sábado, 31 de janeiro de 2009

Polícia pernambucana ataca covardemente estudantes

Polícia para quem precisa de polícia - por Roberto Numeriano

Mais uma vez, a Polícia Militar de Pernambuco prende e arrebenta estudantes em protesto contra mais um (abusivo) aumento do preço das passagens. Ao mesmo tempo, os policiais (leia-se praças, cabos e sargentos, além de oficiais de baixa patente) sofrem com baixos salários e condições de vida indignas para quem tem como papel defender a segurança do cidadão. Nesta condição, suas palavras de ordem são por direitos trabalhistas e salários decentes.

Onde está a contradição? Por que o mesmo policial que bate em estudantes quer ser reconhecido como um cidadão que sofre com salários indecentes? Por que ele quer apoio da sociedade civil às suas demandas? Por que eles elegem seus colegas de farda para pressionarem o Governo Estadual pela via parlamentar?

Em primeiro lugar, esses policiais que obedecem à ordem de reprimir manifestações são produtos das contradições sociais do próprio sistema sociopolítico que estão obrigados a defender. Conhecem a miséria e seus efeitos numa cidade como a do Recife, sofrem na pele a miséria de um salário que a avilta a dignidade da farda e do papel institucional da PM, mas são chamados a reprimir aqueles que protestam contra a miséria desse mesmo sistema.

Já imaginaram a situação de um pai policial ser designado para conter a manifestação de estudantes e entre estes ele vê o próprio filho? E então? Ele vai bater no filho que, no mínimo, está garantindo um dinheiro a mais em casa, se o aumento da passagem cair ou ficar num percentual menor? Ele vai decidir pelo pão ou pelo cassetete da ordem política, econômica e social que avilta seu salário e a qualidade de vida de sua família? Se houver por aí algum policial que afirmar decidir espancar o filho, estará mentindo. Ou precisa de apoio psicológico.

Não queiram interpretar, a partir de nossa crítica, que estamos propondo à corporação deixar de cumprir seu mister, que é manter a ordem pública. Mas estamos, sim, criticando sem meios termos e eufemismos o fato de essa polícia ser despreparada para conter distúrbios sociais, do mesmo modo como está perdendo o combate contra o crime, a despeito da seriedade com que a maioria da corporação (de praças a oficiais) enfrenta a criminalidade em todas as suas dimensões.

È despreparada porque aplica métodos que são menos dissuasivos que repressivos, além de enxergar, predominantemente, os movimentos sociais a partir de uma perspectiva criminalizante. A nossa polícia reflete, no limite, o Estado brasileiro que muitas vezes vê a organização popular e social como um caso de... polícia.

Temos 350 mil desempregados no Recife. Terão que andar a pé para garantirem o dinheiro que restar para o pão, enquanto procuram um emprego. Já pensou se esses milhares de jovens, homens e mulheres saíssem às ruas do Recife para protestar contra o aumento das passagens?

Polícia para quem precisa de polícia...

Roberto Numeriano é membro da direção estadual do PCB de Pernambuco.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A ESCANDALOSA OPERAÇÃO DE SALVAMENTO DO GRUPO VOTORANTIM (Nota política do PCB)

O governo brasileiro vem agindo diante da crise mundial do capitalismo, exatamente da mesma maneira que os demais governos burgueses. Até agora, todas as medidas adotadas foram para beneficiar o capital. Para os trabalhadores, só demissões e ameaças de perdas de direitos.

O governo queima dinheiro público (financiamentos generosos, renúncia fiscal etc.) para manter empresas privadas ameaçadas de falência, sem exigir nem ao menos a contrapartida de que mantenham empregos. Por exemplo, o setor de bebidas e alimentos, maior beneficiário de recursos do BNDES nos últimos meses, foi o que mais demitiu no período. A melhor solução seria o setor público assumir o controle destas empresas, em parceria com os trabalhadores, o que permitiria um melhor controle da economia, a manutenção e a criação de empregos e o barateamento dos preços dos produtos básicos ao consumidor.

A chamada MP dos Bancos Federais é uma vergonha. O governo obriga o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal a comprarem ativos podres, acima do preço de mercado, comprometendo a saúde e o futuro desses bancos públicos e deturpando seus objetivos, que deveriam ser sociais. Os exemplos da Nossa Caixa e do Banco Votorantim são emblemáticos. Se fossem bons negócios, não precisa a MP, pois algum banco particular os compraria.

O caso do Banco Votorantim, em particular, é criminoso, um escândalo nacional. Recursos públicos foram usados para salvar capitalistas que perderam no cassino dos derivativos. Pagando um preço que daria para comprar quase o Banco todo, o Banco do Brasil adquiriu apenas 49% da instituição, que é para a família Ermírio de Moraes continuar no comando, com o controle acionário.

Como se não bastasse, o BNDES concedeu R$2,4 bilhões para a Votorantim Papel e Celulose comprar ações da Aracruz Celulose, que estava endividada. O governo federal, ao invés de implantar a reforma agrária nas terras em que a Aracruz criou um deserto verde, favorece um setor (plantação de pínus e eucalipto) que, além de gerar pouco emprego, destrói o meio ambiente.

O Brasil precisa conhecer o que está por trás destas nebulosas transações. É fundamental alguma iniciativa parlamentar, com respaldo popular, no sentido de criar uma CPI dos Bancos Públicos ou, pelo menos, da convocação do Ministro da Fazenda para um depoimento público a respeito. Outra medida que se impõe é a revelação da vasta lista de políticos que recebem dinheiro do Grupo Votorantim, um dos maiores financiadores de campanhas eleitorais.

Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
Janeiro de 2009

O uso de fósforo branco: Israel usou novas e terríveis armas em Gaza.



De pés descalços e com a cabeça coberta, com as longas vestes que lambem a água, as mulheres da família Abu Halima procuram apagar os sinais da devastação que se abateu sobre a sua casa em Beit Lahiya. Cada centímetro de pavimento, cada palmo de parede foram limpos com vassouras, escovas e quilos de detergente, mas o cheiro que invade as salas resiste mesmo ao vento que irrompe das janelas sem venezianas. O odor nauseante, dizem os especialistas, do fósforo branco.

Alberto Stabile – La Repubblica, 26/01/2009. Tradução: Moisés Sbardelotto.

Sobre o uso dessa substância, não proibida se utilizada em campo aberto, mas ilegal se usada contra as pessoas ou em ambientes densamente habitados, o exército anunciou a abertura de uma pesquisa, afirmando, porém, ter agido sempre no âmbito da legalidade. A Anistia Internacional, ao invés, declarou possuir "provas indiscutíveis" que Tsahal tenha utilizado explosivos de fósforo de modo indiscriminado. Por isso a acusação de ter cometido "crimes de guerra".

O governo israelense reagiu logo e, depois de ter imposto a censura sobre os nomes de soldados e oficiais envolvidos na operação, anunciou ontem ter aprovado um escudo legal de proteção em favor dos militares israelenses no caso de serem chamados a responder por terem cometido violações dos direitos humanos por qualquer tribunal estrangeiro. "Israel – disse Olmert – dará pleno apoio aos comandantes e aos soldados que foram mandados a Gaza, assim como eles nos protegeram com os seus corpos durante a operação". O ministro da Defesa, além de um grupo de advogados, farão parte desse "guarda-chuva" de proteção.

Omar Abu Halima, 18 anos, um dos filhos de Sabah e Sadallah Abu Halima, conta aquela tarde de inferno. Os tanques israelenses estavam a uma centena de metros da casa de família de três pisos que surge, alinhada a outras quatro ou cinco casas das mesmas dimensões, na zona chamado Atara, onde termina a zona urbana de Beit Lahiya e começam as serras e os campos cultivados. Zona de morangos e cítricos, mas também, aqui e ali, dada a vizinhança com a fronteira israelense, de lançamentos do Qassam.

"Eu estava na casa ao lado, de um tio meu, quando sentimos três ou quatro explosões, uma depois da outra. Caí no chão. A nossa casa estava envolvida por uma fumaça densa e branca que não deixava respirar e pelas chamas. Saí ao segundo piso e vi minha mãe envolvida pelo fogo. No corredor, estavam os meus irmãos Abed de 14 anos, Said de 10, Hamza de 8, abraçados ao meu pai Sadallah, de 45 anos. Queimavam. Hamza dizia: quero rezar, quero rezar, mas logo depois morreu. Os outros já estavam mortos. Meu pai não tinha mais a cabeça". No departamento de queimados do hospital Shifa, onde Sabah Abu Halima, a mãe, também de 45 anos, se recuperou, o médico geral Nafez al Shaban, formado em Glasgow, especializado nos Estados Unidos, está certo de que o que provocou as queimaduras sofridas pela mulher e pelos outros feridos foi o fósforo. Ele relata que se encontrou pela primeira vez na sua carreira frente a feridas que continuavam queimando, mesmo depois de horas, emanavam um odor insuportável e sobretudo resistiam ao tratamento normal de cirurgia plástica. "Tanto que – diz –, pela sugestão de colegas jordanianos e egípcios que tiveram experiências semelhantes no Líbano, tivemos que amputar".

Uma tragédia na tragédia é representada pela falta de socorro, seja no caso dos Abu Halima, como no caso da família Abd Rabbo, no vilarejo de Jabaliya (próximo do campo de refugiados homônimo). Em resumo, mortos e feridos da família Abu Halima foram colocados em dois carros e em um trator. O carro com os mortos, segundo o relato dos sobreviventes, bloqueado no primeiro posto de bloqueio israelense, foi virado de cabeça para baixo por um trator militar. Os cadáveres ficaram durante dias sobre o asfalto. Sabah Abu Halima, a mãe ferida, pôde chegar ao hospital em uma carroça puxada por um asno.

É inútil perguntar se no local havia milicianos do Hamas. "Aqui somos todos do Fatah – diz Osam, um vizinho que estava enquadrado na Autoridade Palestina e continua recebendo o salário do Ramallah. Se houvesse alguma coisa, teríamos ido embora". Mesmo que a pergunta: "Para onde iriam?" permaneça sem resposta.

