domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os desafios do socialismo no século 21 na Venezuela


Entrevista com Chronis Polychroniou, editor do diário grego Eleftherotypia



Por William I. Robinson



Há histórias preocupantes vindo da Venezuela. A situação na fronteira está tensa, há uma nova base militar colombiana próxima à fronteira, o acesso dos EUA a várias novas bases na Colômbia... Será que o regime se preocupa com uma possível invasão? Se sim, quem está para intervir?


Chronis Polychroniou - O governo venezuelano está preocupado acerca de uma possível invasão estadunidense. Contudo, penso que os EUA estão seguindo uma estratégia de intervenção mais refinada que podíamos denominar guerra de atrito. Já vimos esta estratégia em outros países, tais como na Nicarágua na década de 1980, ou mesmo no Chile sob Allende. É o que no léxico da CIA é conhecido como desestabilização, e na linguagem do Pentágono é chamado guerra política – o que não significa que não haja componente militar. É uma estratégia que combina ameaças militares e hostilidades com operações psicológicas, campanhas de desinformação, propaganda, sabotagem econômica, pressões diplomáticas, mobilização de forças da oposição política dentro do país, manipulação de setores insatisfeitos e a exploração de queixas legítimas entre a população. A estratégia é hábil em aproveitar dos próprios erros e limitações da revolução, tais como corrupção, clientelismo e oportunismo, os quais devemos reconhecer que são problemas sérios na Venezuela. É hábil também em agravar e manipular problemas materiais, tais como escassez, inflação dos preços e assim por diante.



O objetivo é destruir a revolução tornando-a não funcional, pela exaustão da vontade da população em continuar a lutar para forjar uma nova sociedade e, deste modo, minar a base social de massa da revolução. De acordo com a estratégia dos EUA a revolução deve ser destruída fazendo com que entre em colapso por si mesma, minando a notável hegemonia que o chavismo e o bolivarianismo foram capazes de alcançar dentro da sociedade civil venezuelana ao longo da última década. Os EUA esperam provocar Chávez de modo a que tome a posição de transformar o processo socialista democrático num processo autoritário. Na visão deles, Chávez finalmente será removido do poder através de um cenário produzido pela guerra de atrito constante – seja através de eleições, de um putsch militar interno, um levantamento, deserções em massa do campo revolucionário, ou uma combinação de fatores que não podem ser antecipados.



Neste contexto, as bases militares na Colômbia proporcionam uma plataforma crucial para operações de inteligência e reconhecimento contra a Venezuela e também para a infiltração militar contra-revolucionária, a sabotagem econômica e grupos terroristas. Estes grupos de infiltração destinam-se a provocar reações do governo e sincronizar a provocação armada com toda a gama de agressões políticas, diplomáticas, psicológicas, econômicas e ideológicas que fazem parte da guerra de atrito.



Além disso, a simples ameaça de agressão militar dos EUA que as bases representam constitui uma poderosa operação psicológica estadunidense destinada a elevar as tensões dentro da Venezuela, forçar o governo a posições extremistas ou a fortalecer as forças internas anti-chavistas e contra-revolucionárias.



Entretanto, é importante verificar que as bases militares fazem parte de uma estratégia mais ampla dos EUA em relação a toda a América Latina. Os EUA e a direita na América Latina lançaram uma contra-ofensiva para reverter a guinada para a esquerda ou a chamada "Maré Rosa". A Venezuela é o epicentro de um emergente bloco contra-hegemônico na América Latina. Mas a Bolívia, Equador e os movimentos sociais e forças políticas de esquerda da região são igualmente alvos desta contra-ofensiva tal como a Venezuela. O golpe em Honduras deu ímpeto a esta contra-ofensiva e fortaleceu a direita e as forças contra-revolucionárias. A Colômbia tornou-se o epicentro regional da contra-revolução – realmente um bastião do fascismo século 21.



A "Revolução Bolivariana" de Chávez tem sido muito popular entre os pobres. Poderia explicar como a sociedade venezuelana tem mudado desde que Chávez chegou ao poder?


Em primeiro lugar, vamos reconhecer que a Revolução Bolivariana colocou o socialismo democrático na agenda mundial depois de atravessarmos um período na década de 1990 em que muitos ficavam mesmo alarmados em falar de socialismo, quando parecia que o capitalismo global havia atingido o pico da sua hegemonia e quando alguns na esquerda compravam a tese do "fim da história".



A Revolução Bolivariana deu às massas pobres e em grande medida afro-caribenhas a sua voz pela primeira vez desde a guerra da independência do colonialismo espanhol. O governo Chávez reorientou prioridades para a maioria pobre. Ele foi capaz de utilizar os rendimentos do petróleo, em particular, para desenvolver saúde, educação e outros programas sociais que tiveram resultados dramáticos na redução da pobreza, eliminando virtualmente o analfabetismo e melhorando a saúde da população. Organizações internacionais e agências têm reconhecido estas notáveis realizações sociais.



Contudo, como alguém que visita a Venezuela regularmente, eu diria que a mudança mais fundamental desde que Chávez chegou ao poder não é a destes indicadores sociais mas sim o despertar político e sócio-psicológico da maioria pobre – um vasto processo popular de mobilização das bases, expressão cultural, participação política e participação no poder. A velha elite e a burguesia foram parcialmente substituídas no Estado e do poder político formal – embora não inteiramente. Mas o medo real e o ressentimento dos velhos grupos dominantes, o pânico e o seu ódio contra Chávez é porque eles sentiram deslizar do seu domínio a capacidade confortável de exercer dominação cultura e sócio-psicológica sobre as classes populares como o fizeram durante décadas, mesmo séculos. Naturalmente, ali ainda há outros muitos mecanismos através dos quais a burguesia e os agentes políticos do antigo regime são capazes de exercer sua influência, particularmente através dos meios de comunicação que em grande medida ainda estão nas suas mãos.



Quão avançados são os planos de nacionalização de Chávez? Há alguma evidência de que eles levam aos resultados desejados?


A grande mudança econômica óbvia foi a recuperação do petróleo do país para um projeto popular – e mesmo que haja ainda uma burocrática oligarquia PDVSA. Outras empresas chave, tais como a siderurgia, foram nacionalizadas. E o setor cooperativo – com todos os seus problemas – tem se ampliado. No entanto, o poder econômico ainda está em grande medida nas mãos da burguesia.



A estratégia da revolução tem sido erguer novas instituições paralelas e também tentar "colonizar" o velho Estado. Mas o Estado venezuelano ainda é em grande medida um Estado capitalista. A questão chave é: como pode um projeto de transformação avançar enquanto opera através de um Estado corrupto, clientelista, burocrático e muitas vezes inerte legado pelo antigo regime? Se forças revolucionárias e socialistas chegam ao poder dentro de um processo político capitalista como você confronta o Estado capitalista e os entreves que ele coloca nos processos de transformação? De fato, na Venezuela, e também na Bolívia, as instituições do Estado muitas vezes atuam para constranger, diluir e cooptar lutas de massas vindas de baixo.



Do meu ponto de vista, na Venezuela a maior ameaça à revolução não vem da oposição política de direita, mas sim da chamada direita "endógena" ou "chavista" e pertencente ao bloco revolucionário, incluindo elites do Estado e responsáveis partidários, desenvolverão um interesse mais profundo em defender o capitalismo global do que na transformação socialista.



A revolução tem mais de uma década. Está amadurecendo ou está chegando a uma etapa de declínio e deformação?


Eu não diria que a revolução está em "declínio" ou "deformação". A guinada à esquerda na América Latina começou como uma rebelião contra o neoliberalismo. Os regimes pós neoliberais empreenderam suaves reformas redistributivas e nacionalizações limitadas, particularmente de recursos energéticos e serviços públicos que anteriormente haviam sido privatizados. Eles foram capazes de reativar a acumulação. Mas o pós-neo-liberalismo que atualmente não caminha em direção a uma profunda transformação socialista, está rapidamente a atingir os seus limites.



O processo bolivariano enfrenta contradições, problemas e limitações, tal como todos os projetos históricos. Eu diria que tanto a revolução venezuelana como os processos boliviano e equatoriano podem estar a rebelar-se contra os limites da reforma redistributiva dentro da lógica do capitalismo global, especialmente considerando a atual crise do capitalismo global. O anti-neoliberalismo que não desafia mais fundamentalmente a própria lógica do capitalismo choca-se contra limitações que podem agora ter sido atingidas.



Pode ser que a melhor ou a única defesa da revolução seja radicalizar e aprofundar o processo, pressionar pelo avanço de transformações estruturais que vão além da redistribuição. O fato é que a burguesia venezuelana pode ter sido deslocada em parte do poder político, mas ainda detém grande parte do controle economico. Romper tal controle implica uma mudança mais significativa na propriedade e nas relações de classe. Isto por sua vez significa romper a dominação do capital, do capital global e dos seus agentes locais.



Recordemos as lições da Nicarágua e de outras revoluções. Alianças multi-classe geram contradições desde que a etapa da lua-de-mel da reforma redistributiva e dos programas sociais fáceis alcancem o seu limite. Então as alianças multi-classe começam a entrar em colapso porque há contradições fundamentais entre distintos projetos e interesses de classe. Nesse ponto, uma revolução deve definir mais claramente o seu projeto de classe; não apenas no discurso ou na política mas na transformação estrutural real.



