terça-feira, 30 de março de 2010

Homenagem do PCB a Jayme Miranda


Jornalista Morto pela Ditadura é Homenageado

TRIBUNA INDEPENDENTE – MACEIÓ – ALAGOAS

Terça-feira, 16 de Março de 2010.

Gilson Monteiro (Repórter)

O presidente (*) do comitê nacional (**) do PCB, Ivan Pinheiro, esteve ontem em Maceió para a cerimônia de entrega da Medalha Dinarco Reis ao jornalista alagoano Jayme Amorim de Miranda, ontem pela manhã no auditório da OAB/AL, no centro. A honraria é entregue a personalidades que contribuíram com a construção do partido e na luta pelos princípios socialistas no Brasil.

Nascido em 18 de Julho de 1926, Miranda é um dos onze membros do Comitê Central do PCB assassinados pela ditadura militar entre os anos de 1974 e 1975. O jornalista foi seqüestrado em 1975, no Rio de Janeiro, onde exercia atividades clandestinas, sendo membro da executiva nacional do partido. Entre 1941 e 1945, o jornalista atuou como revisor no Jornal de Alagoas, empresa do grupo Diários Associados, e em A Notícia.

A trajetória completa do homenageado pode ser conferida em uma pagina na internet, no endereço eletrônico http://www.jaymemiranda.org .

Arquivos do DOPS

Na cerimônia de ontem, estiveram presentes os filhos e a esposa de Jayme Miranda. Olga Miranda, filha do homenageado, defendeu a abertura dos arquivos do Departamento Estadual da Ordem Política e Social, o chamado DOPS, órgão criado especialmente para controlar e reprimir movimentos contrários ao regime militar.

"A sociedade precisa conhecer a história de Jayme Miranda, que lutou pela construção política deste país. Há hoje sites na internet que defendem os militares. È preciso abrir de verdade os arquivos do DOPS para que se possa conhecer mais a fundo nossa história", disse Olga Miranda. (GM)

(*) – o termo usado no PCB é Secretário Geral

(**) – o termo correto é Comitê Central.



O PCB terá candidatura própria à Presidência da República


A Tribuna (Jornal de circulação em Niterói) Quinta Feira, 25 de março de 2010

O PCB terá candidato próprio a Presidência da República

Antônio Figueiredo

O Partido Comunista Brasileiro anunciará hoje no programa da legenda em rede de TV (20:30h.) e Rádio (20h.), que terá candidatura própria a presidência da República em 3 de Outubro. Em resolução do Comitê Central postada no site do antigo Partidão os comunistas que coincidentemente estarão comemorando 88 anos de existência do PCB nesta quinta feira, informam que apresentarão nas "eleições presidências desse ano identidade própria, sem prejuízo de coligações, no campo da oposição de esquerda em algumas eleições estaduais". O pré-candidato também já foi escolhido. Trata-se do ex-dirigente do sindicato dos bancários, Ivan Pinheiro, atual secretário geral da sigla.

Na resolução do comitê central o PCB, que em 2006 integrou juntamente com o PSOL e o PSTU a "Frente de Esquerda", atira contra os ex-aliados "a coligação eleitoral (...) dissolveu, na prática, dois meses antes das eleições (2006). Suas únicas reuniões, até junho de 2006, tiveram como pauta exclusiva os acordos em torno das candidaturas", relata o texto do comitê central. Na visão da direção do Partido, a campanha presidencial passada não teve programa, "abrindo espaço para a então candidata da coligação expor suas opiniões pessoais, que, em muitos casos, não correspondiam nem as de seu próprio partido."

Os comunistas dizem que, até agora, não houve interesse dos ex-aliados na reedição de uma coligação já que a ex-senadora Heloisa Helena (PSOL) desistiu da disputa presidencial para concorrer ao Senado por Alagoas, por exemplo. Para a sigla, é preciso "manter com os partidos, organizações e movimentos classistas que, como nós (do PCB), vêem a ruptura do capitalismo como única possibilidade de transição para o socialismo, uma relação independente, baseada em consensos programáticos e na ação unitária no movimento de massas, o que não significa necessariamente estarmos juntos nas mesmas entidades, organizações e coligações."

No XIV Congresso do PCB, em outubro de 2009, no Rio de Janeiro, Ivan, de 64 anos foi reeleito para o comitê central do PCB, que o reconduziu à secretário geral da legenda. Ele iniciou na atividade política ainda na adolescência no Colégio Pedro II, onde estudou entre 1957 e 1963. Ivan Pinheiro foi diretor do Grêmio Estudantil.

30 DE MARÇO – O DIA DA TERRA PALESTINA



30 DE MARÇO – O DIA DA TERRA PALESTINA

(Nota Política do PCB)

No mundo inteiro, o dia 30 de março tem um significado especial para os internacionalistas. Neste dia, em 1976, na Galiléia, uma poderosa greve geral organizada pelos trabalhadores palestinos, contra o confisco de suas terras pelo exército sionista, é reprimida violentamente pela força de ocupação.

Desde então, os internacionalistas comemoram o dia 30 de março como o Dia da Terra, uma forma de celebrar todos os anos a resistência e a luta desse sofrido e combativo povo em defesa de suas terras e de sua cultura.

De lá para cá, pouca coisa mudou. Os palestinos continuam diariamente sendo assassinados, presos e humilhados pelo exército de Israel; seu território continua sendo diariamente apropriado pelos sionistas, suas casas derrubadas; continua a construção e ampliação de colônias, nas terras palestinas, para assentar judeus europeus.