Em Gaza, nestes dias, não se fala apenas de armas proibidas, mas também de armas desconhecidas, como o míssil que matou oito rapazes, três mulheres e cinco homens diante da Educational School da Unrwa, em pleno centro. Um explosivo que difunde uma chuva de estilhaços pequeníssimos, cortantes como navalhas, de forma quadrada, de dois ou três milímetros de largura como aqueles que brilham na contraluz na radiografia do braço ou do joelho de Adib al Rais, que se salvou porque estava dentro da loja. O míssil, no impacto, provocou um buracode dez centímetros de largura e de 30cm de profundidade no asfalto. Mas no muro a três metros de distâncias, nas portas de ferro do pequeno supermercado e nos corpos das vítimas, desferiu os fragmentos, grandes como confetes.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


"Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível"

Plínio Delphino

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da
'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas
enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado
sob esse critério, vira mera sombra social.


O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou
oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,
constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres
invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu
comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma
percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão
social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de
R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição
de sua vida:

'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode
significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o
pesquisador.

O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não
como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP
passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,
esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me
ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',
diz.

No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma
garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha
caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra
classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns
se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo
pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e
serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num
grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei
o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e
claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de
refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem
barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada,
parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:
'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi.
Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar
comigo, a contar piada, brincar.

O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí
eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo
andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na
biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei
em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse
trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O
meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da
cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,
não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a
situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se
aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar
por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse
passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

E quando você volta para casa, para seu mundo real?

Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está
inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito
que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses
homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa
deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.
Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são
tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo
nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.

Obama: o imperialismo de cara nova, de cara mais simpática

O segredo da vitória é o povo - por Walter Titz


Cidades arrasadas. Casas destruídas. Milhares de pessoas desabrigadas. Gustav e Ike, os dois furacões, deixaram profundas marcas em Cuba.
Algumas províncias estão irreconhecíveis. O país precisará ser reconstruído. Mas, acima de qualquer bem material, as vidas foram salvas. Apenas quatro mortes, e quase todas por imprudência, em uma catástrofe que cortou o país de ponta a ponta.

O maior bem humano, a própria vida, foi poupado e resguardado de todas as formas. O governo fez de tudo para que o povo não saísse sequer ferido desse desastre.

Aqui, na Escola Latino Americana de Medicina, a ELAM, enquanto ventos fortes ameaçavam invadir nossa forte estrutura humana, funcionários, e até o próprio reitor, mantinham-se firmes e com o sorriso no rosto para que nada pudesse nos preocupar, enquanto suas casas poderiam ser destruídas a qualquer momento. E, com efeito, nada aconteceu conosco, nem mesmo nossos objetos, protegidos em um guarda-valores, foram danificados; a força da ELAM nos impressionou, nenhuma estrutura abalada.

Nesse momento, o país está sendo reconstruído pelas mãos do próprio povo. Solidariedade, força e resistência, isso é Cuba. Aos povos amigos, aos povos latinos, cabe o dever, visto como solidário, de ajudar esta Ilha que tanto se preocupa com o futuro da América Latina, que tanto ajuda os povos vizinhos, vistos como irmãos, e ostenta com o orgulho a bandeira do Socialismo.


Aos Estados Unidos, por favor, não venham com falso altruísmo. O povo cubano sabe muito bem que um país que lhes impõem um bloqueio econômico terrorista não pode querer lhe ajudar, por isso quando Fidel rejeitou o apoio falou em nome do povo e deixou claro que se os Estados Unidos querem ajudar, então que dêem fim a essa política terrorista; como deixou claro que perderia o respeito ante os países que o apóiam se aceitasse essa ajuda indigna.

Cuba, por todas as suas atitudes, deixa expresso ao pé da letra aquilo que um dia o grande revolucionário Carlos Marighella falou: “o segredo da vitória é o povo”.


Walter Titz estudante da Escola Latino Americana de Medicina em Cuba (ELAM), faz algumas resenhas sobre os acontecimentos cotidianos de Cuba.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A PETROBRÁS E AS DIFERENÇAS ENTRE PCB E PCdoB

Esta nota política nem é muito recente, mas continua atual.

Muita gente faz confusão entre PCB e PCdoB, pois as siglas são parecidas e ambos têm a palavra comunista no nome. Uns pensam que é um só partido; outros trocam os nomes, quando a algum deles se referem. Além do mais, apesar de ter sido criado em 1962, o PCdoB insiste em comemorar a fundação do PCB, que se deu em 1922.

Temos sido bastante discretos no trato de nossas divergências, sobre o capitalismo brasileiro, a política de alianças, a prioridade de formas de luta, o tipo de partido. Nós os consideramos reformistas; mas não dizemos isso para ofender. É uma crítica. O PCB também já foi reformista, principalmente nos anos 80.

Nossas divergências foram se aprofundando, sobretudo a partir do início deste século. A rigor, nós é que mudamos. O PCB hoje não vê possibilidade de aliança com a chamada burguesia nacional, nem de humanizar o capitalismo, nem de transitar para o socialismo apenas pela via eleitoral.

Mas com o surgimento de grave denúncia sobre a ANP (Agência Nacional de Petróleo), cujo Diretor-Geral, Haroldo Lima, é Vice-Presidente nacional do PCdoB, não podemos nos furtar a esclarecer algumas diferenças. Até para não banalizar a palavra comunista e não macular a história do PCB.

A AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) acaba de denunciar que a multinacional norte-americana Halliburton administra o Banco de Dados de Exploração e Produção da ANP, sem ter passado por processo licitatório, como determina a lei. A Halliburton é uma empresa ligada a Dick Cheney, Vice-Presidente dos EUA, financiadora da campanha de Bush. É a empresa mais identificada em todo o mundo com o complexo industrial-militar norte-americano, com a CIA e com a agressão militar ao Iraque.

O incrível é que a multinacional tem acesso a todos os dados estratégicos de exploração e produção do nosso petróleo, resultado de décadas de pesquisas realizadas pela Petrobrás. O inimaginável é que a ANP ainda paga à multinacional R$600 mil por mês, a título de "prestação de serviços"!

A ANP é a agência que administra a privatização do nosso petróleo, através de leilões abertos a multinacionais. Um dos subordinados de Haroldo Lima na diretoria é Nelson Narciso – ex-gerente da subsidiária da Halliburton em Angola - que gerencia o Banco de Dados da agência, na Superintendência de Definição de Blocos que vão a leilão. Ou seja, a Halliburton é quem manda na ANP. Como diz a AEPET, é "a raposa ditando as regras do galinheiro".

O PCB (Partido Comunista Brasileiro) divulgou recentemente uma nota (em anexo), em que propõe uma intensa mobilização nacional pelo fim da ANP e dos leilões, pela volta do monopólio estatal do petróleo e pela REESTATIZAÇÃO DA PETROBRÁS.

Com a divulgação deste escandaloso crime de lesa-pátria, assume urgência a luta PELO FIM DA ANP, como parte do FIM DOS LEILÕES DO NOSSO PETRÓLEO.

COMITÊ CENTRAL DO PCB

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Bolivianos aprovam nova Constituição



Esta foi a primeira vez em 183 anos de vida republicana que os bolivianos são chamados a participar de um referendo constitucional

Por Fernanda Chaves e Marcelo Salles,
de La Paz (Bolívia)


Apesar de na Bolívia o resultado oficial ser divulgado apenas dentro de 10 dias, após recontagem oficial, o povo boliviano já comemora a vitória do "sim" no referendo constituicional realizado deste domingo (25). As pesquisas de boca de urna realizadas por emissoras de rádio e televisão privadas e estatais apontam para uma votação de 60% x 40% em favor do "sim".

Esta foi a primeira vez em 183 anos de vida republicana que os bolivianos são chamados a participar de um referendo sobre a Constituição. Nestes quase dois séculos foram convocados apenas 5 referendos, sendo dois deles (40%) pelo governo do presidente Evo Morales Ayma, que completou no último dia 22 três anos no Palácio Quemado.

Todas as organizações internacionais, juntamente com a Corte Eleitoral Nacional, confirmaram a lisura do processo eleitoral. Os observadores da OEA, Mercosul, Unasur e União Européia foram unânimes em afirmar que o referendo cumpriu com os padrões internacionais e as leis nacionais de maneira exitosa, tendo sido absolutamente respeitada a vontade do povo boliviano.

Logo após os resultados da boca de urna, os partidários do "sim" lotaram a Praça Murillo, no centro de La Paz, para comemorar. Da sacada do Palácio, o presidente Evo Morales se dirigiu à multidao e afirmou: "Aqui termina o Estado colonial. Acabou o colonialismo interno e externo. Aqui também terminou o neoliberalismo, assim como as riquezas naturais da Bolívia não serão mais propriedade de alguns senhores, mas de todo o povo boliviano".

Solidariedade à Cesare Battisti



Um bode expiatório conveniente à Itália

Maria Inês Nassif

Do Valor Econômico, de 22/01/2009

A história que resultou na condenação de Cesare Battisti à prisão perpétua pela justiça italiana em 1993 poderia ser o roteiro de um de seus romances policiais, se não tivesse transformado o próprio escritor num cavaleiro errante. Pelos fatos que levaram à sua condenação, o ministro da Justiça, Tarso Genro, certamente não cometeu nenhuma heresia ao conceder a Battisti o status de refugiado político. "Um dos fundamentos muito próximos do diferimento do refúgio político é de que se o condenado teve direito à defesa. O Estado italiano alega que sim. Na avaliação que nós fizemos do processo, ele não teve direito à ampla defesa", afirmou o ministro, justificando a sua decisão.