A um nível mais técnico, poderíamos dizer que as contradições geradas pela tentativa de romper a dominação do capital global não são uma falha da revolução. A Venezuela ainda é um país capitalista no qual a lei do valor, da acumulação de capital, está operativa. Esforços para estabelecer uma lógica contrária – uma lógica da necessidade social e da distribuição social – chocam-se contra a lei do valor. Mas numa sociedade capitalista violar a lei do valor lança tudo na loucura, gerando muitos problemas e novos desequilíbrios que a contra-revolução é capaz de aproveitar. Isto é o desafio para qualquer revolução orientada para o socialismo dentro do capitalismo global.



William I. Robinson é professor de Sociologia, Universidade da Califórnia – Santa Bárbara



(Publicado originalmente em http://www.zmag.org/znet/ viewArticle/23797)


CUBA É UMA DITADURA?




(Agência Brasil de Fato)


Essa discussão é um capítulo importante na agenda da contra-ofensiva à hegemonia do pensamento de direita


Breno Altman


O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues (Folha de S.Paulo), no último dia 11/02, respondeu afirmativamente à pergunta que faz as vezes de título desse artigo. Com ressalvas de contexto, identificando no longo bloqueio norte-americano uma das causas do que chamou de "fechamento político", Dutra assumiu a mesma definição dos setores conservadores quando abordam a natureza do regime político existente na ilha caribenha.

Essa discussão é um capítulo importante na agenda da contra-ofensiva à hegemonia do pensamento de direita. Afinal, a possibilidade do socialismo foi estabelecida pelos centros hegemônicos não apenas como economicamente inviável e trágica, mas também como intrinsecamente autoritária.

Quando o colapso da União Soviética permitiu aos formuladores do campo vitorioso declarar o capitalismo e a economia de livre-mercado como o final da história, de lambuja também fixaram o sistema político vigente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos como a única alternativa democrática aceitável.

Não foram poucos os quadros de esquerda que assumiram esse conceito como universal e abdicaram da crítica ao funcionamento institucional dos países capitalistas. Alguns se arriscaram a ir mais longe, aceitando esse modelo como paradigma para a classificação dos demais regimes políticos.

Na tradição do liberalismo, base teórica da democracia ocidental, a identificação e a quantificação da democracia estão associadas ao grau de liberdade existente. Quanto mais direitos legais, mais democrático seria o sistema de governo. No fundo, democracia e liberdade seriam apenas denominações diferentes para o mesmo processo social.

Pouco importa que o exercício dessas liberdades seja arbitrado pelo poder econômico. As disputas eleitorais e a criação de veículos de comunicação, por exemplo, são determinadas em larga escala pelos recursos financeiros de que dispõem os distintos setores políticos e sociais.

No modelo democrático-liberal, afinal, os direitos formais permitem o acesso irrestrito das classes proprietárias ao poder de Estado, que podem usar amplamente sua riqueza para mercantilizar a política e seus instrumentos, especialmente a mídia. Basta acompanhar o noticiário político para se dar conta do caráter cada vez mais censitário da democracia representativa.

A revolução cubana ousou ter entre suas bandeiras a criação de outro tipo de modelo político, no qual a democracia é concebida essencialmente como participação popular. Ao longo de cinco décadas, mesmo com as dificuldades provocadas pelo bloqueio norte-americano, forjou uma rede de organismos que mobilizam parcelas expressivas de sua população.

A maioria dos cubanos participa de reuniões de células partidárias, do comitê de defesa da revolução de sua quadra, dos sindicatos de sua categoria, além de outras organizações sociais que fazem parte do mecanismo decisório da ilha. Não são somente eleitores que delegam a seus representantes a tarefa de legislar e governar, ainda que também votem para deputados – o regime cubano é uma forma de parlamentarismo. Esse tipo de participação talvez explique porque Cuba, mesmo enfrentando enormes privações, não seguiu o mesmo curso de seus antigos parceiros socialistas.

O modelo cubano não nasceu expurgando seus opositores ou instituindo o mono-partidarismo. Poderia ter se desenvolvido com maior grau de liberdade, mas teve que se defender de antigos grupos dirigentes que se decidiram pela sabotagem e o desrespeito às regras institucionais como caminhos para derrotar a revolução vitoriosa. Na outra ponta, as diversas agremiações que apoiavam a revolução (além do Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel, o Diretório Revolucionário 13 de Março e o Partido Socialista Popular) foram se fundindo em um só partido, o comunista, oficialmente criado em 1965.

Os círculos contra-revolucionários, patrocinados pelo governo democrata de John Kennedy, organizaram a invasão da Baía dos Porcos em 1961. Aliaram-se a CIA em algumas dezenas ou centenas de tentativas para assassinar Fidel Castro e outros dirigentes cubanos. Associados a seguidas administrações norte-americanas, criaram uma situação de guerra e passaram a operar como braços de um país estrangeiro que jamais aceitou a opção cubana pela soberania e a independência.

A restrição das liberdades foi a salvaguarda de uma nação ameaçada, vítima de uma política de bloqueio e sabotagem que já dura meio século. Os Estados Unidos dispõem de diversos planos públicos, para não falar dos secretos, cujo objetivo é financiar e apoiar de todas as formas a oposição cubana. Vamos combinar: já imaginaram, por exemplo, o que ocorreria se um setor do partido democrata recebesse dinheiro cubano, além de préstimos do serviço de inteligência, para conquistar a Casa Branca?

Claro que o ambiente de guerra e a redução das liberdades formais impedem o desenvolvimento pleno do modelo político fundado pela revolução de 1959. Vícios de burocratismo e autoritarismo estão presentes nas instâncias de poder. Mas ainda nessas condições adversas, o governo cubano veio institucionalizando interessante sistema de participação popular. O contrapeso ao modelo de partido único, opção tomada para blindar a revolução sob permanente ataque, é um sistema de organizações não-partidárias que exercem funções representativas na cadeia de comando do Estado.

A Constituição de 1976, reformada em 1992, estabeleceu o ordenamento jurídico do modelo. Um dos principais ingredientes foi a criação do Poder Popular, com suas assembléias locais, municipais, provinciais e nacional. Seus representantes são eleitos em distritos eleitorais, em voto secreto e universal. Os candidatos são obrigatoriamente indicados por organizações sociais, em um processo no qual o Partido Comunista não pode apresentar nomes – aliás, ao redor de 300 dos 603 membros da Assembléia Nacional não são filiados comunistas.

O Poder Popular é quem designa o Conselho de Estado e o Conselho de Ministros, principais instâncias executivas do país, além de aprovar as leis e principais planos administrativos. Seus integrantes não são profissionais da política: continuam a desempenhar suas atividades profissionais e se reúnem, em âmbito nacional, duas vezes ao ano para deliberar sobre as principais questões.

A Constituição também prevê mecanismos de consulta popular. Dispondo desse direito, o dissidente Oswaldo Payá, líder do Movimento Cristão de Libertação, reapresentou à Assembléia Nacional do Poder Popular, em 2002, uma petição com 10 mil assinaturas para que fosse organizado referendo que modificasse o sistema político e econômico na ilha.

O governo reuniu 800 mil registros para propor outro plebiscito, que tornava o socialismo cláusula pétrea da Constituição. Teve preferência pela quantidade de assinaturas. Cerca de 7,5 milhões de cubanos (65% do eleitorado), apesar do voto em referendo ser facultativo, votaram pela proposta defendida por Fidel Castro.

Tratam-se apenas de algumas indicações e exemplos de que o novo presidente petista pode ter sido um pouco apressado em suas declarações. As circunstâncias históricas levaram Cuba a restringir liberdades. Mas seu sistema político deveria ser analisado com menos preconceito, sem endeusamento do modelo liberal, no qual a existência de direitos formais amplos não representa garantias para um funcionamento democrático baseado na participação popular.


Breno Altman é jornalista e diretor do sítio Opera Mundi (www.operamundi.com.br)





Luta de classes na Grécia

Greve geral de 24 horas na Grécia

A plutocracia deve pagar pela crise!



A nova greve de 24 horas, deflagrada em 24 de fevereiro contra os planos do governo social-democrata do PASOK para colocar a carga da crise do capitalismo nos ombros dos trabalhadores, obteve um grande sucesso.



Milhões de trabalhadores resistiram à intimidação dos partidos do capital (o social-democrata PASOK, o conservador ND, e o extrema-direita, racista LAOS) que argumentam que os trabalhadores devem se submeter para que se "resgate o país da falência". O "patriotismo" dessas forças políticas tem somente um objetivo: manter e expandir o lucro do capital as expensas dos ganhos dos trabalhadores através do aumento das idades para a aposentadoria, corte de salários e pensões, com o posterior desmonte do sistema de seguridade social, deteriorando as relações de trabalho e aumentando impostos contra o povo.