A ameaça de transformar lugares sagrados para a religião dos mulçumanos - especialmente a explanada das Mesquitas, onde se encontra a importante Mesquita de Al Aqsa - em sítios para a religião judaica está sendo levada a cabo pelas autoridades israelitas.

Em Gaza, a população sitiada, que sofre os horrores do Bloqueio Econômico que impede a entrada de alimentos, remédios, combustível e toda sorte de produtos para necessidades básicas, está sendo frequentemente bombardeada pelo exército invasor, que impiedosamente mata sem discriminação homens, mulheres e crianças palestinas.

Neste dia 30 de março, cujo símbolo é uma oliveira, aproveitamos para reforçar nosso irrestrito apoio à resistência do povo palestino, nossa solidariedade à sua luta contra o sionismo e mais uma vez afirmar a defesa intransigente por uma Palestina Laica e Democrática para todos, com o retorno dos refugiados e tendo Jerusalém como capital.

Viva a intifada; viva a resistência do povo palestino!

PCB – Partido Comunista Brasileiro

Secretariado Nacional

30 de março de 2010



O valor da mercadoria força de trabalho - Autor: Paiva Neves (*)

O modo de produção capitalista, historicamente, é produtor de mercadorias. Isto porque, tudo que é produzido tem como objetivo central o lucro. O lucro é obtido através da extração da mais valia no ato da produção. No entanto, ele se concretiza plenamente quando a mercadoria é levada ao mercado para ser trocada por dinheiro que por sua vez é trocado por outras mercadorias para fazer mais dinheiro. Este processo continuado de troca é o que caracteriza o capital.

O que define o valor de uma mercadoria é a quantidade de força de trabalho depreendida para a sua produção. Toda mercadoria, ou seja, tudo que é feito pela mão humana e que se destina à troca no mercado é, na prática, trabalho materializado em forma de capital. Pela quantidade de trabalho socialmente necessário para a produção de determinada mercadoria é estabelecido o seu valor.

Força de trabalho é energia física e mental depreendida pelo trabalhador no processo de produção. Quando o trabalhador entra na fábrica descansado e no final do turno sai cansado, nada mais foi que o uso da sua força de trabalho nas horas que labutou. Toda a sua energia física e intelectual foi transferida para a mercadoria produzida.

A força de trabalho termina também sendo uma mercadoria. É uma mercadoria especial porque tem o poder de criar outro valor. O valor da força de trabalho, como as demais mercadorias, também é definido pelo valor do custo da sua produção. O trabalhador para continuar trabalhador precisa de comida, bebida, moradia, enfim, precisa manter a si e a sua família. Esses gastos que ele faz para manter a si e sua família é o custo da sua manutenção e da sua reprodução enquanto trabalhador. A soma de tudo que ele gasta mensalmente para manter a si e a sua família é o valor da mercadoria força de trabalho.

No Brasil, segundo dados do DIEESE, o salário compatível com a manutenção do trabalhador e sua família é algo em torno de R$ 2.0000,00, no entanto temos um salário mínimo de R$ 510,00. Os pisos salariais das categorias chegam a pouco mais do que isso. É muito pouco. É a prova cabal de que a mercadoria força de trabalho está muito aquém do seu valor real. O trabalhador está recebendo mais ou menos a quarta parte do que deveria receber mensalmente pelo trabalho que realiza. Por isso é necessária a consciência da classe que não é política governamental que vai recuperar o poder de compra dos salários. Somente a luta da classe, com independência dos patrões e dos governos, poderá mudar este quadro.

* Paiva Neves é dirigente do Sindicato dos Sapateiros do Ceará e membro do Comitê Central do PCB e de seu Comitê Regional no Ceará

sexta-feira, 26 de março de 2010

PCB na TV: programa exibido em cadeia nacional (25/março/2010)

Toda solidariedade à Cuba Socialista (Nota Política do PCB)



Toda solidariedade à Cuba Socialista


(Nota Política do PCB)




A Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) vem a público manifestar sua indignação diante da vergonhosa campanha que os meios de comunicação, a serviço das grandes corporações capitalistas, vêm desenvolvendo contra Cuba e seu sistema socialista.



Sob o pretexto de protestar contra a morte por greve de fome de um delinqüente comum, agora transformado em "preso político", os meios de comunicação realizam uma grande ofensiva para satanizar e tentar desmoralizar Cuba, justamente agora que vem obtendo seguidas vitórias diplomáticas e econômicas, além do fato de que possui significativas conquistas sociais, como a alta qualidade e a universalidade dos sistemas públicos de saúde e educação, inteiramente gratuitos.



Em que pesem todas as nossas divergências, não podemos deixar de registrar que o Presidente Lula - que se encontrava em Havana no dia da morte do preso comum - não se rendeu à intensa pressão do imperialismo, que lhe cobrava a condenação de Cuba.



Todos sabem que em Cuba não há tortura nem desaparecimentos políticos e a participação popular, através da democracia direta, é um dos instrumentos que tem garantido o regime socialista, mesmo depois da queda da URSS e dos países do Leste Europeu e da intensificação da propaganda anticomunista em todo o continente.