A autobiografia de Battisti, "Minha fuga sem fim", traz fatos em favor da convicção do ministro. Se o escritor for extraditado para a Itália, cumprirá prisão perpétua sem ter passado por um tribunal e pagará por quatro assassinatos que o bom senso não permite que sejam relacionados a ele. Nunca esteve num tribunal para defender-se dessas acusações - e, de volta à Itália, não será ouvido por nenhum juiz. A condenação foi feita com base na acusação de um ex-militante da mesma organização, um "arrependido" que negociou anos a menos na sua pena (muitos anos, aliás) em troca de incriminar outras pessoas. Não foi apresentada nenhuma prova, testemunha ou um único indício. Dois dos homicídios foram cometidos no mesmo 16 de fevereiro de 1979, a 500 km de distância um do outro. O outro foi o de um comandante de uma prisão, em junho de 1978. E, por fim, teria assassinado o policial Andrea Campagna, acusado de torturas. Nesse último caso, a testemunha ocular descreveu o agressor como um barbudo louro, medindo 1,90 m. Battisti é moreno e tem 1,70 m. Foram encontradas armas no apartamento onde o escritor vivia com outros italianos clandestinos, mas a própria polícia constatou que elas nunca haviam sido disparadas.

Segundo o livro de Battisti, a organização da qual fazia parte, o grupo dos PAC (Proletários Armados para o Comunismo), organizara-se no período de crítica ao stalinismo, era totalmente descentralizado e nada impedia que um punhado deles, em determinada região do país, fizesse ações e se assumisse como parte do grupo. Seria difícil, assim, que todos os que militavam nos grupos dispersos pela Itália se conhecessem.

Após maio de 1978, quando as Brigadas Vermelhas executaram Aldo Moro - relata - as organizações de esquerda (em geral) se apavoraram e mergulharam na discussão sobre a continuidade da luta armada. Os PAC refluíram para um princípio que já era um pé fora da luta armada (até então, diz Battisti, pelo menos no grupo que militava, as ações se resumiram a "apropriações" para manter os clandestinos; somente os quatro assassinatos que lhe foram imputados pela Justiça italiana foram atribuídos aos PAC). Mas, excessivamente descentralizado, um dos núcleos do grupo reivindicou o assassinato do comandante da prisão, no verão de 1978. Foi quando Battisti rompeu com o grupo. "Juntamente com parte dos militantes de primeira hora, naquele momento decidi virar a página e renunciar definitivamente à luta armada", diz, no livro. Isso quer dizer que, quando ocorreram os outros três assassinatos dos quais é acusado, ele sequer era militante do PAC.

O escritor foi preso na violenta repressão que sucedeu a morte do democrata-cristão Aldo Moro. No processo criminal, ninguém atribuiu a ele qualquer relação com a morte do comandante da prisão. Foi testemunha, todavia, de métodos pouco convencionais de interrogatório. Foi dessa época também a lei de delação premiada, que fez proliferar "arrependidos". Battisti conseguiu fugir com a ajuda daquele que, "arrependido" no futuro, jogaria sobre ele todas as culpas. Era Pietro Mutti.

Fora da prisão, Battisti recusou a proposta de aliança feita por Mutti, que comandava um tanto de jovens num grupo chamado Colp, que não se sabe o que significa. Mutti foi detido em 1982 - Battisti já estava longe, em Paris, depois de uma passagem pelo México. Nos "tribunais de exceção" italianos criados à época por leis especiais, Mutti, ameaçado de prisão perpétua, foi farto em acusar ex-companheiros de crimes. Especialmente Battisti. O escritor beneficiado pelo ministro Tarso Genro também foi acusado por outros integrantes do PAC, de tal forma que, de todos os envolvidos com o grupo, apenas ele foi condenado à prisão perpétua. Foram tantas as contradições resultantes desse jogo de se safar jogando a culpa no outro que o próprio tribunal de Milão, em decreto de 31 de março de 1993, reconheceu: "Esse arrependido (Mutti) é afeito a "jogos de prestidigitação" entre seus diferentes cúmplices, como quando introduz Battisti no assalto de Viale Fulvio Testi a fim de salvar Falcone, ou Battisti e Sebastiano Masala no lugar de Bitti e Marco Masala no assalto ao arsenal Tuttosport, ou ainda Lavazza ou Bergamin no lugar de Marco Masala nos dois assaltos veroneses" - segundo trecho citado pela escritora Fred Vargas no posfácio do livro.

Diante de tantas contradições e de tantos fatos mal explicados, inclusive um asilo revogado na França (depois de um atuante trabalho de lobby italiano), fica a dúvida de por que interessa tanto ao governo italiano coroar Cesare Battisti como o bode expiatório de um período negro na Itália, onde não apenas a luta armada enevoou o país, mas as instituições se ajustaram a uma guerra contra o terror usando métodos pouco afeitos à ordem democrática. Talvez reconhecer erros no processo que levou à condenação de Battisti tenha o poder de expor a falta de legitimidade de ações policiais e judiciais desse período difícil da Itália.



SOLIDARIEDADE A CESARE BATTISTI
(Nota Política do PCB)


O Partido Comunista Brasileiro (PCB) se solidariza com o cidadão italiano Cesare Battisti, diante da tentativa do governo neofascista de Berlusconi, mesmo sem qualquer prova, de usá-lo como um símbolo de uma campanha midiática supostamente "contra o terrorismo" que, em verdade, tem como objetivo satanizar e criminalizar as lutas populares de resistência anticapitalistas e antiimperialistas.

Temos chamado atenção para o fato de que, diante da crise sistêmica do capitalismo, a burguesia, em âmbito mundial, não hesitará em atentar contra as liberdades democráticas e em reprimir movimentos sociais e partidos do campo popular, para procurar saquear os patrimônios públicos, suprimir empregos e retirar direitos trabalhistas e sociais.

Na Itália de Berlusconi, o neofascismo criminaliza os imigrantes, isolando-os em verdadeiros campos de concentração, persegue os ciganos e coloca as forças armadas nas ruas, intimidando a população.

Cesare Battisti pode contar com o PCB em que tudo que estiver ao nosso alcance para libertá-lo da prisão a que foi submetido em Brasília e permanecer no Brasil, no país que o acolheu generosamente.

Por outro lado, não podemos deixar de reconhecer a firmeza com que, até o momento, se tem conduzido neste episódio o governo federal, não só respeitando a tradição brasileira de concessão do asilo político, como também não se curvando às inadmissíveis ingerências do governo italiano, em desrespeito à nossa soberania nacional.

Exigimos do Supremo Tribunal Federal que sequer entre no mérito da questão que lhe foi submetida, reconhecendo preliminarmente a competência do governo federal para tratar de assuntos inerentes às relações internacionais.

Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
Janeiro de 2009

sábado, 24 de janeiro de 2009

Poesia revolucionária

Para quando falarmos das guerras

Alipio Freire

Quando falarmos das guerras
sejamos contidos
A simples emoção só ampliará os conflitos.

Quando falarmos das guerras
baixemos o tom
milhões de filhos de trabalhadores e do povo morrem nas trincheiras
por causas que não são suas.

Quando falarmos das guerras
falemos com recato
Para não acordarmos os meninos que dormem
nas frentes de batalha.
Respeitemos seu último sono.

Quando falarmos das guerras
falemos com todo respeito
Para transformamos o desespero de mães, viúvas e órfãos
em gritos de paz.

Quando falarmos das guerras
não esqueçamos que o inimigo é a guerra
Os nossos únicos companheiros
são os povos.

Quando falarmos das guerras
falemos da igualdade entre os homens
Comecemos por apagar as fronteiras nacionais.

Quando falarmos das guerras
Lembremos que o inimigo alimenta os dois lados
É o capital.

Quando falarmos das guerras
Lembremos que só há uma trincheira legítima
A de nos negarmos a combater.

Quando falarmos das guerras
saquemos nossa melhor arma
A bandeira da paz e do socialismo.

Falar das guerras é o avesso
de falarmos da Revolução
Embora nossos companheiros e palavras-de- ordem
sejam sempre os mesmos.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

85 anos da morte de Lenin.

Está completando 85 anos da morte de Vladimir Ilich Lenin, líder da Revolução Russa (1917). Reproduzimos aqui a entrevista com Jean Salem, autor do livro "Lenin e a Revolução" (São Paulo: Editora Expressão Popular, 2008).



Filósofo francês, professor na Universidade de Sorbonne, em Paris, Jean Salem questiona a «história feita pelos vencedores», recusa a criminalização da militância comunista e da história do comunismo, realçando que ao longo de todo o século XX gerações de revolucionários dedicaram as suas vidas aos ideais do progresso da humanidade. No seu mais recente livro, Lénine e a Revolução, que será lançado no próximo dia 26, em Lisboa, pelas edições Avante!, o autor expõe seis teses que sintetizam e demonstram com clareza a actualidade do pensamento do grande revolucionário russo. Com este trabalho em pano de fundo, Jean Salem fala-nos da convicção de que «um dia tudo voltará a acontecer, as explosões sociais, a revolução».

Jornal Avante! - No final do seu livro afirma que «uma reabilitação muito mais do que parcial dos 70 anos de socialismo real acompanhará como condição necessária o ascenso do próximo movimento revolucionário». Peço-lhe que explique esta afirmação.

Quando me refiro à necessidade de «uma reabilitação muito mais do que parcial» não pretendo dizer que a revolução não será retomada enquanto não fizermos novas estátuas a Stáline, pois para isso seria preciso esperar muito tempo.

Mas, como num sistema de vasos comunicantes, se considerarmos que o stalinismo é algo de quase tão horrível, tão horrível ou muito mais horrível que o nazismo é obvio que isto constitui um extraordinário obstáculo, intransponível para o movimento revolucionário que desejaria apoiar-se na história moderna.

Se Robespierre é o diabo, se a revolução é uma violência insuportável por definição (estou a falar, sem o mencionar, de um romance que acaba de sair em França, que fala da desgraça de Louis XVII, herdeiro do trono, morto durante a insurreição revolucionária), se Belzebu é Stáline, se toda a história soviética é feita de crimes, se enfim acumulamos números totalmente grotescos que oscilam entre 60 e 140 milhões de vítimas do stalinismo – são números que têm circulado massivamente…

Jornal Avante! - Dir-se-ia que os soviéticos estiveram à beira da extinção!