Ao mesmo tempo a vasta maioria do povo trabalhador foi mobilizada e participou das atividades de massa organizadas pelo PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores), a aliança classista orientou os sindicatos na Grécia. PAME organizou federações industriarias, Centros de Trabalho (organizações sindicais regionais), como também o fez com centenas de sindicatos de base. Em conseqüência, a maioria dos trabalhadores demonstrou sua aversão às federações sindicais comprometidas do setor privado (GSEE) e do setor público que – justamente como o governo do PASOK faz – afirmam que "jogos especulativos" contra a Grécia são o maior problema deste país. Em verdade, a especulação é simplesmente um resultado e aspecto da decadência do sistema capitalista e demonstração das contradições intra-imperialistas entre o Euro e o Dólar. A vasta maioria do povo trabalhador que participou das demonstrações do PAME em 70 cidades demonstrou que ela apóia de confrontação geral coma burguesia, linha essa promovida pela PAME, que exige que a plutocracia pague pela crise e luta contra a União Européia, a frente unida capitalista contra o povo e suas medidas contra os direitos trabalhistas, a fim de alimentar a luta para a derrocada do poder do capital.



Preparação da greve - Bloqueio da Bolsa de Valores de Atenas



A PAME preparou esta greve, visitando centenas de locais de trabalho, discutindo com os trabalhadores sobre a necessidade da luta e preparação desta batalha em todos os níveis. A esta altura, devemos mencionar o encontro organizado em Atenas pelo Secretariado de Imigrantes da PAME. Nessa reunião, compareceram imigrantes de todo o mundo que vivem e trabalham na Grécia e aderiram às ações da PAME.



Os comunistas desempenharam um papel significativo na organização desta greve através da campanha política que o Partido Comunista Grego travou nos locais de trabalho, revelando os objetivos reais do governo e chamando o povo trabalhador à luta contra aquelas medidas. Na véspera da greve, o Bureau de Imprensa do CC do Partido Comunista Grego enfatizou, entre outros: "O governo, a União Européia e a plutocracia já disseram o suficiente. Se essas medidas bárbaras serão aprovadas, ou não, depende, também, da postura e das ações do povo trabalhador. Por esse motivo, o Partido Comunista Grego conclama todos os trabalhadores, independentemente de partido em que tenha votado nas eleições, a assumirem uma posição classista patriótica através da participação na greve e nos eventos de massa da PAME. Conclama os trabalhadores a desafiar a manipulação e intimidação dos empregadores. A luta e o sacrifício de nossa classe, o presente e o futuro da classe trabalhadora exigem que se posicionem e lutem; não para desistir dos recentes direitos populares como exigido pelas necessidades do capitalista do lucro e da competitividade.



Além disso, o Partido Comunista Grego colou cartazes e organizou demonstrações nas vizinhas de Atenas e outras cidades por todo o país encorajando o povo trabalhador a unir-se à luta.



O bloqueio do prédio da bolsa de valores de Atenas pelas forças da PAME desempenhou um papel significativo na propagação e no sucesso da greve. Em 23 de fevereiro, às 6:30 da manhã as forças da PAME bloquearam as três entradas do prédio da Bolsa , símbolo da pilhagem do povo trabalhador, de seus fundos de pensão e poupança (wealth = riqueza) por um punhado de capitalistas. "A plutocracia é quem deve pagar pela crise" foi o slogan da propaganda da PAME. Ao mesmo tempo, cartazes revelavam: "Aqui está o dinheiro: os depósitos das empresas, em 2004, foram: 36 bilhões de euros; em 2009, 136 bilhões de euros. 250 mil trabalhadores recebem um salário de 740 euros. Na mesma época, 700 bilhões de euros estão nos bolsos das grandes empresas. O PASOK e o ND encheram os bolsos dos banqueiros com quantias que vão de 233 a 759 bilhões de euros."



No dia da greve milhares de trabalhadores e estudantes juntaram-se aos piquetes da PAME nas portas das fábricas e outros locais de trabalho.



Greve e manifestações de massa em Atenas.



Milhares de fábricas e empresas, locais de construção, escolas, portos e aeroportos, a toda atividade produtiva foi congelada. A participação da massa na greve e as manifestações da PAME deram uma resposta vigorosa ao governo e à União Européia. Foram criadas melhores condições para o surgimento de um contra-ataque dinâmico dos trabalhadores e do povo que evitará aquelas medidas bárbaras e a derrocada final da política anti-povo.



Em Atenas, a manifestação de massa ocorreu na praça Omonia, no centro da cidade. O presidente da federação dos sindicatos dos gráficos, Iannis Tolis, em seu discurso no comício, enfatizou o seguinte, entre outras (frases): "As forças do capital e seus representantes políticos entendem que, quanto mais chantagearem e intimidarem os trabalhadores, quanto mais tentam iludi-los e colocar novos encargos sobre eles, mais ódio e indignação eles causam. Eles temem a perspectiva de um levante geral dos trabalhadores e , por esse motivo, também o governo e os empregadores, a oposição, o ND e a UE, como também seus instrumentos e partidos de via única da EU, criaram uma frente única. Eles erram ao acreditar que podem manipular a vontade do povo, quando este está no caminho da luta de classes. A História provou que, quando um rio toma seu curso, ele não pode retomar o caminho já trilhado."



Representantes dos imigrantes e da Frente de luta dos Estudantes (MAS) desenvolveram saudações à mobilização.


Do comício também participou uma delegação do CC do Partido Comunista Grego liderada pelo Secretário do partido, Aleka Papariga, que fez a seguinte declaração: "Os trabalhadores deve superar o medo e o fatalismo. Eles devem intimidar o inimigo e não cair na armadilha da escolha entre a União Eeuropéia e os EUA como o primeiro-ministro, Sr. Papandreu, pretende."


Daí em diante, os manifestantes se dirigiram ao Parlamento Grego.


Fonte: http://inter.kke.gr/News/2010news/2010-02-generalstrike


(do Partido Comunista Grego)


Tradução: Humberto Carvalho



Médicos de Cuba no Haiti: a solidariedade silenciada

José Manzaneda *

[Esse texto, traduzido por Adital, é o roteiro do seguinte vídeo, em espanhol:
http://www.cubainformacion.tv/index.php?option=com_content&task=view&id=13417&Itemid=86

Você pode inserir seus comentários sobre o vídeo no YouTube e participar no
debate: http://www.youtube.com/watch?v=6DikHDHXvL0]


Os aproximadamente 400 cooperantes da Brigada médica cubana no Haiti foram a
mais importante assistência sanitária ao povo haitiano durante as primeiras
72 horas após o recente terremoto. Essa informação foi censurada pelos
grandes meios de comunicação internacionais.

A ajuda de Cuba ao povo haitiano não começou por ocasião do terremoto. Cuba
atua no Haiti desde 1998 desenvolvendo um Plano Integral de Saúde(1),
através do qual já passaram mais de 6.000 cooperantes cubanos da saúde.
Horas depois da catástrofe, no dia 13 de janeiro, somavam-se à brigada
cubana 60 especialistas em catástrofes, componentes do Contingente "Henry
Reeve", que voaram de Cuba com medicamentos, soro, plasma e alimentos(2). Os
médicos cubanos transformaram o local onde viviam em hospital de campanha,
atendendo a milhares de pessoas por dia e realizando centenas de operações
cirúrgicas em 5 pontos assistenciais de Porto Príncipe. Além disso, ao redor
de 400 jovens do Haiti formados como médicos em Cuba se uniam como reforço à
brigada cubana(3).

Os grandes meios silenciaram tudo isso. O diário El País, em 15 de janeiro,
publicava uma infografia sobre a "Ajuda financeira e equipamentos de
assistência", na qual Cuba nem sequer aparecia dentre os 23 Estados que
haviam colaborado(4). A cadeia estadunidense Fox News chegava a afirmar que
Cuba é dos poucos países vizinhos do Caribe que não prestaram ajuda.
Vozes críticas dos próprios Estados Unidos denunciaram esse tratamento
informativo, apesar de que sempre em limitados espaços de difusão.
Sarah Stevens, diretora do Center for Democracy in the Americas(5) dizia no
blog The Huffington Post: Se Cuba está disposta a cooperar com os EUA
deixando seu espaço aéreo liberado, não deveríamos cooperar com Cuba em
iniciativas terrestres que atingem a ambas nações e os interesses comuns de
ajudar ao povo haitiano?(6)

Laurence Korb, ex-subsecretário de Defesa e agora vinculado ao Center for
American Progress(7), pedia ao governo de Obama "aproveitar a experiência de
um vizinho como Cuba" que "tem alguns dos melhores corpos médicos do mundo"
e com quem "temos muito o que aprender"(8).
Gary Maybarduk, ex-funcionário do Departamento de Estado propôs entregar às
brigadas médicas equipamento duradouro médico com o uso de helicópteros
militares dos EUA, para que possam deslocar-se para localidades pouco
accessíveis do Haiti(9).

E Steve Clemons, da New America Foudation(10) e editor do blog político The
Washington Note(11), afirmava que a colaboração médica entre Cuba e EUA no
Haiti poderia gerar a confiança necessária para romper, inclusive, o
estancamento que existe nas relações entre Estados Unidos e Cuba durante
décadas(12).

Porém, a informação sobre o terremoto do Haiti, procedente de grandes
agências de imprensa e de corporações midiáticas situadas nas grandes
potências, parece mais a uma campanha de propaganda sobre os donativos dos
países e cidadãos mais ricos do mundo. Apesar de que a vulnerabilidade
diante da catástrofe por causa da miséria é repetida uma e outra vez pelos
grandes meios, nenhum quis se debruçar para analisar o papel das economias
da Europa ou dos EUA no empobrecimento do Haiti. O drama desse país está
demonstrando uma vez mais a verdadeira natureza dos grandes meios de
comunicação: ser o gabinete de imagem dos poderosos do mundo, convertidos em
doadores salvadores do povo haitiano quando foram e são, sem paliativos,
seus verdadeiros verdugos.