No entanto, essa campanha visa não apenas atingir Cuba, mas também, todos os processos de mudanças que estão ocorrendo na América Latina, especialmente na Venezuela e na Bolívia. Eles temem que o exemplo cubano se espalhe pelo continente e desviam a atenção da opinião pública do fato de que a crise econômica capitalista jogou centenas de milhares de trabalhadores, em todo o mundo, no desemprego e na miséria.



Os meios de comunicação que hoje atacam Cuba são os mesmos que silenciam diante das atrocidades (torturas e assassinatos) cometidas pelos Estados Unidos contra supostos "terroristas", em bases e prisões espalhadas pelo mundo. A manipulação é tão cínica que a mais cruel e conhecida dessas prisões fica justamente em Guantánamo, parte do território cubano ocupada pelos EUA antes da revolução socialista e nunca devolvida. São os mesmos meios de comunicação que calam diante do genocídio do povo palestino e do massacre da população do Iraque e do Afeganistão.



Na verdade, o que desperta o ódio desses meios de comunicação a serviço do capital é o fato de que, apesar do desumano bloqueio de mais de 50 anos, o que por si só é uma terrível violação dos direitos de um povo, Cuba resiste bravamente ao imperialismo e se transformou num exemplo de dignidade para todos os povos do mundo.



Muitos não sabem que estes pretensos dissidentes possuem ligações com organizações de cubanos exilados em Miami desde 1959 e são financiados pela CIA, pela USAID e outras organizações imperialistas.



Este não é o primeiro e, provavelmente, não será o último ato de uma peça teatral que se arrasta há mais de 50 anos, operada pelos meios de comunicação contra a dignidade de um povo que soube suportar tentativas de invasões militares, embargos criminosos, boicotes e pressões políticas de todas as formas, e permanece dando ao mundo um exemplo de firmeza ideológica e convicção do seu papel histórico para o proletariado mundial.



O Partido Comunista Brasileiro, coerente com sua política internacionalista, manifesta sua irrestrita solidariedade ao povo, ao governo e ao Partido Comunista de Cuba e reafirma sua decisão de lutar, no Brasil, por uma pátria socialista.


Rio de Janeiro, março de 2009



Comissão Política Nacional


Partido Comunista Brasileiro (PCB)



PerCeBer: PCB comemora 88 anos de vida - Por: Ivan Pinheiro




PCB COMEMORA 88 ANOS DE VIDA



Ivan Pinheiro (*)



Neste 25 de março de 2010, o PCB completa oitenta e oito anos de sua fundação. É o Partido mais antigo do Brasil. A história do PCB confunde-se com a história do Brasil e sobretudo com a história das lutas do proletariado e dos trabalhadores em geral.



Mas a comemoração não é exclusiva do PCB e de seus amigos. Os que estamos revitalizando esta sigla histórica reconhecemos que do ventre do PCB nasceram várias organizações políticas. Estas têm também o direito de comemorar este aniversário, que não pertence apenas aos que nele hoje militamos.



Queremos comemorar esta data confraternizando-nos com os diversos camaradas que saíram do PCB e criaram outras organizações revolucionárias por conta de divergências internas, basicamente com relação à política de conciliação de classes que vigorou no Partido em boa parte da segunda metade do século passado, críticas com as quais concordamos. Da mesma forma, devem festejar a data os milhares de comunistas brasileiros, hoje sem partido, em função da diáspora que teve como matriz o PCB.



Para nós, do PCB, esta confraternização, naturalmente, é mais fraterna com aqueles que, apesar das divergências passadas, têm alguma proximidade com a nossa atual linha política, consolidada recentemente no XIV Congresso, cujos eixos centrais são o caráter socialista da revolução brasileira e a rejeição às ilusões de alianças com a burguesia.



Estes camaradas são nossos parceiros no esforço de construção da necessária frente antiimperialista e anticapitalista em nosso país, no rumo do socialismo, que não será obra de um só partido. Nossa saudação, portanto, aos que, saindo do PCB, criaram outros espaços de luta, dentre os quais destacamos, pelo seu relevo, os camaradas Luiz Carlos Prestes, Carlos Marighella e Mário Alves.



O próprio PCdoB - com o qual hoje temos divergências de fundo - tem direito e legitimidade para comemorar este aniversário, já que também foi do interior do PCB, liderados por João Amazonas, que alguns camaradas saíram para fundá-lo, em 1962, ligando-se primeiro aos chineses e depois aos albaneses.



Só esperamos que o PPS assuma sua identidade de partido burguês e não venha se referir a heranças que não honra, com a única intenção de maquiar sua vergonhosa aliança com a direita.



Voltando ao PCB, a sua longevidade não tem nada a ver com o exercício do poder, que revigora os partidos da ordem. Até porque, em sua longa história, o PCB nunca esteve no poder. Pelo contrário, passou a maior parte de sua vida na clandestinidade.



Mas este março de 2010 marca também dois aniversários da maior importância para o nosso Partido. Celebramos 18 anos de reconstrução revolucionária do PCB, contados desde 1992, quando as forças vivas da nossa militância resolveram manter o PCB, enfrentando a maioria do Comitê Central de então, que tentou liquidar e enterrar jurídica e politicamente o PCB.



E comemoramos ainda, neste mês de março, os 110 anos de nascimento de uma das figuras mais importantes da história do proletariado e do PCB, aquele cuja trajetória de lutas melhor representa o tipo de militante e de Partido revolucionário que estamos reconstruindo.