Mas, no entanto, Soljenitsin afirma-o no seu livro Arquipélago de Gulag, de cujo primeiro volume foram vendidos em França mais de 900 mil exemplares.

Isto mostra que estamos confrontados com uma intensa propaganda mundial que, se não for sujeita a uma crítica, à nossa crítica, julgo que o desenvolvimento do pensamento revolucionário, não a sua retomada, seria contrariado, obliterado pela ausência de reacção, designadamente da nossa parte, perante tais mentiras.
Apesar de tudo, a retomada do pensamento revolucionário está aí e tenho consciência de que para os jovens, rapazes e raparigas de hoje, a questão crucial não é a que se coloca aos da minha geração: será que fomos demasiado complacentes com Stáline, com Khruchov, com Brejnev, com a União Soviética?

De um certo modo são pontos da história extremamente importantes de esclarecer; de outro, isso não interessará aos jovens ou interessar-lhes-á tão pouco como as querelas em torno da revolução francesa: pertencem ao passado.

Por isso não transformo numa condição absoluta do movimento progressista ou revolucionário a clarificação da história do século XX, mas penso que, se não travarmos a vaga ridícula e escandalosa de criminalização da militância comunista e da história do comunismo, o movimento social irá perder muito tempo.

Jornal Avante! - Mesmo derrotada «a revolução continuaria invencível». Esta citação de Lénine pode aplicar-se aos 70 anos de socialismo real? É uma experiência que irá permanecer como referência inspiradora para a luta dos povos?

De facto Lénine dizia que uma Revolução mesmo vencida conserva uma espécie de invencibilidade porque permanece na memória dos povos, como um assalto heróico, comparável ao «assalto dos céus», que é a expressão que Marx utiliza a propósito dos comunards da Comuna de Paris que foi derrotada ao fim de três meses.

Marx utiliza esta expressão porque era um grande conhecedor da filosofia epicurista. A sua tese de licenciatura foi sobre Demócrito e Epicuro. É Lucrécio, discípulo latino de Epicuro, que nos diz que este saiu em imaginação para além dos limites do nosso mundo, percorreu o universo imenso através do seu pensamento e trouxe-nos a verdade dessa viagem, explicando-nos que há um Deus que não se interessa absolutamente nada pelos nossos assuntos, que não intervém na nossa vida, e nessa passagem do poema Da Natureza das Coisas afirma-se que a vitória de Epicuro sobre a religião «nos elevou aos céus». Marx evoca recordações dos seus estudos de juventude quando diz que os communards se elevaram ao «assalto dos céus».

É óbvio que as épocas heróicas, as épocas de revoluções sociais, deixam na memória colectiva recordações galvanizadoras, mais capazes de nos tornar optimistas em relação à natureza humana do que épocas como a que atravessamos presentemente – ou aquela em que igualmente viveu Epicuro, a época de decadência da Grécia – em que tudo se compra, tudo se vende. As pessoas descrêem nos políticos, vêem-nos como demagogos, impostores e gente corrupta…

As épocas de crise, de decadência não são particularmente entusiasmantes e tendem a deprimir os que nelas vivem. Por isso a nostalgia de um país que derrotou o nazismo, que mostrou que a planificação permite evitar a anarquia da produção capitalista (que apenas visa a obtenção de ganhos para certas camadas privilegiadas e não a satisfação propriamente das necessidades da população) é um sentimento que não pode ir muito longe mas tem o seu papel político.

Os jornais falam de um sentimento massivo de nostalgia pela ordem antiga na antiga República Democrática Alemã que parece aumentar cada vez mais. Ninguém duvida de que, se se realizasse um referendo na Rússia, as pessoas responderiam que estavam melhor antes do que agora.

Jornal Avante! - Pelo menos assim o dizem algumas sondagens…

Mas até em recentes eleições podemos ver esse reflexo da época soviética, que tem permitido alguns sucessos eleitorais incontestáveis, talvez indesejáveis para os ocidentais, talvez até indesejáveis em si mesmo, já que têm catapultado figuras que não são militantes comunistas convictos, isentos de qualquer suspeita de corrupção.

Aquilo que até agora mais marcas deixou na minha vida foi o facto de ter convivido durante a época soviética e comunista com massas de gente maravilhosa, e de ver, neste período de amargura, que muitos daqueles que eram de esquerda em Maio de 68 (les soixante-huitards), em Paris ou em noutros lados do mundo, se tornaram criados ou ideólogos da direita.

Jornal Avante! - Pessoas como Cohn-Bendit?…

Sim, como Cohn-Bendit ou Bernard-Henry Lévy, gente que não me deixa grandes recordações. É preciso rir, tal como de certas personagens da época de Epicuro, rir…
A nostalgia não nos fará avançar, mas há uma verdade política neste sentimento, que resulta, pelo menos no Ocidente, da ausência de ideais. As pessoas acreditam que deve ser possível ter uma classe política não corrompida, menos ridícula, menos show bisness. A prova é que os jovens adoptaram o Che como um produto de marketing; todos eles admiram Mandela - sabem que ele é de uma estatura diferente dos chefes ocidentais.

A revolução continuará invencível


Jornal Avante! - Este livro Lénine e a Revolução, para além de reafirmar de forma contundente a actualidade do pensamento do grande revolucionário russo é também uma contribuição para a reabilitação da história do socialismo. Por que decidiu começar com Lénine?

Na Universidade de Sorbonne, onde lecciono, o meu predecessor, Olivier Bloch, um filósofo, que é um homem muito activo apesar de estar reformado, quis organizar um colóquio intitulado «A Ideia de Revolução: Qual o seu Futuro no Século XXI?».

Como ninguém pensou em falar de Lénine, disse-lhe que seria importante que alguém se ocupasse desse tema. Foi aí que tive a ideia de fazer este livro. Como a intervenção que preparei para esse colóquio acabou por ter uma dimensão considerável, decidi viver seis meses com as Obras Completas de Lénine em francês a meus pés, que frequentemente alternava com a consulta da edição russa na Biblioteca Nacional de França, em Paris.

Ocorreu-me instantaneamente que se há um «cão morto» na história das ideias – para utilizar a expressão de Marx que dizia que Engels [N.E.: se trata de Hegel, não de Engels] era tratado na sua época como um cão morto –, ele é sem dúvida Lénine.

Fala-se de um regresso a Marx, o Che é utilizado como produto de marketing como já disse, mas muito poucas pessoas falam de Lénine. Considera-se, hipocritamente ou não, que não tem qualquer interesse, que se trata de ideologia, ou que é o Belzebu, o anticristo, o irmão mais velho de Stáline, por um fio apenas mais recomendável que este.

Decidi-me dar amplidão a este estudo sobre a ideia de revolução em Lénine, pensando que seria útil para corrigir alguns hábitos que adquirimos nos partidos comunistas ocidentais, entre os anos 65 a 80, quando ainda estavam de plena saúde.

Por exemplo, começou-se a falar da possibilidade de passagem pacífica para o socialismo e, pouco a pouco, a ilusão de que a revolução consistia em obter 51 por cento dos votos para a esquerda tornou-se num hábito de pensamento quase religioso face aos resultados eleitorais, que gerou a incapacidade de compreender que o famoso sufrágio universal nos países ocidentais há muito se tornara numa concha vazia.

Jornal Avante! - No entanto, no seu livro, não se limita a fazer a síntese do
pensamento de Lenine, debruça-se igualmente sobre o socialismo na URSS e critica severamente a historiografia mais divulgada.


Sim. O livro é composto por três partes. A terceira parte que é uma espécie de panfleto sintético «Dez minutos para acabar com o capitalismo», resultou de uma conferência «muito digna» do Partido Comunista Francês dos nossos dias, em que pediram a vários especialistas em marxismo, incluindo-me a mim que sou só meio especialistas nesta área, para falar sobre a actualidade do marxismo em dez minutos. Isto é a fotografia de uma época. Fiz então um pequeno panfleto para cumprir aquela norma um pouco rígida.

A segunda parte responde ao título do livro. Trata as teses de Lénine sobre a revolução. Na primeira parte tomei de facto a liberdade de dizer algumas verdades a meu gosto e explico como Lénine entrou na minha vida.

Aí recordo que os meus pais «escolheram a liberdade», depois de terem sido alvos da repressão na Argélia e mais tarde em França, sobretudo o meu pai que «escolheu a liberdade» evadindo-se das prisões francesas onde foi torturado pelos pára-quedistas franceses.

Atravessaram a «cortina de ferro» na direcção de que nunca se fala e eu encontrei-me em criança em escolas soviéticas, primeiro na Checoslováquia, na escola da Embaixada da URSS, e depois, já na Rússia, na Casa Internacional da Infância, em Ivánovo.

Éramos centenas de crianças, filhos de gregos, de iranianos, martirizados pelos defensores do «mundo livre», torturados, assassinados em prisões do Xá ou durante a liquidação da resistência grega pelos britânicos.

Esta experiência algo particular deu-me o conhecimento da língua russa e despertou-me o interesse pelo marxismo e por Lénine.
Depois visei quatro pontos essenciais: As asneiras que se dizem sobre 70 anos de sovietismo, como se tivéssemos o direito de stalinizar todo o período; as asneiras a propósito do totalitarismo, conceito que é utilizado para os mais variados fins (quando se pretende atacar um regime, norte-coreano ou iraniano, fala-se de totalitarismo); as asneiras em relação ao fim da União Soviética e, finalmente, as que se dizem sobre a política soviética nas vésperas e após a II Guerra Mundial.

O cineasta norte-americano Kens Burns explicou a um jornal que se decidiu a fazer o documentário «A Guerra» (The War), porque 40 por cento dos jovens americanos entre os 15 e os 18 anos pensam que a II Guerra Mundial opôs os Estados Unidos e a União Soviética. Outra sondagem em França indica que a maioria dos jovens franceses pensa que a União Soviética foi aliada da Alemanha nazi.

Jornal Avante! - Na primeira parte desta obra denuncia com alguma insistência a tentativa por parte da historiografia burguesa de stalinizar inteiramente o período soviético. E contrapõe defendendo que se deveria falar «não de um regime mas antes de regimes soviéticos», tendo em vista as «diferentes fases» da sua história. Que fases são estas?