*Quadro Informativo 1. Dados da cooperação de Cuba com o Haiti desde 1998:*
- Desde dezembro de 1998, Cuba oferece cooperação médica ao povo haitiano
através do Programa Integral de Saúde;
- Até hoje trabalharam no setor saúde no Haiti 6.094 colaboradores que
realizaram mais de 14 milhões de consultas médicas, mais de 225.000
cirurgias, tendo atendido a mais de 100.000 partos e salvado mais de 230.000
vidas.
- Em 2004, após a passagem da tormenta tropical Jeanne pela cidade de
Gonaives, Cuba ofereceu sua ajuda com uma brigada de 64 médicos e 12
toneladas de medicamentos.
- 5 Centros de Diagnóstico Integral, construídos por Cuba e pela Venezuela,
prestavam serviços ao povo haitiano antes do terremoto.
- Desde 2004 é realizada a Operação Milagre no Haiti e até 31 de dezembro de
2009 haviam sido operados um total de 47.273 haitianos.
- Atualmente, estudam em Cuba um total de 660 jovens haitianos; destes, 541
serão diplomados como médicos.
- Em Cuba já foram formados 917 profissionais, dos quais 570 como médicos.
Cuba coopera com o Haiti em setores tais como a agricultura, a energia, a
pesca, em comunicações, além de saúde e educação.
- Como resultado da cooperação de Cuba na esfera da educação, foram
alfabetizados 160.030 haitianos.

*Quadro 2. Dados das atuações do Contingente Internacional de Médicos
Cubanos Especializados em Situações de Desastres e Graves Epidemias, Brigada
"Henry Reeve", anteriores à cooperação no Haiti:*
- Desde sua constituição, a Brigada Henry Reeve cumpriu missões em 7 países,
com a presença de 4.156 colaboradores, dos quais 2.840 são médicos.
- Guatemala (Furacão Stan): 8 de outubro de 2005, 687 colaboradores; destes
600 médicos.
- Paquistão (Terremoto): 14 de outubro de 2005, 2 564 colaboradores; destes
1 463 médicos.
- Bolívia (inundações): 3 de fevereiro de 2006-22 de maio, 602
colaboradores; destes, 601 médicos.
- Indonésia (Terremoto): 16 de maio 2006, 135 colaboradores; destes, 78
médicos.
- Peru (Terremoto): 15 de agosto 2007-25 de março 2008, 79 colaboradores;
destes, 41 médicos.
- México (inundações): 6 de novembro de 2007 - 26 de dezembro, 54
colaboradores; destes, 39 médicos.
- China (terremoto): 23 de maio 2008-9 de junho, 35 colaboradores; destes,
18 médicos.
- Foram salvas 4 619 pessoas.
- Foram atendidos em consultas médicas 3.083.158 pacientes.
- Operaram (cirurgia) a 18 898 pacientes.
- Foram instalados 36 hospitais de campanha completamente equipados, que
foram doados por Cuba (32 ao Paquistão, 2 a Indonésia e 2 ao Peru).
- Foram beneficiados com próteses de membros em Cuba 30 pacientes atingidos
pelo terremoto do Paquistão.

Notas:
(1) http://cubacoop.com/
(2)
http://www.prensa-latina.cu/index.php?option=com_content&task=view&id=153705&Itemid=1
(3) http://www.ain.cu/2010/enero/19cv-cuba-haiti-terremoto.htm
(4)
http://www.pascualserrano.net/noticias/el-pais-oculta-344-sanitarios-cubanos-en-haiti
(5) http://democracyinamericas.org/
(6)
http://www.huffingtonpost.com/sarah-stephens/to-increase-help-for-hait_b_425224.html
(7) http://www.americanprogress.org/
(8)
http://www.csmonitor.com/USA/Military/2010/0114/Marines-to-aid-Haitian-earthquake-relief.-Butwho-
s-in-command
(9)
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/01/14/AR2010011404417_2.html
(10) http://www.newamerica.net/
(11) http://www.thewashingtonnote.com/
(12) http://www.thewashingtonnote.com/archives/2010/01/american_diplom/

**********

*Leia também em espanhol:
Enviamos médicos y no soldados
<http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=ES&cod=44522>(Fidel Castro
Ruz, Enero 23 de 2010, 5 y 30 p.m.)

* Coordinador de Cubainformacióninter

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Há apenas uma verdade histórica: aquela escrita pelos povos!

A 4a Reunião Européia de Educação foi realizada em Bruxelas, em 5 de fevereiro. Este ano o encontro teve como eixo as distorções sofridas na história da Segunda Guerra Mundial no processo de educação.


A reunião foi organizada pelo Partido Comunista da Grécia e ocorreu no edifício do Parlamento europeu, contando com a presença de 25 representantes de partidos comunistas e trabalhadores. Durante a reunião, os participantes apresentaram fatos acontecidos nas escolas e informações coletadas em livros acadêmicos sobre a falsificação da história da Segunda Guerra Mundial. Foram divulgadas as metas desta campanha e suas referidas experiências na ação contra a manipulação ideológica da juventude. A reunião emitiu a seguinte declaração conjunta:
Condenamos a feroz campanha anticomunista que está em andamento por toda a Europa.
Algumas organizações imperialistas, tais como a União Européia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), bem como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o Conselho da Europa e quase todos os governos europeus burgueses, lançam e encaminham uma campanha de mentiras e calúnias, cujo objetivo estratégico é contaminar os trabalhadores e a consciência popular com este flagrante anticomunismo. Visam é apagar a contribuição sem precedentes do socialismo no século XX e confirmam a permanência do sistema capitalista. Nos momentos de crise capitalista, o anticomunismo é a ponta de lança para a promoção de ofensivas mais graves contra os trabalhadores. Esta ofensiva levada à frente pela União Européia, a classe burguesa e os governos que lhes dão suporte (governos liberais e social-democratas), visa assegurar a máxima rentabilidade para o capital. Além disso, promovem anticomunismo no que diz respeito a todos os eventos históricos, distorcendo o socialismo e até mesmo as revoluções nacional-democráticas, a luta de classes e a evolução histórica. Esta campanha destina-se especialmente aos jovens para que os mesmos não possam aprender a verdade histórica e adotem a propaganda anti-socialista.
A falsificação da história - e especialmente da história da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) - tem mais uma finalidade: impedir os trabalhadores e o povo europeu de conceber a possibilidade e a necessidade de derrubar o cruel sistema capitalista, substituindo-o pelo socialismo.
Um dos objetivos centrais deste atentado ideológico e político é a distorção da história da Segunda Guerra Mundial. É uma tentativa de relacionar abertamente o socialismo e o comunismo com o fascismo sem qualquer base histórica. Prova disso é a evidência de que o nazifascismo baseia-se em uma ideologia de ódio e xenofobia, enquanto o comunismo e o socialismo baseiam-se em uma ideologia de solidariedade e justiça social. Os dois são ideologicamente distintos e opostos.
São feitos esforços especiais para distorcer os motivos que levaram à Segunda Guerra Mundial, declarando 23 de agosto o dia da Recordação Anticomunista. Trata-se de uma contínua tentativa de violar a verdade histórica através da depreciação consciente do papel indispensável da União Soviética na grande vitória anti-fascista e no desenvolvimento da Europa pós-guerra. A propaganda anti-socialista e os recentes acontecimentos na ocasião do 20° Aniversário da Queda do Muro de Berlim seguem a linha da direção reacionária de falsificação da verdade histórica.
A verdade histórica não pode ser apagada. A contribuição do socialismo para a derrota do fascismo, na luta pelos direitos do povo, na construção da confiança para o futuro e nas realizações populares nos países socialistas é incontestável. Devemos sublinhar também o impacto destas conquistas a favor da classe trabalhadora nos países capitalistas, forçando-os a fazerem concessões em relação a luta dos povos. Independente de suas deficiências e problemas, as realizações do socialismo são hoje um sonho para aqueles que vivem no sistema capitalista, tendo em vista que este não resolve e não irá resolver os problemas que afligem os povos.
Apoiaremos com toda a nossa força a luta para defender e realçar a verdade histórica e científica nas escolas, instituições e universidades. Exigimos a erradicação do anticomunismo de livros escolares e universitários. É necessário que as jovens gerações sejam ensinadas e aprendam a verdade histórica sobre a Segunda Guerra Mundial, as leis da natureza e da sociedade humana. Em particular, devem aprender a teoria da evolução de Darwin e a teoria marxista da estrutura de classe, a luta de classe e da análise do capitalismo como um sistema econômico.
O papel dos comunistas e dos partidos de trabalhadores, assim como das organizações juvenis comunistas, é vital no trabalho de massas, dando atenção principal aos estudantes e jovens trabalhadores. A este esforço podem contribuir o trabalho dos cientistas, educadores, acadêmicos e personalidades sociais. A classe trabalhadora e as camadas populares têm o direito de lutar por uma sociedade sem exploração - o socialismo.
Condenamos fortemente a perseguição e a proibição dos partidos comunistas e das organizações de juventudes comunistas. Manifestamos a nossa total solidariedade com todas as vítimas do anticomunismo. As caças às bruxas e os ataques promovidos por essa campanha torna evidente que a "democracia" da União Européia está atrelada ao capital e aos meios de multinacionais. É uma "democracia" para poucos e exploração e opressão para os muitos.
1.Partido dos Trabalhadores da Bélgica
2.Partido Comunista da Grã-Bretanha
3.Novo Partido Comunista da Grã-Bretanha
4.Partido dos Comunistas do Bulgária
5.Partido Socialista dos Trabalhadores da Croácia
6.Chipre-AKEL
7.Partido Comunista da Boêmia Morávia
8.Partido Comunista na Dinamarca
9.Partido Comunista da Dinamarca
10.Partido Comunista da Estónia
11.Partido Comunista Alemão (DKP)
12.Partido Comunista da Grécia
13.Partido dos Trabalhadores da Irlanda
14.Partido Socialista da Letônia
15.Partido Socialista da Lituânia
16.Partido Comunista de Luxemburgo
17.Partido Comunista de Malta
18.Novo Partido Comunista dos Países Baixos
19.Partido Comunista da Polônia
20.Partido Comunista Português
21.Partido Comunista da Federação da Rússia
22.Partido Comunista Operário da Rússia - Partido Comunista Revolucionário
23.Partido Comunista da Eslováquia
24.União dos Comunistas da Ucrânia
Como convidado: Pólo de Renascimento Comunista Francês
Tradução: Maria Fernanda Magalhães Scelza