Falo de Gregório Bezerra. Militante comunista inserido no movimento de massas, organizador da luta dos camponeses sem terra antes do golpe de 1964, que o obrigou a partir para o exílio na então União Soviética. Um exemplo de coragem e dedicação à revolução, um verdadeiro comunista, que fez jus à acusação que lhe faziam os órgãos de repressão da ditadura: um agitador subversivo!



Viva a reconstrução revolucionária do PCB!


Gregório Bezerra vive!


(*) Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB

quarta-feira, 24 de março de 2010

ENTREVISTA COM IVAN PINHEIRO, SECRETÁRIO GERAL DO PCB

(Jornal do Commercio, de Pernambuco, edição de 14 de março de 2010)

PCB LUTA PARA VOLTAR AO CENARIO POLITICO
PARTIDÃO ENALTECE FIGURAS HISTÓRICAS E BUSCA INSPIRAÇÃO NO PASSADO PARA SER RECOLOCADO COMO UMA DAS REFERÊNCIAS DA ESQUERDA NO BRASIL

GILVAN OLIVEIRA

O QUASE NONAGENÁRIO PCB tenta se reinserir no plano político buscando inspiração em seu passado. O "Partidão" traçou a estratégia de enaltecer as trajetórias de seus militantes históricos e apresentá-las como referência aos seus atuais filiados e aos interessados em ingressar na sigla. Esse seria um dos caminhos para recolocar o PCB como referência na esquerda no país, afirma o secretário geral do comitê central do PCB, o advogado Ivan Pinheiro (RJ), pré-candidato dos comunistas a presidente nas eleições deste ano.

Ele esta no Recife para participar dos atos em homenagem aos 110 anos de nascimento do militante comunista Pernambucano Gregório Bezerra, morto em 1983 e que militou no na legenda. A trajetória política de Gregório é uma das referencias que o PCB quer apresentar para cativar novos filiados "de qualidade" e recuperar o terreno perdido.
"Gregório foi uma das figuras mais importantes da esquerda brasileira. Ele soube conjugar como ninguém a luta institucional com a luta direta dos trabalhadores", reforçou Pinheiro. O PCB aproveitou a homenagem prestada ontem a Gregório, na Câmara de Vereadores de Recife, para entregar a medalha Dinarco Reis, uma condecoração do Partido ao único filho vivo de Gregório, Jurandir Bezerra, e a netos do militante.

A comenda também será entregue a militantes de outros estados, como forma de valorizar comunistas de vários locais. Em 2010, serão outorgadas mais quatro medalhas Dinarco Reis – um militante do PCB morto em 1989, que atuou na Aliança Nacional Libertadora, em 1935, e lutou como voluntário na Guerra Civil Espanhola na década de 1930.
Segundo Ivan Pinheiro, entre os vários militantes que estão na mira do Comitê Central para terem suas trajetórias resgatadas estão a de Luiz Carlos Prestes e até a do ex-cronista esportivo e ex treinador de futebol, João Saldanha, ambos mortos em 1990.

"É uma questão delicada. Alguns dos que homenageamos saíram do PCB (caso de Prestes). E nas famílias dos que morreram há polêmicas e resistências, idiossincrasias. Responsabilizam o PCB por um exílio, por uma morte, por não ter tido aquele militante tão pai quanto devia, tão avô quanto devia", relatou.

Pré-Candidatura

Se em 2006 se aliou ao PSOL para apoiar a candidatura da ex senadora Heloisa Helena (AL) à presidência, este ano o Partidão vai de candidatura própria. O anúncio de Ivan Pinheiro como pré-candidato será em rede nacional no programa eleitoral gratuito da legenda, dia 25 de Março, na data do 88° aniversário da sigla.

Segundo Pinheiro, o PCB optou pela postulação própria por não ter conseguido costurar uma unidade com o PSOL e o PSTU na construção de uma "frente de esquerda". Eles entraram em um debate mais preocupado no resultado eleitoral do que em criar essa frente (suprapartidária)", reclamou.

O Secretário Geral do PCB admitiu que sua candidatura não é competitiva. Disse que ela tem como função ocupar espaços para divulgar propostas do Partido. "Vamos participar das eleições, expor nossas opiniões, desmistificar toda a satanização em torno do PCB".

"A Política do PCB nos anos 80 foi equivocada"

"Advogado e bancário aposentado, Ivan Pinheiro, 64 anos, disputou a prefeitura do Rio de Janeiro em 1996 e de lá para cá vem se dedicando à reconstrução do PCB que segundo ele, terá um impulso maior a partir das eleições deste ano. Nesta entrevista, ele comenta erros históricos do PCB e como o partido trabalha sua reinserção social, depois de quase ter desaparecido do mapa político brasileiro."

Jornal do Commercio: Como vocês estão trabalhando essa reconstrução do PCB pelo país? É através do movimento estudantil? Em que segmento da sociedade o PCB está se reinserindo?

Ivan Pinheiro: é exatamente por ai, vamos dar relevância ao movimento social. O movimento estudantil é muito importante para nós. Mas o (foco) é o sindical, sobretudo porque a centralidade do trabalho continua essencial para nós.