Fiz estudos em história de arte, mas não sou um historiador profissional, sou um estudante. Sou profissinal de filosofia, escrevo livros de filosofia, hoje há quem se diga filósofo por muito menos, mas a minha disciplina é de facto a filosofia.

Todavia, acho impensável que depois de se ler a história da URSS, mesmo que superficialmente, de se ouvir falar de destalinização, do famoso relatório de Khruchov ao XX Congresso do PCUS, se insista em enfiar no mesmo pacote os 70 anos de socialismo soviético.

Não podemos afirmar que Khruchov e Stáline são idênticos, que o são Andropov e Stáline ou Brejnev e Stáline.

As discussões sobre o exercício despótico do poder, iniciadas durante o período soviético na própria União Soviética, são um sinal evidente de que não se tratou de um cancro associado à essência do sistema mas de um problema que merece ser debatido e estudado e que terá sido condicionado também por determinadas circunstâncias históricas.

De resto é um problema localizável. Até Hannah Arendt [autora alemã que tenta assemelhar o nazismo e o comunismo como ideologias totalitárias] situa esses períodos nos anos 32, 36, 37 e 38.

Temos de estudar a história seriamente, não como muitos sovietólogos que se dedicam a criar slogans. Um deles até já ousou escrever (cito Alain Besançon, membro da Academia das Ciências Morais e Políticas de Paris), que em matéria de soviétologia «nem sequer vale a pena mantermo-nos actualizados. O que é preciso é aprender a crer no inacreditável». Eis pois uma afirmação extraordinária de alguém que passa por um sábio.

Uma das questões que temos de abordar com seriedade é a aritmética macabra que nos foi imposta. Eu peço que nos expliquem esta história digna de um conto de fadas, que recorre a categorias do tipo Branca de Neve e os Sete Anões.

Em 1956 tinha apenas quatro anos de idade. Só mais tarde, naturalmente, ouvi falar do XX Congresso do PCUS. Nos anos 70, era eu membro das juventudes comunistas em França, começou-se a falar cada vez com mais frequência de um milhão, dois milhões, de três ou quatro milhões de vítimas da repressão stalinista, pressupondo-se evidentemente que numa revolução nem todos os mortos são vítimas inocentes executadas por erro.

Entre os anos 70 a 85, ou seja 30 anos depois do XX Congresso, assistiu-se ao inflacionamento demencial dos números (40 milhões, 60 milhões, etc.), a uma assimilação grotesca do stalinismo ao nazismo, e logo do sovietismo e do socialismo em geral ao nazismo.

O que penso é que esta aritmética macabra tem de ser verificada e, evidentemente, desmentida já que é demasiado extraordinária para poder ser verdade.

Jornal Avante! - É sabido que o XX Congresso do PCUS pouco mais guardou de Stáline que o seu papel na derrota do nazi-fascismo. No entanto, não haverá que reconhecer a Stáline um papel proeminente em todo o período da construção do socialismo?

Refiro-me designadamente aos enormes avanços da revolução nos anos 30 que se revelaram decisivos para o desfecho da guerra e permitiram a afirmação vitoriosa do socialismo como sistema mundial.

No meu livro refiro a cidade de Volgogrado, antes chamada Stalinegrado, onde se produziu a viragem da guerra. É uma espécie de Hiroxima onde as pessoas andam sobre dois milhões de mortos.

Pierre Roederer [político francês que participou no golpe bonapartista de 1798] dizia que não recusava nenhum período da história de França, incluindo o período da revolução.

Se não quisermos limitar-nos a fazer discursos de moral – como os «filósofos» mediáticos, os think faster que vemos nas televisões sempre do lado do bem e contra o mal – então temos de tomar a revolução como um todo.
Numa revolução não se pára ao primeiro morto que se encontra, sobretudo, como dizia Robespierre, se esse morto é um general que massacrou dois mil patriotas: «Queríeis uma revolução sem revolução?», perguntou ele.

Lénine e muitos outros contavam com a revolução mundial. Desde Marx que se pensava que a revolução começaria nos países mais industrializados, onde o proletariado era mais forte e onde as tradições democráticas burguesas já estavam bem enraizados nas massas, tais como a Inglaterra, a Alemanha, a França.
Durante três ou quatro anos após a revolução de Outubro, Lenine pensou que o enorme clarão revolucionário na Rússia e nas colónias do império czarista iria rapidamente alastrar a países verdadeiramente «amadurecidos» para a revolução proletária.

No entanto, com o fracasso do Exército Vermelho na Polónia [1920], para o qual contribuiu a ajuda militar dos franceses; com a derrota da revolução dos sovietes na Hungria [1919] e sobretudo após o massacre dos espartaquistas na Alemanha [1919] a história tomou um rumo diferente, levando Lénine a concluir que seria necessário construir o socialismo num só país.

Uma revolução, como Marx e Engels não se cansaram de dizer, é sobretudo uma confrontação de forças, ou seja, ela não se faz se não pela força. Isso não significa que seja necessário provocar torrentes de sangue.
De qualquer modo, Marx observa que a teoria só se torna uma força material quando está amparada nas massas. Ou seja, se milhões de pessoas se manifestarem nas ruas por uma ideia, por uma vontade, se fizerem greve durante um certo tempo podem, em determinadas circunstâncias, provocar a queda do poder. Isto é, pode não ser necessário pegar em armas.

Tal não significa que os marxistas façam uma religião do pacifismo ou recusem toda a violência, uma vez que se trata de pôr fim a uma violência permanente que é exercida pelo sistema sobre os oprimidos.

A propaganda dos privilegiados escolhe sempre os seus alvos de forma selectiva. Há quilómetros de páginas impressas sobre determinados acontecimentos enquanto outros, com consequências semelhantes ou muito piores, são silenciados.

Por exemplo, os famosos horrores cometidos pelo regime de Saddam Hussein nas aldeias curdas são pouco significativos quando comparados com os crimes de guerra perpetrados pelos norte-americanos no Vietname. Não peço que canonizem Saddam Hussein, mas será que os norte-americanos alguma vez foram julgados ou apresentaram desculpas pelo que fizeram? Pelo contrário, alegam que os vietnamitas exageram o que se passou… o «agente laranja», a utilização generalizada de armas químicas, etc.

Aliás, antes da revolução de 1917, Lénine escreveu que os dez milhões de mortos e vinte milhões de estropiados da I Guerra Mundial, que apenas favoreceu os interesses dos negociantes de canhões, serão vistos pela burguesia como algo de perfeitamente normal e como um sacrifício inteiramente legítimo, mas se se registarem algumas centenas de mortos durante uma revolução, dir-se-á que foi um massacre bárbaro provocado por bárbaros.

Para responder à sua pergunta, é óbvio que a inacreditável resistência oferecida pelos povos da URSS, que fez virar o rumo da guerra, é uma fotografia, um referendo perfeito sobre o que pensavam dessa época soviética os que nela viviam.
O povo de que falamos não se sentia apenas como uma vítima aterrorizada – era parte envolvida numa dinâmica revolucionária, com os seus desvios, os seus erros, os seus crimes.

Alguns historiados não comunistas britânicos e americanos, quer logo a seguir à guerra, quando o prestígio da URSS era enorme, quer hoje, como um certo Michael Coney, que cito no meu livro, consideram como um facto evidente que o anticomunismo foi, a cada passo, um dos elementos, se não mesmo o principal elemento, que permitiu a corrida à guerra.

As potências ocidentais fizeram tudo para deixar as mãos livres a Hitler na sua cruzada a Leste. E o facto de a maioria dos jovens em França acreditar que a URSS era aliada da Alemanha na Guerra é o resultado da intensa propaganda em torno do pacto germano-soviético.

Quantos sabem que o pacto germano-soviético [Agosto 1939] teve lugar um ano depois do acordo de Munique [Setembro 1938], que foi uma espécie de conselho de guerra de Hitler, no qual a Inglaterra e a França, entregando-lhe a Checoslováquia e abandonando os seus aliados, o convidaram a voltar-se para Leste?

Quem sabe que após o discurso contra a guerra pronunciado por Maurice Thorez, então secretário-geral do PCF, em Estrasburgo, o governo francês apresentou à Alemanha um pedido formal de desculpas por «esta provocação dos comunistas»?

Não digo que tudo tenha sido bem feito, mas é preciso lembrar que a URSS, que tinha sofrido a intervenção de 20 potências coligadas para derrotar a revolução em apoio dos brancos na guerra civil, tinha de utilizar todas as possibilidades para evitar uma nova guerra. Não vejo que pudesse ter agido de forma diferente.

Jornal Avante! - No seu livro recusa o termo «queda da União Soviética» notando que «ela não caiu sozinha». Que causas, em sua opinião, terão levado ao desaparecimento da URSS?

De facto toda a gente utiliza termos como queda, desmoronamento, desintegração implosão e outros no mesmo sentido para caracterizar os acontecimentos na URSS entre 1989 e 1991.

Mas sabemos que não houve nenhuma deflagração termonuclear, nem temos notícia de que a União Soviética se tenha «desintegrado» na sequência de um conflito militar.
Os manuais de história também falam de «queda» da monarquia, mas Albert Soboul [historiador francês] dizia sempre que «ela não caiu sozinha», por isso deve dizer-se derrubamento da monarquia.

Eu digo o mesmo em relação ao fim da União Soviética. Aqui partilho a análise do meu colega italiano Domenico Losurdo, quando observa que a multiplicidade de factores internos, vivida num «contexto de autofobia» dos antigos comunistas, que parecem falar de uma história da qual se deveria ter vergonha, faz com que nos esqueçamos de alguns «detalhes».

Por exemplo, que todo o período desde 1945 até ao fim da União Soviética foi enquadrado por avisos extraordinariamente precisos do ponto de vista militar dados por parte do imperialismo norte-americano.