V CONGRESSO NACIONAL DA UNIÃO DA JUVENTUDE COMUNISTA


"JOSÉ MONTENEGRO DE LIMA"




Goiânia-GO – 02, 03 e 04 de abril de 2010.




A Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista coloca a disposição de seus militantes, amigos e simpatizantes as teses ao V Congresso Nacional da União da Juventude Comunista, cujo homenageado será o camarada JOSÉ MONTENEGRO DE LIMA. As teses estão publicadas no site da União da Juventude Comunista



O V Congresso Nacional da UJC ocorrerá nos dias 02, 03 e 04 de abril de 2010 nas dependências da Universidade Federal de Goiás – UFG. O Congresso será precedido de um Seminário Internacional no dia 01 de abril. São esperadas delegações internacionais, militantes e convidados de todas as regiões do Brasil.



O congresso terá o seguinte temário: Conjuntura, Juventude, Organização, Frentes de Luta, Balanço dos Trabalhos de Direção (2006-2010), e Eleição da Coordenação Nacional da UJC. Através da Tribuna de Debates no site da UJC, das reuniões dos núcleos, plenárias e congressos estaduais a militância da Juventude Comunista terá a possibilidade de enriquecer o acúmulo e a análise da organização.



Fundada no dia primeiro de agosto de 1927, a União da Juventude Comunista – UJC, ira completar, em agosto de 2010, 83 anos, estando sempre ao lado da juventude brasileira na luta pelo socialismo. A UJC é a expressão política e organizativa do Partido Comunista Brasileiro – PCB junto à juventude. Nossa história se converge com a história de luta, erros e acertos, vitórias e derrotas do PCB. A UJC vivenciou boa parte de sua trajetória na ilegalidade ou semi-legalidade, formando novos quadros e militantes para o PCB e para luta da juventude pelo socialismo, na perspectiva do comunismo. Co-fundadora da Federação Mundial das Juventudes Democráticas – FMJD, a UJC tem como referência o internacionalismo proletário e pratica a solidariedade internacional.



A fase mais recente da UJC é marcada pelo processo de reorganização nacional, iniciado no Congresso Nacional de Reorganização, realizado na cidade de Belo Horizonte, em 2006. De lá para cá, houveram avanços, acertos e desacertos na construção da organização. Novos militantes se tornaram membros ativos de nossa organização, alguns abandonaram a luta e muitos outros estão se aproximando da UJC somando forças na construção de um instrumento revolucionário da juventude brasileira. Com unidade, a UJC, esta dando mais um passo firme na organização dos jovens comunistas no Brasil.


As teses ao V Congresso Nacional da UJC é um documento base que nos serve como ponto de partida para o debate que objetiva a formulação de uma política de atuação capaz de elevar o patamar de luta da juventude brasileira rumo ao socialismo.




Viva o V Congresso Nacional da UJC!



Viva a União da Juventude Comunista!



Túlio Lopes - Secretário Geral da UJC – Brasil

Leia as teses do V Congresso Nacional:


TESE SOBRE ORGANIZAÇÃO

TESE SOBRE FRENTES DE LUTA

TESE SOBRE JUVENTUDE

TESE SOBRE CONJUNTURA


Petkovic e o socialismo




O jogador do Flamengo e um dos principais responsáveis pelo título brasileiro do

Flamengo, o Servio (nascido na Iuguslávia Socialista) Petkovic

em entrevista recente:




Ana Maria Braga: Como foi nascer num país com tanta dificuldade?

Petkovic: Quando nasci não tinha dificuldade nenhuma, era um país maravilhoso, vivíamos um regime socialista, todo mundo bem, todos tinham salário, todos tinham emprego. Problemas aconteceram depois dos anos 80.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Ser Atacado pelo Inimigo é uma Boa e não Má Coisa"

"No que nos diz respeito, quer se trate de um indivíduo, um partido, um exército ou uma escola, julgo que a ausência de ataques do inimigo contra nós é má, porque significa, necessariamente que fazemos causa comum com o inimigo. Se somos atacados pelo inimigo, é bom, porque isto prova que traçamos uma linha de demarcação bem nítida, entre o inimigo e nós. E se ele nos ataca com violência, pintando-nos nas cores negras de denegrindo tudo quanto fazemos, melhor, porque isto prova não só que estabelecemos uma linha de demarcação nítida entre o inimigo e nós, mas ainda que conquistamos êxitos em nosso trabalho."


Mao Tsé-Tung, líder da revolução chinesa.

Postagem especial para os anti-comunistas que nos presenteiam com os cometários tolos e patéticos de sempre.

Claudino da Silva: um negro na Constituinte de 1946




Do blog http://www.prestesaressurgir.blogspot.com/




25 anos da morte de um valoroso combatente comunista



Bancada do PCB na Constituinte de 1946





Claudino José da Silva

Filho de lavradores pobres, nasceu em 23 de julho de 1902, em Natividade (MG). Foi aprendiz de carpinteiro em Niterói. De 1929 a 1931, trabalhou como ferroviário na Estrada de Ferro Leopoldina.

Ingressou no PCB em 1928. Foi membro da Liga Operária da Construção Civil de Niterói. Por sua atuação política em defesa dos interesses das classes trabalhadoras, foi preso em 1931. Posto em liberdade, voltou a atuar no PCB e no movimento operário. Chegou a ficar gravemente enfermo em função dos maus-tratos e torturas que sofreu nas sucessivas prisões de que foi vítima. Após restabelecer-se, foi designado pelo PCB para organizar o partido em Juiz de Fora e Belo Horizonte, nos anos 1935 e 1936. Entre 1936 e 1937, ficou preso na Casa de Correção e no presídio da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Libertado, retornou a Minas Gerais, a fim de retomar sua militância no PCB, pelo que foi novamente preso durante oito meses. So lto mais uma vez, atuou clandestinamente no PCB durante o Estado Novo. Em razão disso, ficou preso no período entre 1940 e 1943.

Após sair da prisão, participou da Conferência da Mantiqueira, tendo sido eleito, durante o encontro, membro do Diretório Nacional do PCB e responsável pelo trabalho do Partido na Região Norte do país. No contexto da redemocratização, tornou-se Secretário Político do Comitê Executivo do PCB no estado do Rio de Janeiro e membro do Comitê Central do Partido Comunista.

Eleito deputado constituinte pelo PCB, nas eleições dezembro de 1945, Claudino era o único parlamentar negro na Assembléia Constituinte. Diferenciando-se das demais em função, principalmente, da origem social de seus integrantes, a bancada comunista trazia elementos e práticas de encaminhamento político, aos quais os arranjos parlamentares de elites estavam pouco ou nada afeitos. Esse tipo de desconforto aparecia, ainda que sutilmente, dentro e fora da Assembléia. O jornal O Estado de São Paulo de 14/02/1946, por exemplo, usava os seguintes termos para qualificar o discurso do deputado Claudino José da Silva: "O orador ocupou a tribuna por tempo excessivo, e lia imperturbavelmente, atrapalhava-se na leitura, cometia silabadas a todo instante. (...) O orador comunista, um autêntico popular e crioulo, cumpriu o seu dever partidário até o fim, apesar dos tropeços na leitura, cujo texto rebarbativo, mesmo para letrados, tal o jargão em que estava escrito".

Concentrou sua atuação parlamentar na denúncia da prática de preconceitos raciais no Brasil e na defesa dos ex-combatentes da FEB em situação de dificuldade econômica, após o término da guerra. Participou dos debates sobre o problema da discriminação racial, declarando apoio à emenda de Hamilton Nogueira (UDN/DF), que declarava a igualdade de todos perante a lei "sem distinção de raça" e punindo a prática do racismo em te rritório nacional. Manifestou-se favorável à realização imediata de uma reforma agrária no país e à extinção das polícias políticas remanescentes do Estado Novo.