JC: Como está o PCB em termos de inserção nos movimentos sociais e sindicais?
Pinheiro: O PCB está se reconstruindo e se reinserindo nos movimentos sociais. Aos poucos, com consistência, sem inchaço. Temos recrutamento de qualidade. Não falamos mais em campanha de filiação. O ambiente sindical, que foi mais favorável a nós no passado, foi ocupado pelo PT, sobretudo. Atribuímos isso a uma política equivocada em toda a década de 1980 em que a maioria da direção do PCB – que em 1992 tentou acabar com ele (saindo do Partido e criando o PPS) – praticou no ambiente sindical uma política que chamamos de conciliação de classes. Essa direção foi contra participarmos da CUT, um erro grosseiro a pretexto de que aquilo poderia desestabilizar a transição democrática. Hoje estamos dando atenção especial a movimentos sindicais em áreas industriais. Temos um bom crescimento no sul e sudeste.

JC: e no nordeste?

Pinheiro: Pernambuco é um Estado referência. Estamos ainda fracos na Bahia; no Maranhão, temos um peso razoável, mas o Estado do Nordeste onde temos um peso maior no movimento sindical é no Ceará: estamos nas principais categorias lá, nos sindicatos de professores, trabalhadores das indústrias de calçados e da construção civil. Ao todo, estamos em 21 Estados.

JC: A sua pré candidatura a presidente está colocada. E como essa postulação está sendo construída no Partido?
Pinheiro: A idéia da candidatura própria foi tomada pelo Comitê Central do Partido no inicio do ano. Não era isso que queríamos. A esquerda socialista (PCB, PSTU e PSOL), em 2006, veio unida em torno da candidatura da (ex senadora) Heloisa Helena (PSOL). Mas nós tivemos muitos constrangimentos; a campanha não foi o que a gente esperava. Lutamos para que fosse um frente política permanente e não uma mera aliança como acabou acontecendo. Temos divergências e queremos mostrar nossa identidade.

JC: O senhor vem visitando vários Estados. É para estimular candidaturas locais do PCB?

Pinheiro: Exatamente. Não estamos fazendo eventos públicos em torno das eleições. A comemoração dos 110 anos de Gregório não é propriedade nossa; estamos participando. Estamos discutindo com os companheiros como a gente monta as campanhas estaduais. A nossa orientação é a seguinte: chapa própria no âmbito nacional; e nos Estados, chapa própria, mas não em todos. Pode ser alianças, preferencialmente com o PSOL e o PSTU, porque estão no campo da oposição de esquerda ao Governo Lula. Nós teremos quatro eleições no fim do ano nos Estados: Governador, Senador e Deputados Federais e Estaduais. Estamos recomendando que, no mínimo, participemos com candidaturas próprias em duas delas.

JC: O PCB vai privilegiar algumas delas?

Pinheiro: Sempre vamos valorizar o legislativo. Não temos qualquer ilusão de eleger um Governador comunista num país capitalista e implantar o socialismo naquele lugar. O nosso problema é ter voz na televisão e. onde a gente puder, eleger deputados. É muito difícil, mas vamos ver.

JC: O Partido já fez um mapeamento para ver onde tem mais chance de eleger um deputado?

Pinheiro: Esse mapa está inconcluso. É uma coisa que a gente não domina bem, a matemática eleitoral.


POR QUE O PCB VAI APRESENTAR CANDIDATURA PRÓPRIA NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS (Nota Política do PCB)




O PCB julga-se no dever de esclarecer:


1 – Não nos imiscuímos em assuntos internos de outros partidos. Assim sendo, como partido, não temos nem preferências nem vetos em relação aos dignos e valorosos companheiros do PSOL que disputam internamente a indicação como candidato à Presidência da República.


2 – Em programa institucional no próximo dia 25 de março, em cadeia nacional de rádio e televisão, informamos ao povo brasileiro a determinação de nos apresentarmos nas eleições presidenciais deste ano com identidade própria, sem prejuízo de coligações, no campo da oposição de esquerda, em algumas eleições estaduais. A data do anúncio coincide com o aniversário de 88 anos do PCB, fundado em 25 de março de 1922.


3 – Esta atitude é conseqüente com nossa postura desde o início de 2006, quando já deixávamos claro que não estávamos procurando uma mera coligação eleitoral e muito menos candidaturas, mas a construção de um bloco na perspectiva de uma frente anti-imperialista e anticapitalista permanente, para além do PCB, PSOL e PSTU (incluindo movimentos e organizações populares) e para além das eleições.


4 – Em 2006, a coligação eleitoral então denominada "Frente de Esquerda" dissolveu-se, na prática, dois meses antes das eleições. Suas únicas reuniões, até junho de 2006, tiveram como pauta exclusiva os acordos em torno de candidaturas. Desde então, não houve qualquer reunião trilateral e, no caso pelo menos do PCB, nem bilateral, além de episódicos e superficiais contatos regionais.


5 – Para o PCB, foi equivocado o desinteresse em discussões sobre a conjuntura, a tática e estratégia dos caminhos ao socialismo, que gerassem consensos programáticos. Fizemos em 2006 uma campanha presidencial sem programa, abrindo espaço para a então candidata da coligação expor suas opiniões pessoais que, em muitos casos, não correspondiam nem às do seu próprio partido.


6 – Jamais, enquanto partidos, confrontamos nossos pontos de vista sobre qualquer tema, sendo que em alguns temos divergências importantes, algumas inconciliáveis. Entre estas, há questões que nos são muito caras, como a necessidade de criação de uma organização intersindical classista que seja baseada na centralidade da luta do trabalho contra o capital, a atualidade da construção de uma frente anticapitalista e anti-imperialista para além do economicismo e das eleições e o internacionalismo proletário, com a solidariedade firme e inequívoca à Revolução Socialista cubana, aos processos de mudanças na Venezuela e na Bolívia, ao povo palestino e aos demais povos em luta.