Embora tentem reduzir o século XX ao gulag e aos campos nazis, a verdade é que, em apenas alguns dias, as bombas termonucleares de Nagasaki e Hiroxima mataram cerca de 300 mil pessoas. Mais grave do que o chamado totalitalismo, assistimos no século XX ao surgimento de um novo conceito que designo por «exterminismo». Os campos de extermínio nazis e o lançamento das bombas nucleares são os dois fenómenos do século passado que permitiram massacrar num tempo mínimo um máximo de pessoas. Mas isto é esquecido…

Praticamente ninguém contesta que o lançamento das bombas sobre as duas cidades japonesas constituiu sobretudo um aviso à União Soviética. Não creio também enganar-me se disser que o governo de Ronald Reagan esteve na origem de um agravamento generalizado do clima internacional com o programa de defesa estratégica, conhecido como «guerra das estrelas», que foi lançado apenas alguns anos antes do fim da União Soviética.

Segundo disse o próprio Reagan, o objectivo da «Iniciativa de Defesa Estratégica» era colocar de joelhos a União Soviética.
Ouvi milhões de vezes que a União Soviética gostaria de se desenvolver para fornecer mais produtos e de melhor qualidade ao seu povo, mas que infelizmente tinha de canalizar enormes recursos para as despesas militares devido à corrida aos armamentos imposta pelo Ocidente.

Ora, é extraordinário que praticamente não se fale desta questão. Não posso determinar o seu peso, mas parece-me óbvio que teve alguma influência nessa «queda».

Jornal Avante! - Apesar da inegável influência dos factores externos, fortíssima desde o início e condicionadora de todo o percurso da URSS, que importância atribui aos factores internos que, em especial no período de 1985-1991, determinaram a dissolução do país e a instauração do capitalismo?

Ninguém pode afirmar que uma equipa de pessoas tenha, por si só, sido capaz de provocar o desaparecimento de um Estado. Contudo, sem dúvida que o período da «perestróika» foi marcado por uma política de capitulação e acomodação ao Ocidente que ajudou e acelerou o trabalho intenso com vista a destruir militarmente e por outros meios a existência do campo socialista.

Não deixa de ser curioso observar que o facto de um grupo de pessoas, que conseguiu içar-se à cabeça do Estado, ter podido criticar o stalinismo e todos aqueles que lá tinham estado antes, fazendo crer que tudo o que havia naquele país estava errado, prova que afinal o «terror» nesse país não era assim tão grande como se diz.

Ao contrário de muitos comunistas que conheci – autênticos heróis que passaram pelas prisões, resistiram à tortura e que quando chegaram ao fim das suas vidas a única coisa que tinham ganho para si era a estima dos seus vizinhos, comunistas e não comunistas - Mikhail Gorbatchov terminou a sua carreira a fazer publicidade de pizas e malas de marca.

De resto, as confissões da sra. Thatcher e dos seus ministros são bem reveladoras a propósito da figura de Gorbatchov. Foi ela que disse que encontrar um soviético assim era «um sonho que jamais tinha ousado sonhar».

Mas até comunistas convictos se interrogaram porque não mais democracia? Mais comunicação e transparência? Porque não um líder moderno, diferente daqueles que tínhamos visto, demasiado velhos e antiquados?

Estávamos ainda no começo quando Gorbatchov fazia os seus primeiros sorrisos ao Ocidente. Tinha então começado a dizer que havia valores bem mais importantes que o socialismo, que havia valores universais como o da paz.

Toda a gente é a favor da paz, sobretudo os comunistas. Mas trata-se de saber se é a paz que permite ao socialismo sobreviver ou se é o socialismo, com a sua força, que impõe a paz ao campo capitalista que é sempre agressivo?

Basta olharmos para a história do imperialismo ocidental para vermos que praticamente ela se resume a guerras de conquista e de rapina… O mundo continua a ser hoje devastado pelas guerras do imperialismo americano.

A minha interrogação não é sobre a possibilidade de tudo voltar a acontecer. Estou certo de que um dia tudo voltará a acontecer, as explosões sociais, a revolução. A minha única angústia é recear que voltemos a cair na burocracia, na corrupção, noutra Catastróica, para citar o livro de Alexandr Zinoviev, o único deste autor que não teve êxito no Ocidente, não só porque é pró-soviético mas sobretudo porque é uma denúncia muito forte da corrupção que cobriu todo o período da «perestróika».

A social-democracia foi a bóia de salvação do capitalismo

Jornal Avante! - Depois da II Guerra Mundial, gerações de revolucionários, como a de seu pai Henry Alleg, acreditaram firmemente que a vitória do socialismo a nível mundial estaria próxima. Pensa que se tratou de um sonho ou de uma convicção fundada em razões sólidas?

Para muitas pessoas que viveram nos anos 30 e assistiram ao enfraquecimento das forças de esquerda – período que infelizmente nos faz pensar nos tempos actuais –, as alterações verificadas no pós-guerra foram muito mais do que simples sinais de que o mundo está à beira de uma mudança.

Na Europa uma dezena de países tinha passado para o campo do socialismo; o movimento de libertação nacional em rápida ascensão transformava as ex-colónias em estados e os seus dirigentes falavam quase todos em socialismo; somava-se ainda um sólido movimento operário nos países ocidentais, com grandes partidos comunistas.
Embora na década de 70 já se falasse muito da crise do marxismo e do comunismo, a verdade é que, todos os anos, um ou mais países passava para o campo anti-imperialista.

Lembremo-nos da Nicarágua, do Afeganistão (país onde houve uma revolução antes da chegada da ajuda militar soviética), de Moçambique e Angola, da revolução do 25 de Abril em Portugal ou mesmo do processo de democratização em Espanha.
Era uma evidência que o movimento progressista continuamente se reforçava. O capitalismo estava em franco recuo. De tal forma que um editorialista do Le Fígaro, um jornal francês de direita, chegou a escrever que, até 1983, ele próprio pensava que a vitória do comunismo era irreversível.

E se isto era assim neste período, quando eu já era uma espécie de «último dos moicanos» em Paris, no pós-guerra a perspectiva de que o mundo seguiria nessa direcção era segura e parecia inevitável.

Neste quadro, a social-democracia constituiu para o capitalismo uma extraordinária bóia de salvação. Mais uma vez no século XX, a partir de 1981, políticos pró-capitalistas tomaram a dianteira não só de partidos de direita mas também de partidos que tinham raízes operárias e eram reputados como de esquerda.

Dançou-se nas ruas de Paris quando Miterrand foi eleito em 1981, dançou-se nas ruas na Grécia quando os socialistas ganharam… Sabemos que tudo isto terminou num desespero generalizado perante duros planos de austeridade e medidas neoliberais.

Jornal Avante! - A sexta tese que formula do pensamento de Lenine assinala o «deslocamento tendencial dos focos da revolução para os países dominados». Considera que os processos actualmente em curso, designadamente na América Latina, confirmam esta tese leninista?

Penso que essa tese foi plenamente confirmada no II Encontro de Serpa, «Civilização ou Barbárie», onde passei três dias extraordinários com camaradas, universitários ou não, vindos de muitos países do mundo.
Todos os que se interessam pelo marxismo e são fiéis ao ideal comunista concentram-se largamente nos processos que decorrem na América Latina, o que não exclui o resto do mundo dominado e o mundo em geral.

Não serei eu a fazer prognósticos sobre o que se irá passar, mas temos assistido a transformações importantes nestes últimos anos na Argentina, Brasil, e sobretudo na Venezuela e na Bolívia. Penso que nada disto se teria passado sem a presença de Cuba, país que o imperialismo não conseguiu anular apesar de todos os esforços.
Na Universidade francesa tornou-se uma moda manter contactos com países da América Latina. Muitos professores seguem com atenção os acontecimentos que lhes recordam a sua própria juventude, o que é algo de novo. Deixou de haver entre os intelectuais de Paris apenas um clima de histeria e hostilidade em relação a tudo o que evoca a juventude da minha geração.

Lénine recorda-nos que em países capitalistas desenvolvidos é muito possível que haja todas as aparências da democracia do ponto de vista da liberdade de imprensa, da liberdade de expressão, e evidentemente do ponto de vista económico. É muito possível que nestes países a classe operária possa recolher algumas migalhas da pilhagem das nações colonizadas e que a atmosfera social seja inteiramente agradável.
Isto é com muita frequência esquecido pelos comunistas de antigos países coloniais, designadamente em França. Mas foi o que se passou durante a «gloriosa trintena», o período de crescimento que se seguiu à II Guerra Mundial.

Os bens de consumo tornaram-se acessíveis a imensas camadas da população, em particular às camadas médias mas também ao proletariado até um certo nível. As pessoas estavam então seguras de que os seus filhos viveriam ainda melhor do que elas.

A partir dos anos 1910-1915 Lénine assinala que será provavelmente nos países pilhados, nos países dominados (Marx e Engels já se tinham interessado pela luta dos irlandeses, pelos acontecimentos na Índia, na Argélia), que os grandes cataclismos deste século poderão acontecer.

Isto não nos impede de continuarmos a lutar nos nossos países, como de resto tem acontecido e continuará a acontecer à medida do agravamento dos problemas sociais. Hoje há pessoas que vivem em Paris em condições idênticas ou piores às dos países do terceiro mundo… há 30 mil sem abrigo nas ruas de Paris!

Jornal Avante! - Poderemos contar com novas obras suas de estudo e reflexão sobre a experiência socialista que marcou o século XX e toda a história da humanidade?

Nos últimos doze anos trabalhei essencialmente sobre assuntos mais técnicos do que políticos, o que aliás terá correspondido à própria época, talvez tenha sido um recuo táctico, uma vez que quando pronunciávamos o nome de Marx os estudantes em Paris largavam a caneta da mão. Isso e outras razões levaram a que me consagrasse ao estudo de Demócrito, Epicuro e Lucrécio, materialistas da antiguidade grego-latina.
Depois de pequenas «guerras» indignas na Universidade (que não tiveram grande importância, mas mostram que também em França, país onde o marxismo teve grande importância, houve, como por todo o lado no mundo, uma verdadeira caça às pessoas suspeitas de serem marxistas) tornei-me finalmente professor de História da Filosofia.