Em janeiro de 1948, teve o seu mandato de deputado cassado, juntamente com os demais parlamentares comunistas, vitimados pela onda repressiva resultante da Guerra Fria e pelo "terrorismo de Estado" do governo do general Eurico Gaspar Dutra contra o movimento democrático e popular.

Luiz Carlos Prestes, ao regressar do exílio em 1979, procurou seus velhos companheiros do PCB. Entre eles, Claudino José da Silva. Vivia no estado do Rio, velho, doente e abandonado. Prestes conseguiu sua internação na Casa São Luiz, instituição dedicada a atender a chamada "velhice desamparada". Claudino passou a ter tratamento adequado, o que lhe permitiu viver condignamente ainda alguns anos. Faleceu em fevereiro de 1985, aos 82 anos de idade. Por orientação de Prestes, foi velado no saguà £o da Assembléia Legislativa do estado do Rio de Janeiro, onde havia atuado como deputado comunista nos anos de 1946-47.

FONTE: AMORJ. Partido Comunista Brasileiro: da insurreição armada à união nacional (1935-1947). Rio de Janeiro: AMORJ/UFRJ, 2009.



ENTREVISTA COM IVAN PINHEIRO SOBRE AS ELEIÇÕES DE 2010

A Revista CAROS AMIGOS número 155, que está nas bancas, apresenta uma reportagem especial "ELEIÇÕES 2010 – Disputa de projetos ou falsa polarização?", em forma de entrevistas com representantes de sete Partidos "do campo democrático-popular e da esquerda", segundo classificação da jornalista Tatiana Merlino.
São entrevistados, com as mesmas perguntas, Brizola Neto (PDT), Ivan Pinheiro (PCB), Ivan Valente (PSOL), José Eduardo Dutra (PT), José Maria de Almeida (PSTU), Luiza Erundina (PSB) e Renato Rabelo (PCdoB).
Aqui estão, na íntegra, as respostas do Secretário Geral do PCB, camarada Ivan Pinheiro.



O que está em jogo nessas eleições?

Deveria estar em jogo um intenso debate sobre os grandes problemas nacionais, uma discussão ideológica, o confronto de projetos, a política externa brasileira, a integração da América Latina, a soberania nacional, a reestatização da Petrobrás, a redução da jornada de trabalho, a reforma agrária e outros temas sobre o presente e o futuro do país. Infelizmente, as oligarquias e a mídia podem, com a força que têm, fazer desta eleição um par ou ímpar entre dois projetos de administração do capital, um capitaneado pelo PT e outro pelo PSDB.
Há um risco de os candidatos deste campo, que disputam quem é mais eficiente para alavancar o capitalismo brasileiro, ficarem disputando qual mandato de 8 anos (FHC ou Lula) apresentaram os melhores indicadores macroeconômicos: quem mais deu confiança aos investidores internacionais, quem "destravou" mais a economia, quem criou mais e piores empregos, quem reduziu mais o "Risco Brasil" etc.


O que pode mudar no cenário político do país?

Se o debate for centrado na administração do capital vai mudar muito pouco. Podem mudar os comandantes da máquina pública, do balcão de empregos e interesses. Alguma mudança de estilo. Se as oligarquias conseguirem "americanizar" as eleições de 2010, ou seja, uma disputa entre a coca-cola e a pepsi-cola, as mudanças serão menores ainda. No mundo todo, a burguesia força a barra para estabelecer um bipartidarismo no campo da ordem, para afastar o risco de uma alternativa de esquerda. O que pode determinar mudanças no Brasil são fatores externos, como os desdobramentos da crise do capitalismo, a tendência do imperialismo a potencializar sua agressividade e outros fatores.
As mudanças serão pequenas até porque Lula, na questão principal (a política econômica) manteve a orientação do governo FHC. E este modelo não estará em debate. O que estará em debate é a forma de administrá-lo. Além do mais, as diferenças entre Lula e Alckmin eram mais notáveis e significativas do que aquelas entre Dilma e Serra.
O que pode provocar alguma mudança, na realidade, é o fato de Lula não ser o Presidente a partir de 2011. Ninguém, como ele, tem a capacidade de fazer a conciliação entre o capital e o trabalho. Nada melhor do que um ex-operário formado no sindicalismo de resultados para fazer um governo em que o capital aumente sua parcela no PIB em relação ao trabalho e este interprete isso como um mal necessário, para manter empregos, mesmo que a cada dia mais precarizados. Para a burguesia que pensa, que não é troglodita, o melhor cenário seria um terceiro mandato para Lula.


O que deve ser defendido pelas esquerdas?

Primeiro, temos que precisar o que significa esquerda hoje, nesta diluição ideológica e nesta manipulação de conceitos. Até o PPS (aliado do DEM e do PSDB) se considera "de esquerda". Os socialdemocratas e social-liberais que apóiam incondicional e sistematicamente o governo Lula se consideram "de esquerda". Aliás, no Brasil, ninguém assume que é "de direita".
Vou falar, portanto, do que considero como esquerda, um campo político que, à falta de definição melhor, posso chamar de esquerda revolucionária ou esquerda socialista, ou seja, aquela que não quer reformar o capitalismo, mas superá-lo.
Portanto, penso que a verdadeira esquerda no Brasil deve envidar esforços no sentido de criar uma frente, de caráter anticapitalista e antiimperialista, permanente, para além das eleições, voltada para a luta de massas. Não pode ser apenas uma coligação eleitoral, como foi a chamada frente de esquerda em 2006, que se dissolveu antes mesmo da realização do primeiro turno; e que não tinha programa, mas apenas candidatos.
Esta frente deve incorporar, além dos partidos políticos registrados no TSE, todas as organizações políticas, político-socias e movimentos populares que se coloquem no campo da superação do capitalismo, na perspectiva do socialismo. O programa desta frente deve ser conformado não pelas cúpulas das organizações que a compõem, mas a partir de um amplo debate a partir das bases.

O que pode significar avanço ou retrocesso para o processo de redemocratização do país?

O problema hoje no Brasil não é o risco de um golpe militar clássico ou de novo tipo, como o que se deu na Venezuela, em 2002, como tentativa, e agora em Honduras, como realidade. Os maiores riscos de retrocessos políticos são a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, as restrições ao direito de greve, as limitações aos partidos políticos de esquerda, através de cláusulas de barreira etc.
Os riscos maiores de retrocesso na questão democrática são principalmente os de âmbito mundial. Com a crise do capitalismo e a acirrada disputa por recursos naturais não renováveis, o mundo corre riscos de guerras e conflitos de todo o tipo, com o recrudescimento da agressividade do imperialismo.


Como os movimentos sociais podem interferir nesse processo?

Os movimentos sociais têm um papel fundamental a desempenhar no processo de mudanças sociais, desde que não se limitem à esfera de sua atuação específica, à parcialidade da luta. O MST é um excelente exemplo de um movimento social, a meu ver o mais importante do Brasil, que soube compreender isso. Hoje, o MST não é um apenas um movimento social, mas incide na questão política, como a luta em defesa da Petrobrás e até na solidariedade internacional.
Por isso, temos defendido que os movimentos populares participem da frente anticapitalista e antiimperialista, no mesmo espaço com organizações políticas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo"






OLGA BENARIO PRESTES

ÚLTIMA CARTA ESCRITA AO MARIDO E À FILHA, NO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DE RAVENSBRÜCK, ANTES DE SER CONDUZIDA À MORTE EM CÂMARA DE GÁS

(ABRIL/1942)


"Queridos:

Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.

Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Corformar-me-ia, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver-me dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?

Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não consegu em alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nos últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijo-os pela última vez.

Olga"



Fonte: Instituto Luiz Carlos Prestes (http://www.ilcp.org.br/)

sábado, 13 de fevereiro de 2010


Luiz Carlos Prestes: revolucionário, patriota e comunista - Por: Anita Leocádia Prestes



Nos dias 5 e 6 de fevereiro, em Caracas, Venezuela, foi realizado o Fórum Internacional Homens a Cavalo. Como informou o Vice-presidente da Venezuela, Elías Jaua, na abertura do evento, o Fórum faz parte de um conjunto de ações para render homenagem aos líderes e processos políticos impulsionados na América Latina, em busca de um caminho de justiça e bem-estar. A iniciativa se inscreve na comemoração do 192º aniversário de nascimento (31 de janeiro de 1818) de Ezequiel Zamora.


Jaua, também Ministro do Poder Popular para Agricultura y Terras, destacou que o presidente da República, Hugo Chávez Frías, tomou como raiz profunda da revolução o ideário de Zamora, chamado General do Povo Soberano, baseado em 3 aspectos: como continuador do pensamento e do programa social da independência; impulsionador de um amplo processo de participação popular e seu pensamento latino-americano e integracionista.



O Fórum contou com a presença de diversos expositores internacionais que destacaram o legado de revolucionários como Luiz Carlos Prestes, Emiliano Zapata, Pancho Villa, Francisco Morazán, Eloy Alfaro, Tupac Katari, Augusto Sandino e Farabundo Martí.


Anita L. Prestes esteve presente ao Fórum Internacional Homens a Cavalo e fez uma apresentação sobre a trajetória revolucionária de Luiz Carlos Prestes. Segue abaixo o texto por ela elaborado e divulgado no evento.