7 – Sempre defendemos a necessidade de uma construção programática que envolvesse muito mais que os três partidos da Frente de Esquerda, com vistas à formulação de uma alternativa de poder que venha a se contrapor ao bloco conservador, como ponto de partida de possíveis coligações eleitorais, evitando que a disputa e decisão sobre os nomes e candidatos ocorra antes e, na maioria das vezes, no lugar da discussão programática de eixos mínimos que possam representar a reorganização de um bloco revolucionário do proletariado.


8 – No entanto, estamos no final de março de 2010 e até agora só temos notícias das intenções dos partidos que compuseram aquela coligação pelos meios de comunicação ou por informes que nos chegam sobre o processo de escolha de candidatura presidencial no PSOL, que começou com a opção de Heloísa Helena por disputar o Senado, depois o desencontro previsível com Marina Silva e agora com a disputa interna ainda em curso.


9 - Não podemos deixar de registrar também nossa contrariedade com os rumos tomados pela então Frente de Esquerda, no que tange aos parlamentares eleitos com a soma de votos de dezenas de candidatos dos três partidos que a compuseram. Os mandatos, em especial os de âmbito nacional, não contribuíram para a unidade e a continuidade da mesma. Como acontece com os partidos convencionais, foram tratados como de propriedade dos eleitos, sem qualquer interação ou mesmo consulta política aos partidos que os elegeram. A preocupação principal desses mandatos foi garantir a própria reeleição.


10 – Queremos manter com os partidos, organizações e movimentos classistas que, como nós, vêem a ruptura do capitalismo como a única possibilidade de transição para o socialismo, uma relação independente, baseada em consensos programáticos e na ação unitária no movimento de massas, o que não significa necessariamente estarmos juntos nas mesmas entidades, organizações e coligações.


PCB – Partido Comunista Brasileiro


Comitê Central


22 de março de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

O PCB, os royalties do Petróleo e a reestatização da Petrobrás (Nota Política do PCB)


A aprovação, na Câmara Federal, da emenda que redistribui os royalties do petróleo, gera um intenso debate sobre as razões da existência destes recursos e sua melhor destinação, envolvendo, principalmente, o pacto federativo.





O debate sobre o tema descambou para o passionalismo, fazendo aflorar bairrismos e oportunismos eleitorais. A maioria dos partidos adota uma posição em cada Estado, em função da lógica meramente eleitoral. O PCB, com a responsabilidade de partido centralizado, olha a questão sob a ótica dos interesses gerais do conjunto do povo brasileiro, sobretudo dos trabalhadores.





Em 2009, foram R$4,9 bilhões arrecadados em royalties. O primeiro aspecto a considerar é quanto à sua natureza. A Constituição, mesmo afirmando que nossos recursos minerais são da União, concede aos Estados e Municípios produtores o direito de receberem compensações por danos ambientais e, no caso dos derivados de petróleo, pelo fato de o ICMS, diferentemente de outros produtos, ser cobrado nos Estados de destino e não nos produtores.





A recente emenda aprovada na Câmara de Deputados muda, repentinamente, as regras do jogo que estavam em vigor, pelas quais o Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, recebe cerca de 75% dos royalties destinados aos Estados e Municípios.





É razoável que uma parcela significativa dos royalties do petróleo fique nos Estados produtores, pelas razões expostas acima. No entanto, é preciso levar em conta que uma distribuição dos recursos de forma mais equilibrada entre os entes federativos é um elemento fundamental para a busca de um modelo de desenvolvimento voltado para combater as assimetrias regionais e as injustiças sociais.





Além disso, a cadeia produtiva da atividade petrolífera já vem trazendo inúmeros benefícios à economia do Rio de Janeiro, com investimentos na indústria naval e nos setores industriais correlatos, nos serviços, na infraestrutura e na área financeira, que têm impulsionado a geração de empregos, aumentando o consumo em geral e proporcionado a captação de significativo montante de recursos para o Estado, via cobrança de impostos.





Respeitadas as compensações devidas aos Estados produtores, os recursos gerados a partir de agora pela extração do petróleo da camada pré-sal devem ser distribuídos de forma a contribuir efetivamente para um processo mais homogêneo de desenvolvimento econômico e social do Brasil, voltado para a diminuição da miséria e da exclusão. Os novos recursos gerados pelo pré-sal devem ser distribuídos na razão inversa do grau de desenvolvimento dos Estados, medido pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).





Além do mais, o ritmo de exploração do petróleo, nas áreas atuais e na camada pré-sal, deve ser baixo o suficiente para garantir reservas estratégicas para o país e possibilitar o seu uso prolongado. A utilização dos recursos gerados deve voltar-se para o financiamento da pesquisa para a geração de energias alternativas e sobretudo de políticas sociais, como educação, saúde e saneamento básico, com metas claramente definidas.





Não se pode admitir que grande parte destes recursos financeiros continue sendo gasta irresponsavelmente por governos estaduais e municipais, sem qualquer controle social. Em muitos casos, os recursos dos royalties são consumidos em obras suntuosas de maquiagem e em ações supérfluas e eleitoreiras.