Tive a sorte de suceder a colegas que se reformaram, antigos comunistas, que conduziam seminários de história do materialismo com uma vertente de investigação consagrada à história das ideias dos séculos XVII-XX.

Embora tenha continuado a fazer trabalhos sobre história da filosofia, pude então dedicar-me a outros temas, como à obra de Guy de Maupassant, romancista francês de que gosto muito, ou de Feuerbach [filósofo alemão]. Fiz até um livro de carácter mais pessoal sobre o prazer específico que provém da luta, onde cito autores como Amado, Neruda e outros.

Actualmente, na universidade de Sorbonne organizamos um seminário designado «Marx no XXI século», que reúne quinzenalmente cerca de uma centena de pessoas e este ano esperamos duzentas pessoas. Convidamos normalmente oradores conhecidos, como Domenico Losurdo, Slavoj Žižek, George Labica.

Não é o jornal Iskra, mas quase. É um local de reunião de todos os solitários que não suportam mais o manto de chumbo de censura que cobre os estudos marxistas.
Mas, para responder à pergunta, há muito que tenho a intenção de escrever qualquer coisa sobre a robotização das massas, a manipulação dos espíritos, numa palavra sobre os media. É uma ideia que já tenho há 25 anos.

Desde então muito se escreveu sobre o assunto, mas não está tudo dito, sobretudo no que diz respeito ao delírio da propaganda anticomunista, assunto que cheguei a abordar num pequeno trabalho publicado em 1985 som o título, «Cortina de Ferro no Bulevard Saint Michel, notas sobre a representação dos países ditos de Leste na elite cultivada do povo mais espiritual do mundo».

Penso seriamente num novo trabalho sobre a uniformização das consciências e, em primeiro lugar, do inconsciente humano, do embrutecimento das massas, retomando a obra dos fundadores do marxismo-leninismo nos aspectos que podem ser utilizados na luta de hoje. Não posso ser mais preciso.

Reproduzido de http://www.avante.pt/noticia.asp?id=22030&area=5

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Operação chumbo impune - por Eduardo Galeano

(Este artigo é dedicado aos meus amigos judeus assassinados pelas ditaduras latino-americanas que Israel assessorou).

Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores pretende acabar com os terroristas, conseguira multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem autorização.

Perderam a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, perderam tudo. Nem sequer têm direito a eleger os seus governantes.

Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está a ser castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída. Algo semelhante ao que ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador.

Banhados em sangue, os salvadorenhos expiram o seu mau comportamento e desde então viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com má pontaria sobre as terras que haviam sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito de Israel à existência, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há anos, o direito à existência da Palestina.

Já pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel está a apagá-la do mapa. Os colonos invadem e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o roubo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polónia para evitar que a Polónia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerra defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços prosseguem. A devoração justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia concedeu, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que se burla das leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros. Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança de Gaza? O governo espanhol não terá podido bombardear impunemente o País Vasco para acabar com a ETA, nem o governo britânico terá podido arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.

Acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provém da potência mandona que tem em Israel o mais incondicional dos seus vassalos?

O exército israelense, o de armamento mais moderno e refinado do mundo, sabe a quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis chamam-se danos colaterais, conforme o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está a ensaiar com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Por cada cem palestinos mortos, um israelense.

Gente perigosa, adverte o outro bombardeamento, a cargo dos meios maciços de manipulação, que nos convidam a acreditar que uma vida israelense vale tanto como cem vidas palestinas. E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atómicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irão foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada comunidade internacional, existe? Será algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? Será algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos se põem quando fazem teatro? Perante a tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial brilha mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, a declarações ocas, as declarações altissonantes, as posturas ambíguas rendem tributo à sagrada impunidade.

Perante a tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma ou outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça de judeus foi sempre um costume europeu, mas desde há meio século essa dívida histórica está a ser cobrada aos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão a pagar, em sangue contante a sonante, uma conta alheia.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Ataque covarde de Israel ao povo palestino

Poesia: Elogio do Revolucionário (Bertolt Brecht)

Quando aumenta a repressão, muitos desanimam.
Mas a coragem dele aumenta.
Organiza sua luta pelo salário, pelo pão
e pela conquista do poder.

Interroga a propriedade:
De onde vens?
Pergunta a cada idéia:
Serves a quem?
Ali onde todos calam, ele fala
E onde reina a opressão e se acusa o destino,
ele cita os nomes.
À mesa onde ele se senta
se senta a insatisfação.
À comida sabe mal e a sala se torna estreita.
Aonde o vai a revolta
e de onde o expulsam
persiste a agitação.

Obama...


"-Jura respeitar as leis?"

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

UJC: Declaração Política



A mais grave crise da história do capitalismo bate às portas da humanidade, anunciando várias conseqüências negativas para o proletariado. Para tentar sair da crise, o capital não pensa duas vezes ao saquear os cofres públicos para salvar banqueiros e oligopólios; não vacilara um minuto em atacar ainda mais os salários, os direitos sociais e trabalhistas, além de diminuir a qualidade dos serviços públicos; não tergiversara um só instante ao aprofundar a exploração e a barbárie, sem se importar com o agravamento da fome e da miséria; não titubeara em recorrer a mais guerras e agressões militares nem em recrudescer a criminalização aos movimentos sociais e às organizações populares e revolucionárias. Cada vez mais se acentuará no mundo a contradição entre o capital e o trabalho.

Neste contexto, o imperialismo estadunidense a fim de dar uma sobrevida a seu sistema de dominação, já que vem enfrentando uma das maiores crises da história universal, volta seus olhares e garras sobre a América Latina. Como exemplo, tomamos a continuidade do nefasto bloqueio econômico imposto a Cuba, que heroicamente resiste há 50 anos sem dobrar-se ao imperialismo, mantendo-se com todas as vicissitudes, no rumo da construção da sociedade socialista. Como parte de nossas manifestações de solidariedade a Cuba Socialista, a UJC fazemos parte da Brigada de Solidariedade a Cuba e comemoraremos, sem vacilações, os 50 anos de nossa Revolução Cubana ao longo do ano.

O capital e o imperialismo, no bojo da sua crise, vem sofrendo uma resistência ferrenha pelos povos que não aceitam mais tal tipo de dominação. Um dos casos exemplares é a luta dos trabalhadores e do povo grego contra a opressão do capital e a constante diminuição e precarização dos direitos dos trabalhadores naquele país. A resistência que se manifestou através de confrontos de rua contra a policia grega e nos processos de greve geral, abrem a possibilidade de um acúmulo para a construção de mecanismos de poder popular que façam avançar as lutas pelo socialismo.
No oriente médio, alguns setores do povo palestino resistem à ofensiva do Estado Sionista de Israel. A política de eliminação física do povo palestino levada a cabo pela chanceler Tzipi Livni, filha de militantes do grupo terrorista Irgun, fundado na década de 1920 por Zeev Jabotinsky, amigo pessoal de Mussolini mostra que tanto o Kadima quanto o Likud, são farinha do mesmo saco, disputando a legitimidade do legado de Jabotinsky. A Direita Sionista, sustentada pela burguesia israelense e pelo imperialismo estadunidense, aposta na reconstrução de um estado chamado Israel que tenha suas fronteiras delineadas pelos versículos bíblicos e que reconduzam o povo de Israel, no sentido de todos os judeus, para a reconstrução do templo e a redenção do povo escolhido. Para tanto, buscam junto à teoria revisionista garantir uma maioria judaica no Estado, custe o que custar, o chamado Iron Wall. Isso envolve, inclusive, a eliminação física do povo palestino. No entanto não podemos confundir governo, classes e Estado. Há uma resistência binacional ferrenha comungada entre israelenses e palestinos pela superação da lógica do muro de ferro e pela convivência pacifica de povos co-irmãos. O Partido Comunista Israelense condena o massacre cometido pela direita sionista contra o povo palestino de Gaza e mobiliza amplos setores em uma frente popular contra o fascismo revisionista. Não podemos deixar de atentar para uma confluência conjuntural entre interesses nacionais sionistas revisionistas e interesses imperialistas estadunidenses. A UJC toma partido nessa querela atentando para o estabelecimento de uma linha justa, que não permita nem a ascensão do fascismo sionista revisionista, tampouco do anti-semitismo e do fundamentalismo islâmico.

No cenário nacional, os Jovens Trabalhadores da UJC vem somando esforços na construção da Corrente Sindical Unidade Classista e no fortalecimento da INTERSINDICAL e participaremos das mobilizações dos trabalhadores no enfrentamento dos efeitos da Crise Econômica Mundial.

Estivemos presentes no Seminário Internacional Juvenil pela Paz na Colômbia e no XIIIº Congresso da Juventude Comunista Colombiana, reafirmamos nossa solidariedade irrestrita a JUCO na luta pela Paz Democrática, com justiça social e econômica na Colômbia. Denunciamos à comunidade internacional as atrocidades cometidas pelo Governo fascista de Uribe através de sua política de “segurança democrática” onde se mata inocentes jovens colombianos para propagandear falsas estatísticas (Falsos positivos) de mortos em combate contra a insurgência. Não colaboramos com a satanização e criminalização de organizações políticas insurgentes, como as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e defendemos o processo de negociação política (através da UNASUR) reconhecendo o conteúdo político, econômico e social do conflito colombiano.

Estaremos em Belém (Para) no Fórum Social Mundial levando a seguinte mensagem dos jovens comunistas - Socialismo: o outro mundo possível. A crise enterra as ilusões dos que pretenderam humanizar o capitalismo.
Participamos desde a primeira hora da campanha nacional O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO! A ocupação do prédio da PETROBRAS e a luta contra a décima rodada de licitação do Petróleo foram as primeiras ações desta campanha de fundamental importância na qual nós da UJC impulsionaremos em todas nossas frentes de atuação nos Estados onde estamos organizados.
A soberania nacional é ponto chave nesta discussão. Não é a toa que novamente os esquifes imperialistas navegam em nossas águas territoriais, nos lembrando das peripécias de articulação dos golpes na América Latina. Durante 40 anos a quarta frota não colocava suas “asinhas de fora” e agora vem para bisbilhotar as novas descobertas de ouro negro feitas em nosso território. Não fazem esse tipo de ameaça sem aliados. Seus comparsas são lobos em peles de cordeiros, o governo Lula e seus aliados, inclusive o PC do B vem rezando na cartilha do Império. A ANP demonstra-se cada vez mais vacilante e inclusive entreguista com o patrimônio nacional estratégico. Doou a empresa Haliburton os bancos de dados da Petrobras, construídos durante 50 anos de dura e árdua pesquisa autônoma e nacional na área petrolífera.