***


Luiz Carlos Prestes (1898-1990), desde muito jovem, revelou indignação com as injustiças sociais e a miséria de nosso povo, mostrando-se preocupado com a busca de soluções efetivas para a situação deplorável em que se encontrava a população brasileira, principalmente os trabalhadores do campo, com os quais tivera contato durante a Marcha da Coluna (1924-27), que ficaria conhecida como a Coluna Prestes. Muito antes de tornar-se comunista, Prestes já era um revolucionário. Sua adesão aos ideais comunistas e ao movimento comunista apenas veio comprovar e confirmar sua vocação revolucionária, seu compromisso definitivo com a luta pela emancipação econômica, social e política do povo brasileiro. Como revolucionário, Prestes foi um patriota - um homem que dedicou toda sua vida à luta por um Brasil melhor, por um Brasil onde não mais existissem a fome, a miséria, o analfabetismo, as doenças, a terrível mortalidade infantil e as demais chagas que sabidamente continuam ainda hoje a infelicitar nosso país.


A descoberta da teoria marxista e a conseqüente adesão ao comunismo representaram, para Prestes, o encontro com uma perspectiva, que lhe pareceu factível, de realização dos anseios revolucionários por ele até então alimentados, principalmente durante a Marcha da Coluna. A luta à qual resolvera dedicar sua vida encontrava, dessa forma, um embasamento teórico e um instrumento para ser levada adiante - o Partido Comunista. O Cavaleiro da Esperança, uma vez convencido da justeza dos novos ideais que abraçara, tornava-se também um comunista convicto e disposto a enfrentar toda sorte de sacrifícios na luta pelos objetivos traçados.




No processo de aproximação ao PCB, Prestes rompeu de público com seus antigos companheiros - os jovens militares rebeldes conhecidos como os "tenentes" -, posicionando-se abertamente a favor do programa da "revolução agrária e antiimperialista" defendido pelos comunistas brasileiros. Seu Manifesto de Maio de 1930 consagra o início de uma nova fase na vida do Cavaleiro da Esperança. A partir daquele momento, Prestes deixava definitivamente para trás os antigos compromissos com o liberalismo dos "tenentes" e enveredava pela via da luta pelos ideais comunistas que passariam a nortear toda sua vida.




Pela primeira vez na história do Brasil, uma liderança de grande projeção nacional, a personalidade de maior destaque no movimento tenentista, - na qual apostavam suas cartas as elites oligárquicas oposicionistas, na expectativa de que o Cavaleiro da Esperança pusesse seu cabedal político a serviço dos seus objetivos, aceitando participar do poder para melhor servi-las -, recusa tal poder, rompendo com os políticos das classes dominantes para juntar-se aos explorados e oprimidos, para colocar-se do lado oposto da grande trincheira aberta pelo conflito entre as classes dominantes e as dominadas, entre exploradores e explorados. Prestes tomava o partido dos oprimidos, abandonando as hostes das elites comprometidas com os donos do poder, não vacilando jamais diante dos grandes sacrifícios que tal opção lhe acarretaria.




Tratava-se de um fato inédito, jamais visto no Brasil. Luiz Carlos Prestes, capitão do Exército, que se tornara general da Coluna Invicta, que fora reconhecido como liderança máxima das forças oposicionistas ao esquema de poder vigente no Brasil até 1930, talhado, portanto, para transformar-se no líder da "revolução" das elites oligárquicas, numa liderança política confiável dessas elites, usava seu prestígio para indicar ao povo brasileiro um outro caminho – o caminho da luta pela reforma agrária radical e pela emancipação nacional do domínio imperialista, o caminho da revolução social e da luta pelo socialismo.




Como foi sempre coerente consigo mesmo e com os ideais revolucionários a que dedicou sua vida, sem jamais se dobrar diante de interesses menores ou de caráter pessoal, Prestes despertou o ódio dos donos do poder, que se esforçariam por criar uma História Oficial deturpadora tanto de sua trajetória política quanto da história brasileira contemporânea.




Mesmo após seu falecimento, Prestes continua a incomodar os donos do poder, o que se verifica pelo fato de sua vida e suas atitudes não deixarem de serem atacadas e/ou deturpadas, com insistência aparentemente surpreendente, uma vez que se trata de uma liderança do passado, que não mais está disputando qualquer espaço político. Num país em que praticamente inexiste uma memória histórica, em que os donos do poder sempre tiveram força suficiente para impedir que essa memória histórica fosse cultivada, presenciamos um esforço sutil, mas constante, desenvolvido através de modernos e possantes meios de comunicação, de dificultar às novas gerações o conhecimento da vida e da luta de homens como Luiz Carlos Prestes, cujo passado pode servir de exemplo para os jovens de hoje.




Luiz Carlos Prestes dedicou 70 anos de sua vida à luta por um futuro de justiça social e liberdade para o povo brasileiro. Luiz Carlos Prestes foi um revolucionário, um comunista e um internacionalista, que jamais vacilou na luta pelos ideais socialistas e pela vitória da revolução socialista no Brasil e em nosso continente latino-americano. Prestes foi um defensor conseqüente dos países socialistas, tendo à frente a URSS. Esteve sempre solidário com as Revoluções Cubana e Nicaragüense. O legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes deve ser preservado e desenvolvido pelas novas gerações de revolucionários latino-americanos. Este é o objetivo principal do Instituto Luiz


Carlos Prestes (www.ilcp.org.br) recentemente criado no Rio de Janeiro.









Candido Portinari, Coluna Prestes, óleo sobre tela, 46 x 55cm, Paris, 1950.

http://www.portinari.org.br









Mário Maestri: O Haiti precisa de médicos e engenheiros e não de soldados








"CUBA MANDA MÉDICOS E REMÉDIOS. OS EUA, PORTA-AVIÕES, MARINES E FUZIS EMBALADOS!"


Por Igor Ojeda, da Redação do Brasil De Fato




Historiador diz que é urgente a saída imediata e incondicional das tropas de ocupação brasileiras no Haiti. E que sejam substituídas por médicos, enfermeiros, engenheiros e agrônomos. Que a bandeira brasileira não siga servindo de mortalha ao povo haitiano!

P - A grande mídia nacional e mundial lembra que a extrema pobreza do Haiti agravou as consequências do terremoto. Ela nada diz sobre as causas dessa pobreza. Por que o Haiti é o país mais miserável do hemisfério ocidental?
Mário Maestri - A pobreza extrema do Haiti é uma construção histórica bicentenária, produto da incessante intervenção colonialista e imperialista, em boa parte devido precisamente a ter sido o Haiti, a ex-colônia francesa Saint-Domingues, a pérola da produção escravista açucareira, a primeira e única nação negreira onde os trabalhadores escravizados insurrecionados obtiveram a liberdade, em 1804. Isso, após derrotar expedições militares francesa, inglesa e espanhola. Ao se transformar no segundo Estado americano a obter a independência, após os Estados Unidos, e o primeiro a abolir a escravidão, o Haiti passou a ser temido, como exemplo para os cativos americanos. Apesar do cordão sanitário em que se envolveu a ilha, repercussões da revolução fizeram-se sentir no Brasil escravista. O Haiti foi objeto de bloqueio quase total, nos seus primeiros anos, pelas nações metropolitanas, e até mesmo americanas independentes, que chegaram a apoiar, na luta pela autonomia. Já em 1825, foi obrigado a pagar, sob pena de agressão militar, pesadíssima indenização à França, estimada em atuais 21 bilhões de dólares! Conheceu, no século 20, intervenções militares dos EUA, que, mesmo após a desocupação, em 1934, transformaram o país em semicolônia, sobretudo através das sinistras ditaduras dos Duvalier, Papa-Doc e seu filho Baby Doc.

P – É enorme a população haitiana vivendo em Porto Príncipe em favelas. Esse foi um dos fatores determinantes do alto número de vítimas do terremoto. Por que essa forte migração do campo para a cidade?
R - O regime histórico da propriedade da terra no Haiti foi a plantagem escravista. Com a revolução de 1804, houve importante divisão de latifúndios em lotes unifamiliares, que retomaram as tradições camponesas negro-africanas, ensejando independência alimentar. Isto não produzia excedentes mercantilizáveis, capazes de serem apropriados pelo neo-colonialismo, e exigidos para o pagamento da dívida da Independência. As intervenções imperialistas, com a colaboração das frágeis e corruptas elites negras e mulatas, desdobraram-se para metamorfosear a agricultura familiar-camponesa em mercantil.
Importantes levantes camponeses foram duramente reprimidos para reconstituir a grande propriedade. A expropriação da terra e reversão para produtos comerciais ensejou enorme migração urbana, nascida também da depredação do meio ambiente, com o desmatamento selvagem para produção de carvão vegetal, com o aumento do combustível doméstico, impostos pelo imperialismo e organismos internacionais, para a recuperação da economia. As enormes massas de miseráveis urbanos são vistas como mão de obra extremamente barata às indústrias maquiadoras que se estabeleceram no Haiti. As forças brasileiras e da ONU têm reprimido duramente as manifestações pelo aumento do ínfimo salário mínimo.

