janeiro, 20 de maio de 2009

Comissão Política Nacional

PCB – PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO

Está morto o poeta, MAS VIVA A SUA POESIA! VIVA MARIO BENEDETTI!


Te quiero

Tus manos son mi caricia,
mis acordes cotidianos;
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia.

Si te quiero es porque sos
mi amor, mi cómplice, y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada;
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro.

Tu boca que es tuya y mía,
Tu boca no se equivoca;
te quiero por que tu boca
sabe gritar rebeldía.

Si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

Y por tu rostro sincero.
Y tu paso vagabundo.
Y tu llanto por el mundo.
Porque sos pueblo te quiero.

Y porque amor no es aurora,
ni cándida moraleja,
y porque somos pareja
que sabe que no está sola.

Te quiero en mi paraíso;
es decir, que en mi país
la gente vive feliz
aunque no tenga permiso.

Si te quiero es por que sos
mi amor, mi cómplice y todo.
Y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poemas de Mario Benedetti

POR QUE CANTAMOS

Si cada hora viene con su muerte

si el tiempo es una cueva de ladrones

los aires ya no son los buenos aires

la vida es nada más que un blanco móvil

usted preguntará por qué cantamos

si nuestros bravos quedan sin abrazo

la patria se nos muere de tristeza

y el corazón del hombre se hace añicos

antes aún que explote la vergüenza

usted preguntará por qué cantamos

si estamos lejos como un horizonte

si allá quedaron árbores y cielo

si cada noche es siempre alguna ausencia

y cada despertar un desencuentro

usted preguntará por qué cantamos

cantamos porque el río está sonando

y cuando suena el río / suena el río

cantamos porque el cruel no tiene nombre

y en cambio tiene nombre su destino

(De Retratos y Canciones)


DESINFORMÉMONOS

Desinformémonos hermanos
tan objetivamente como podamos

desinformémonos con unción
y sobre todo
con disciplina

que espléndido que tus vastas praderas
patriota del poder
sean efectivamente productivas

desinformémonos
qué lindo que tu riqueza no nos empobrezca
y tu dádiva llueva sobre nosotros pecadores
qué bueno que se anuncie tiempo seco

desinformémonos
proclamemos al mundo la mentidad y la verdira

desinformémonos
nuestro salario bandoneón se desarruga
y si se encoge eructa quedamente
como un batracio demócrata y saciado

desinformémonos y basta
de pedir pan y techo para el mísero
ya que sabemos que el pan engorda
y que soñando al raso
se entonan los pulmones

desinformémonos y basta
de paros antihigiénicos que provocan
erisipelas y redundancias
en los discursos del mismísimo

basta de huelgas infecto contagiosas
cuya razón es la desidia
tan subversiva como fétida

garanticemos de una vez por todas
que el hijo del patrón gane su pan
con el sudor de nuestra pereza

desinformémonos
pero también desinformemos

verbigracia
tiranos no tembléis
por qué temer al pueblo
si queda a mano el delirium tremens

gustad sin pánico vuestro scotch
y dadnos la cocacola nuestra de cada día

desinformémonos
pero también desinformemos

amemos al prójimo oligarca
como a nosotros laburantes

desinformémonos hermanos
hasta que el cuerpo aguante
y cuando ya no aguante
entonces decidámonos
carajo decidámonos
y revolucionémonos.



Morreu no Uruguai o poeta revolucionário Mario Benedetti (18/05)

O premiado autor Mario Benedetti, um escritor cujos romances e poemas refletem a idiossincrasia da classe média e um compromisso social forjado em anos de exílio, morreu ontem. Benedetti tinha 88 anos e estava em sua casa, em Montevidéu, confirmou seu secretário pessoal Ariel Silva. O autor sofria de problemas respiratórios e intestinais há mais de um ano. Em 6 de maio, foi liberado do hospital. Em sua extensa produção de mais de 60 obras literárias, Benedetti trabalhou em vários gêneros e inclusive compôs canções.

Em 1999, o autor obteve o prêmio "Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana", entre várias outras distinções. Entre seus romances estão "A trégua" (1960). Benedetti surgiu em meio ao chamado "boom" do romance latino-americano, acompanhado do colombiano Gabriel García Márquez, do argentino Julio Cortázar, do peruano Mario Vargas Llosa e do mexicano Carlos Fuentes, entre outros. "Não creio que tenhamos que falar de perda, porque seguirá sempre conosco", disse a ministra da Educação e da Cultura uruguaia, María Simon, logo após saber da notícia.

De esquerda, Benedetti era um defensor da revolução cubana e manteve inalterada sua adesão ao líder cubano Fidel Castro. Benedetti era viúvo e não deixa filhos. Nascido em 14 de setembro de 1920, na cidade de Paso de los Toros, departamento (Estado) de Tacuarembó, Benedetti exilou-se durante a ditadura uruguaia, em 1973, quando viveu em Buenos Aires, Lima, Havana e Madri.

Fonte: Agencia Estado - AE-AP



segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vamos assinar o Brasil de Fato!


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Uma visão popular do Brasil e do mundo.

O jornal Brasil de Fato foi lançado no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 25 de janeiro de 2003. Circula semanalmente e tem como objetivos: expressar e debater a visão da esquerda sobre os fatos e a realidade nacional e internacional; estimular a solidariedade internacional entre os povos; ser plural sem dependência a correntes partidárias; ser profundamente comprometido com os interesses do povo brasileiro visando a construção de uma sociedade justa e solidária; subsidiar, com informação e reflexão, a militância social e as pessoas que querem mudanças; estimular as lutas sociais e os movimentos de massa; promover os valores humanistas e socialistas; ter como referencial político a necessidade de um Projeto Popular para o Brasil.

Nestes seis anos do Brasil de Fato, sua caminhada viveu as contradições existentes no seio da esquerda, refletindo nossos limites, altos e baixos na perspectiva de uma unidade a ser consolidada.

Neste momento de crise do capital, se propõe a ser uma ferramenta de comunicação popular para disputar a contra-informaçã o e a hegemonia da ideologia dominante, com uma visão crítica, a partir da classe trabalhadora.

Sua importância é mais do que clara: é um instrumento de circulação nacional, unitário, que temos à mão para disputar a hegemonia da informação e do debate. Sabemos do seu poder para convencer milhões da necessidade de combatermos a violência de estado, a criminalização dos movimentos sociais e a vontade do capital de expropriar nossas riquezas e fazer com que os trabalhadores paguem cada vez mais pela crise.

Mas, para isso, é importante fortalecer o jornal, em dois aspectos: na sua massificação e na sua sustentação. Assim como a maioria dos instrumentos de esquerda, o Brasil de Fato também passa por dificuldades. Assim, estamos propondo uma grande CAMPANHA DE ASSINATURAS, com o objetivo de fortalecer um instrumento de esquerda, da classe trabalhadora, que possa contribuir nas lutas e na construção de saídas populares e dignas para a nossa sociedade.