Vamos ao 12º Conselho Nacional de Entidades de Base da UNE para trazer a UNE para a luta dos estudantes na perspectiva da construção da Universidade Popular. Defendemos que a UNE tenha autonomia frente ao Governo Lula, que a entidade possa avançar na organização e luta do movimento estudantil brasileiro, que busque a unidade de ação com organizações nacionais como a INTERSINDICAL e o MST e tenha propostas avançadas para transformarmos as estruturas das universidades brasileiras. Rechaçamos o divisionismo e o paralelismo no movimento estudantil brasileiro nos esforçando para que a entidade nacional dos estudantes universitários possa contribuir de fato com as lutas gerais da juventude brasileira. Saudamos a iniciativa da UNE de construção junto a Organização Caribenha e Latino Americana dos Estudantes - OCLAE da primeira bienal Latino Americana de Cultura e Arte.

Defendemos a construção de uma FRENTE POLÍTICA baseada num programa comum e na unidade de ação, não apenas para disputar eleições, mas para unir, organizar e mobilizar os setores populares num bloco histórico para lutar por uma alternativa de esquerda para o país, capaz de galvanizar os trabalhadores pelas transformações econômicas, sociais e políticas, na perspectiva do SOCIALISMO.

A União da Juventude Comunista, UJC, em seus 81 anos de história, reorganizada em 2005, configura a mais antiga organização de juventude em atividade no Brasil. Carregamos em nossa trajetória inúmeras bandeiras, sendo que várias delas, ainda hoje demonstram vigência e atualidade. A grande jornada nacional de luta pelo petróleo, a luta contra o fascismo e o imperialismo, a luta pela livre associação e a luta pela paz e o socialismo.

Em 2009, realizaremos nosso Congresso Nacional na perspectiva de buscar uma maior inserção e organização da UJC em várias frentes de luta. A atual conjuntura nos requer maiores responsabilidades na compreensão e na prática coletiva, para alçarmos a UJC como força política nacional capaz de impulsionar as lutas da juventude brasileira e estar condizente com sua história de lutas.

Viva a União da Juventude Comunista!
Comissão Política Nacional da UJC – BRASIL
Rio de Janeiro, 03 de janeiro de 2009.

domingo, 18 de janeiro de 2009

O que os comunistas devem esperar de 2009? Mauro Iasi e Ivan Pinheiro respondem a pergunta.

Mauro Iasi
Doutor em sociologia e membro da direção nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1 – Um dos avanços é a continuidade da tentativa de unificação da esquerda, por meio de iniciativas como a Conlutas, a Intersindical e o Fórum Nacional de Lutas. Tivemos uma reunião no começo de novembro bastante ampla, que aponta boas perspectivas.

2 – Uma das coisas mais importantes de 2008 foi a crise econômica mundial e a forma como ela impactou o Brasil. Estávamos iniciando umas mobilizações, campanhas salariais e contra a concentração de renda e o modelo econômico brasileiro. Ela acaba empurrando a classe trabalhadora para um recuo. Ao invés de um protagonismo, a esquerda volta para a posição de resistência.

3 – efeito paradoxal da crise é que, em um primeiro momento, cria-se uma tentativa de pacto e união nacional, o que desarma a independência da esquerda. O principal papel da esquerda é evitar isso. Saímos de um ciclo de grande acúmulo do capital e agora querem jogar o maior peso da crise sobre a classe trabalhadora. Vai se falar em perda de direitos e de redução de salários. Temos que nos preparar para nos contrapor a isso. Um exemplo disso é o pacote de algumas empresas dos EUA que incluía redução de salários e os trabalhadores conseguiram evitar isso. No Brasil, já há várias categorias em férias coletivas e há uma sinalização de que não haverá reajustes para o funcionalismo. Enfim, a tarefa fundamental da esquerda é se preparar para resistir e colocar a tarefa de um projeto de esquerda mais em longo prazo, uma alternativa de poder mais do que conjuntural para o próximo período.

4 – Demonstrando o verdadeiro caráter do governo brasileiro e das opções que ele fez. Para aqueles que acreditavam em um crescimento econômico, com, pouco a pouco, uma distribuição de renda, fica evidente que o capital cobra sua parte no próximo período. Você tem uma contrapartida disso na crise muito forte. Por isso, acredito que o momento será propício para apresentar propostas alternativas com mais fôlego. A crise pode demonstrar de forma mais didática a importância de propostas anticapitalistas e antiimperialistas.

Ivan Pinheiro
Secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1 – No apagar das luzes deste ano de 2008, estamos vivendo o principal momento das lutas sociais e políticas puxadas pela esquerda no Brasil: a luta pela reestatização da Petrobras. O último e vergonhoso leilão deste ano, promovido pela entreguista ANP, une a grande maioria da esquerda e do movimento popular. O movimento em torno deste tema foi o principal avanço da esquerda no período.

2 – O principal retrocesso tem origem em 2006, em que, em vez de uma Frente de Esquerda, formou-se no Brasil uma coligação eleitoral. Deixamos assim passar uma grande oportunidade para criar uma frente política alternativa e isso repercutiu nas eleições municipais de 2008. Quem mais ganhou com essas eleições foi o PMDB. Depois vem a maioria social-liberal do PT e o PSDB de José Serra.

3 e 4 – A crise, no primeiro momento, vai trazer muitas perdas para o proletariado e as camadas médias, pois a correlação de forças não nos é ainda favorável. Será uma fase reativa, de defendermos direitos e conquistas, que serão ameaçados. Mas o agravamento da crise pode gerar uma contraofensiva popular, que eleve a luta de classe entre nós a um patamar superior. Mas tudo vai depender do grau de unidade que as forças de esquerda alcançarem. O PCB defende a formação de uma frente que integre organizações políticas e sociais do campo de esquerda e popular e a construção de uma forte organização intersindical unitária, baseada na centralidade do trabalho. No nosso entender, o agravamento da crise provocará o acirramento da contradição capital x trabalho e deslocará o centro da luta para os países desenvolvidos e emergentes, como é o caso do Brasil.

Palestina: um povo preso entre ruinas, mas a milícia não se rende (Safa Joudeh)


Êxodo de milhares de famílias para o Norte, a pé e em carroças puxadas por mulas
Agora ao lado de Hamas combate a facção armada de Fatah.


GAZA – No décimo oitavo dia de guerra é o dia do Juizo Final para Rafah. Debaixo dos bombardeamentos contínuos dos caças F-15 e F-16, a cidade na fronteira com o Egito foi destruída pela metade: os edifícios pulverizados são pedaços de cimento.
Filas de milhares de famílias se movem para o Norte, perseguidas pelas bombas e pelos panfletos israelitas com a advertência para evacuar. Avós, pais, mães, crianças, carregando trouxas avançam a pé ou em carroças puxadas por mulas: as ruas destruídas pelos bombardeamentos, os carros transformados em ferro retorcido. Outros, massas que nãoo encontram abrigo nos refugios improvisados pelo UNRWA (the United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East) e já transbordantes, acampam com maquinas de lavar, tabuas de passar, brinquedos, com tudo o que conseguiram salvar das ruínas de suas casas.
Reaparece o cenário de devastação da guerra do Líbano em 2006, com uma diferença: Que a população civil, apertada em uma faixa de dunas de areia, sitiada nas fronteiras, não tem uma via de fuga. A multidão humana oscila para um lado e depois para outro, na esperança de evitar os tiros da terra, do céu e do mar.
A ofensiva terrestre desacelerou. Difícil entender, por de trás da cortina de fumaça, o que a realmente pôs freio à ofensiva terrestre: se as divergências ao no governo de Israel, ou o fogo das facções palestinas.
Israel fala de uma "resistência em fuga", obrigada a se esconder nos subterrâneos. O braço armado de Hamas, ao contrário, comunica uma emboscada que matou 10 soldados israelenses. Aquilo que é certo, é que se combate na periferia de cidade de Gaza, em Sheikh Ailin, em Karama, e Zeitun é isolada. Ao fogo dos tanques israelenses se misturam os tiros das armas dos milicianos, que se reuniram em um fronte unido, juntando os arsenais e banindo as diferenças politicas.
Ao lado de Hamas agora combate a facção armada do Fatah, o partido do presidente palestio Abu Mazen.
Pensando na intensidade do fogo cruzado há mais de 24 horas, a Defesa israelense provavelmente subestimou a capacidade de resistência palestina e de todas as suas facções. O breve avanço das forças israelenses durante a noite, se concluiu na alvorada com a retirada nas posições iniciais. O Hamas e a Frente Popular pela Libertaçaoo da Palestina continuam a se opor a iniciativa egípcia de uma trégua definitiva. A resistência teria aceitado, se fossem realmente derrotados.
Depois do anúncio da terceira fase da Operação “Chumbo derretido”, a Faixa de Gaza foi divida, com uma presença sempre maior de gente nas zonas de fronteira. O pessoal da ajuda humanitária não podem passar; no rádio ecoa o seu apelo que acabaram sob o fogo da infantaria israelense no subúrbio da Cidade de Gaza. Deviam evacuar os feridos da zona mais atingida, mas os tiros não permitem que eles prossigam ou voltem. Pelo telefone pedem para serem socorridos, e avisam que estão ficando sem baterias nos celulares.
Não é claro se essa grande invasão prometida pelo Estado israelense se materializará.
(14 janeiro 2009)

(Traduzido pela correspondente da UJC na Itália Dyliane Gonçalves)