P - Seis anos após o golpe contra Aristide e a chegada da Minustah, a situação não melhorou? Por quê?
R – A intervenção militar franco-estadunidense, orquestrada pelo governo Bush, afastou o presidente constitucional Jean-Baptiste Aristides, em 29 de fevereiro de 2004. Ainda que ele tivesse rompido com suas antigas raízes populares e de esquerda, quando deposto, seu governo lutava por autonomia relativa e despertava a mobilização social. O que era inaceitável, em uma região próxima de Cuba e fundamental aos EUA. Devido ao envolvimento no Iraque, Bush 2º convocou o presidente Lula da Silva para capitanear a ocupação militar [e pagar seus custos, é claro], participando da organização do governo títere pró-imperialista. Essa ocupação deveria reorganizar a ilha segundo os interesses políticos do grande capital, sobretudo franco-estadunidense, com algumas migalhas para os brasileiros. O governo Lula da Silva aceitou o convite envenenado para fortalecer seu objetivo de ingressar, inferiorizado, sem direito, como membro do Conselho de Segurança Permanente da ONU. O grande sonho da diplomacia tupiniquim.
Foi também concessão à alta oficialidade das forças armadas brasileiras, com interesses econômicos, políticos e ideológicos na operação. Serviria também para treinar tropas na repressão urbana, em região socialmente parecida, social e etnicamente, a das favelas, sobretudo do Rio de Janeiro. Nos últimos seis anos, as tropas brasileiras comandaram a repressão, praticamente sem qualquer oposição por parte da imensa maioria dos partidos, sindicatos, organizações etc. ditos populares e de esquerda do Brasil. Destaque-se o silêncio do movimento negro organizado, atrelado ao governismo. A prova dos nove dessa intervenção se deu durante e, sobretudo, após essa terrível catástrofe, com a total ausência de Estado e de instituição haitianas autônomas, que jamais se pretendeu criar. Apenas o presidente René Preval funciona como testa de ferro ao despudorado intervencionismo internacional em nome da solidariedade que acaba de se concluir com a literal ocupação militar maciça dos EUA no país, que ignorou olimpicamente a ONU e o seu preposto brasileiro, que já não sabe mais onde se meter e o que fazer. Hillary acaba de propor que o parlamento e o presidente deem carta branca aos Estados Unidos nas operações!

P - Fala-se em "desconcentrar" a capital, incentivando o retorno da população aos povoados de origem. Seria isso uma boa ideia? Quais as possíveis consequências?
R – A operação humanitária tem se dado no contexto de enorme desprezo imperialista, prenhe de um imenso racismo cada vez menos implícito. Realidade que se registra na proposta de enviar parte da população urbana ao campo sem qualquer consulta à mesma! Destaque-se o claro corte polpotiano da proposta, e que parte dessa população não tem mais raízes agrárias. Não podemos esquecer, também, que não há campo em condições mínimas para incorporar os que aceitassem a solução – acesso à terra; recursos contra a erosão, falta de água; financiamento; ajuda durante os primeiros tempos; preços mínimos etc. Eram miseráveis urbanos, aos olhos do mundo seriam miseráveis rurais, mais discretamente. Após a terrível passagem do furacão Jeanne, em 2004, a única contribuição real da chamada comunidade internacional foi a reorganização da polícia, para reprimir os seguidores de Aristides, o que fizeram com enorme capacidade e muita dor e sangue.

P – Qual sua avaliação sobre a atuação que a comunidade internacional vem tendo em relação ao terremoto no Haiti, como, por exemplo, o anúncio da liberação de centenas de milhões de dólares?
R – O que vemos, até agora, passada uma semana do desastre, é desassistência, indiscutivelmente responsável por dezenas de milhares de mortos. A imensa maioria da população continua na total desassistência. Dizer que não era possível chegar aos necessitados por razões logísticas é piada. Se fosse insurreição popular desarmada, em dois dias haveria um soldado imperialista em cada esquina! No frigir dos ovos, muito se falou e pouco se fez. Até porque o objetivo era esse. Por além dos bem intencionados, há uma enorme indústria internacional, ligada estreitamente, ideológica, política e economicamente, ao imperialismo, de milhares de pequenas, médias e grandes ONGs, especializadas na assistência às catástrofes, que necessitam e se locupletam com tais sucessos para financiar seus enormes aparatos administrativos. Aparatos que mitigam o desemprego do Primeiro Mundo. Boa parte dos fundos postos à disposição do Haiti pelos organismos internacionais, como o FMI, o Banco Mundial etc. são empréstimos, que deverão ser pagos, sempre com o sangue e suor da população. E outra parte das doações midiatizadas serve para pagar as operações das respectivas nações...

P – Ao mesmo tempo, o Haiti possui uma dívida externa de mais de 1 bilhão de dólares. Não é contraditório?
R – Não, não é contraditório. É necessário, para manter a dependência. Veremos que, no final de tudo, essa dívida será ainda maior! Temos que lembrar que a catástrofe haitiana mantinha-se nos últimos anos, com parte da população do país comendo literalmente bolos de terra, sem que nada fosse realmente feito, a não ser controlar militarmente o país e reprimir a organização e a mobilização popular, sob o comando do Brasil. Víamos sempre belos soldados, belos tanques, belos fuzis, funcionários internacionais bem falantes, e melhor pagos, é claro, e uma enorme e profunda miséria popular. Se as grandes nações, e seus governos tão humanos, quiserem ajudar, que se anule, imediatamente, a dívida do país, que se encontra quase totalmente nas mãos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, hoje em quase dois bilhões de dólares, e se conceda a autonomia que o país clama. Até agora, os Estados Unidos e a ONU não permitem o regresso do presidente constitucional deposto Jean-Baptiste Aristides.

P – Mesmo no Brasil e França criticam o controle excessivo dos EUA na ajuda humanitária, organizada pelo Pentágono e pela USAID. Denuncia-se que os estadunidenses priorizam o pouso de seus aviões, sobretudo militares, no aeroporto de Porto Príncipe, que controlam. Obama enviou 10 mil marines, o que causou preocupação sobre eventual ocupação militar.
R – Aristides, deposto em 1991 pelo governo estadunidense republicano, voltou ao governo, em 1994, devido à intervenção patrocinada pelos democratas, de novo no poder. A intervenção no Haiti, em 2002, foi novamente uma ação republicana, sob a presidência de Bush 2º, que contou com a oposição dos democratas, sobretudo da burguesia e intelectualidade negra desse partido, muito forte. Atualmente, no governo dos EUA encontram-se democratas negros. Se associamos isto à tradição imperialista, compreenderemos o enorme ativismo dos EUA em um viés notadamente militarista. Cuba manda médicos e remédios. Os EUA, porta-aviões e marines de fuzis embalados!
Não é certo ainda o que os democratas e Obama pretendem para o Haiti. Talvez sequer eles saibam precisamente o que fazer com o sofrido país, nos seus detalhes, devido ao caráter inesperado da crise. Há, porém, elementos claros. A ocupação militar do país, com tropas infinitamente maiores às da ONU, deixa claro que, nessa região, é o imperialismo dos EUA que manda. Um movimento que se associa ao retorno dos EUA à América Central e do Sul, expresso no golpe de Estado em Honduras, nas bases militares na Colômbia etc.. O governo Obama teme igualmente imigração maciça clandestina de haitianos para os EUA. Ficaria muito feio, sobretudo para um presidente negro, com raízes paternas africanas, prender em campos de concentração a população negra haitiana! É melhor que fiquem no país, morrendo de fome! Hoje, na região, para os EUA, o grande problema a ser resolvido é a Venezuela. Certamente teremos novas bases militares dos EUA no Haiti, região estratégica, e muito barata! Os EUA chegaram no Haiti para ficar, por muito tempo, no mínimo.

P – Já se começam a ouvir algumas vozes falando em reconstrução do Haiti. Quais os riscos que trazem as reconstruções depois de tragédias naturais, e o que o senhor acha que pode ocorrer no Haiti?
R – A grande imprensa do Brasil, com destaque para a Globo, retoma a proposta internacional sobre o Haiti como Estado falido. Ou seja, nação incapaz de se organizar e reger por si só, tendo que ser monitorada, para seu bem. Como está ocorrendo agora! Uma volta aos tempos dos protetorados. A reconstrução pode constituir balão de ensaio para gestão não nacional de territórios, por órgãos internacionais, não-estatais etc. Para tal, seria importante por fim à capital, na sua dimensão metropolitana, centro de expressão e pressão popular.
Não podemos esquecer que as grandes catástrofes são os melhores momentos para o grande capital realizar reorganizações estruturais de populações e recursos, devido à fragilidade das populações e enfraquecimento das suas organizações. Nuvens terríveis cobrem os horizontes do povo haitiano. Os trabalhadores e todos os homens e mulheres de bem do país devem se mobilizar contra isso. A primeira exigência deve ser a imediata e incondicional saída das tropas militares de ocupação brasileira do Haiti, substituídas por médicos, enfermeiros, engenheiros e agrônomos. Que a bandeira brasileira não siga servindo de mortalha a esse povo! Temos que ajudar a plantar a vida, não a morte, nesse país glorioso. Se o Nélson Jobim quiser voltar fantasiado ao país sofrido, que seja de médico!

24/1/2010

Fonte: ViaPolítica/Brasil De Fato/Mário Maestri

Mário Maestri, 61, colaborador permanente de ViaPolítica, é historiador da escravidão colonial e professor do PPGH da Universidade Passo Fundo (UPF).