Para que estes objetivos e benefícios sejam garantidos e ampliados, é preciso continuar lutando pela REESTATIZAÇÃO DA PETROBRÁS, para que ela volte a ser uma empresa 100% estatal, com a participação direta dos trabalhadores brasileiros, e cujos lucros se destinem fundamentalmente para mitigar os nossos graves problemas sociais.





Hoje, o Estado brasileiro detém menos de 40% do capital da Petrobrás, estando o restante nas mãos de investidores privados, sendo as ações vendidas inclusive na Bolsa de Nova Iorque. É preciso acabar urgentemente com os leilões do nosso petróleo e com a ANP, a agência entreguista encarregada de promovê-los.





O marco regulatório enviado pelo governo federal para o Congresso Nacional é insuficiente para o Brasil gerir soberanamente nossas riquezas. Exigimos que o Parlamento desengavete o projeto apresentado pelos movimentos sociais brasileiros, que aponta para o resgate do monopólio estatal do petróleo.





Os frutos de nossas riquezas devem ser geridos pela Petrobrás 100% estatal, com controle social, uma empresa capaz de dar o rumo e o ritmo do processo produtivo, sem qualquer submissão ao jugo dos interesses das grandes empresas multinacionais do setor petrolífero.




PCB - Partido Comunista Brasileiro


Comissão Política Nacional


Março de 2010




segunda-feira, 22 de março de 2010

EM DEFESA DE CUBA

Rede Em Defesa da Humanidade.


A propósito da resolução de 11 de março do Parlamento Europeu sobre Cuba, os intelectuais, acadêmicos, lutadores sociais, pensadores críticos e artistas da Rede Em Defesa da Humanidade manifestamos:


1. Que compartilhamos da sensibilidade demonstrada pelos parlamentares europeus acerca dos prisioneiros políticos. Como eles, nos pronunciamos pela imediata e incondicional libertação de todos os presos políticos, em todos os países do mundo, incluindo os da União Europeia.


2. Que lamentamos profundamente, como eles, o falecimento do preso comum Orlando Zapata, mas não admitimos que sua morte, primeira "…em quase quarenta anos" segundo o próprio Parlamento, seja deturpada com finalidades políticas muito distintas e contrárias às da defesa dos direitos humanos.


3. Que pedir "… às instituições europeias para que dêem apoio incondicional e alentem sem restrições o início de um processo pacífico de transição política rumo a uma democracia pluripartidária em Cuba" não é somente um ato de ingerência, que reprovamos em virtude de nosso compromisso com os princípios de não intervenção e de autodeterminação dos povos - defendidos também pela ONU -, contrário ao colonialismo, mas também um ato que supõe um modelo único de democracia que, certamente, cada vez se mostra mais insuficiente e questionável. A busca do aprofundamento da democracia supõe, entre outras coisas, transcender seus níveis formais e inventar novas formas autenticamente representativas que não necessariamente estão definidas pelo pluripartidarismo que, como bem se sabe, encobre frequentemente o fato de que as decisões sobre os grandes problemas mundiais são tomadas unilateralmente por pequenos grupos de interesse com imenso poder, muito acima dos partidos.


4. Que pretender justificar uma intromissão nos assuntos políticos internos do povo cubano, manipulando midiaticamente o caso de Orlando Zapata - delinquente comum e de nenhuma maneira preso político -, coincide com as políticas contrainsurgentes que estão sendo aplicadas na América Latina para deter ou distorcer os processos de transformação emancipadora em curso, e soma-se ao criminoso bloqueio ao qual o povo cubano tem sido submetido, pelo simples fato de não aceitar imposições e defender seu direito de decidir seu destino com dignidade e independência.


5. Que compartilhamos da preocupação demonstrada pelos parlamentares sobre o respeito aos direitos humanos em Cuba, mas a estendemos ao mundo em sua totalidade. Assim como lhes preocupa o caso do delinquente falecido (que em 40 anos não tem nenhum antecedente similar), os convidamos a exigir: o fim da ocupação israelense de Gaza e do fustigamento ao povo Palestino, que tem provocado não uma mas sim milhares de mortes; da intervenção no Iraque e no Afeganistão que tem semeado morte e terror em populações e cidades; dos bombardeios nesses lugares com o argumento de defender a democracia; o fim da dupla ocupação do Haiti; o fechamento da prisão de Guantanamo e a entrega desse território a Cuba, a quem pertence; a devolução das ilhas Malvinas à Argentina; e, é claro, o fim de um bloqueio que viola os direitos humanos do povo cubano e que pode pôr em dúvida a qualidade moral de quem exige trato humano para um delinquente quando o nega a um povo inteiro.


O assédio econômico e midiático ao qual Cuba está sendo submetida, ainda antes do óbito do preso comum Orlando Zapata, constitui um atentado contra os direitos humanos e políticos de um povo que decidiu fazer um caminho diferente. Exigimos respeito aos processos internos do povo cubano para definir e exercer sua democracia, e que haja consequência com os princípios universais de não intervenção acordados pelas Nações Unidas.


Por favor, difundir. Pedimos que enviem seus nomes para aderirem a convocatória na página: edhcuba@cubarte.cult.cu


(Traduzido por Roberta Moratori)



PCB na TV

PCB NA TV:


Dia 25 de Março


(nesta quinta-feira)


De 20:30 às 20:35 h



No mesmo dia da celebração dos 88 anos de vida do PCB, fundado em 25 de março de 1922!





Pronunciamentos de Ivan Pinheiro e Mauro Iasi (membros do Comitê Central do PCB)




- cadeia nacional de TV aberta: de 20:30 às 20:35;

- cadeia nacional de rádio: de 20:00 às 20:05 h




domingo, 21 de março de 2010

PCB: 88 ANOS DE LUTAS





A história do Partido Comunista Brasileiro (PCB), fundado em 25 de março de 1922, confunde-se com a história das lutas dos trabalhadores e do povo brasileiro por condições dignas de vida, contra a exploração capitalista e em favor de uma sociedade igualitária, a sociedade socialista. O PCB surgia em meio ao contexto internacional de vitória da Revolução Soviética de 1917 na Rússia e da criação da Internacional Comunista em 1919, episódios históricos que sinalizavam, para o movimento operário e sindical no Brasil, a possibilidade real de vitória das forças proletárias no combate ao capitalismo. Os anos iniciais de formação foram marcados por imensas dificuldades, principalmente em função da violenta repressão policial desencadeada sobre os comunistas e sobre o nascente movimento operário pelos governos da Velha República. Isto não impediu que o PCB começasse a exercer importante influência no interior do proletariado brasileiro, divulgando as conquistas da Revolução Bolchevique e as ideias contrárias ao capitalismo através do jornal A Classe Operária, mas também por meio de palestras, festas nas sedes dos sindicatos, revistas, livros, panfletos e artigos publicados na imprensa sindical.


Os intelectuais Astrojildo Pereira e Octávio Brandão, que iniciaram sua militância no movimento anarquista, muito contribuíram para a formulação das teses marxistas sobre a realidade brasileira, propondo a aliança dos trabalhadores da cidade e do campo contra o imperialismo e o poder do latifúndio no Brasil. No final da década de 1920, o PCB participou de eleições municipais e nacionais sob a legenda do Bloco Operário e Camponês (BOC), elegendo representantes na Câmara do Rio e lançando um candidato negro - o operário Minervino de Oliveira - à Presidência da República.


A queda da República Velha e a ascensão de Getúlio Vargas nos anos 1930 não representaram refresco para os comunistas: foram anos de enfrentamento à onda fascista que varria o mundo. Contando em suas fileiras com a presença de Luiz Carlos Prestes - egresso do movimento tenentista - o PCB articulou uma grande frente nacional e antifascista, propondo à sociedade um projeto de desenvolvimento democrático, anti-imperialista e antilatifundiário, através da Aliança Nacional Libertadora (ANL). A perseguição varguista ao movimento levou os comunistas a promoverem a insurreição de novembro de 1935, com a tomada de quartéis no Rio Grande do Norte, Pernambuco e Rio de Janeiro. Derrotada a insurreição, abateu-se sobre o país uma ação repressiva sem precedentes, a que se seguiu a ditadura do Estado Novo, que obrigou os militantes comunistas a vários anos de luta clandestina.


A reorganização de grupos comunistas espalhados pelo país (com destaque para os núcleos da Bahia e de São Paulo) e a participação do Brasil na guerra antifascista possibilitaram a reestruturação nacional do PCB, com a realização da célebre Conferência da Mantiqueira, em agosto de 1943. A partir dela, o Partido conquistava novos espaços na vida política e, com o fim da guerra e a queda do Estado Novo, tornou-se um partido nacional de massas, conquistou legalidade plena, formando aguerrida bancada parlamentar - elegeu 14 deputados e um senador, Luiz Carlos Prestes - e assumindo a vanguarda das lutas democráticas e pela aprovação de reformas sociais na Assembleia Nacional Constituinte.


A Guerra Fria e a subserviência do governo Dutra ao imperialismo estadunidense impuseram novo período de ilegalidade ao PCB a partir de 1947. Mas a retomada das lutas operárias nos anos 1950, durante os governos de Vargas e JK, trouxe de volta o PCB à condição de principal organização representativa dos interesses dos trabalhadores, dos intelectuais, artistas, jovens e mulheres. Os comunistas tiveram decisiva participação na campanha O Petróleo é Nosso!, pela criação da Petrobras e estatização da produção e distribuição do petróleo. No início da década de 1960, exerceram intensa atividade política e cultural, produzindo inúmeras publicações e participando dos movimentos em defesa das reformas de base, das lutas contra o imperialismo e o latifúndio.


Diante do ascenso do movimento operário e popular, organizado em torno dos sindicatos de trabalhadores e do seu comando geral (CGT), das Ligas Camponesas, da UNE, dos Centros Populares de Cultura e dos partidos de esquerda, a burguesia brasileira, associada ao capital internacional e apoiada nas forças armadas, promoveu em 1964 o golpe contrarrevolucionário, destituindo o nacionalista João Goulart do poder, para garantir a reprodução plena do capital monopolista no país. Durante a ditadura empresarial-militar que calou os trabalhadores e as forças de oposição, impondo violento arrocho salarial e aprofundando a dependência do país diante do imperialismo, o PCB definiu uma linha de ação centrada na retomada das lutas políticas de massas. Mesmo recusando o caminho seguido por outras organizações de esquerda, que optaram pelas ações armadas, o PCB teve, entre 1973 e 1975, um terço de seu Comitê Central assassinado pela repressão e milhares de militantes submetidos à tortura, alguns até a morte, dentre os quais o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manuel Fiel Filho.


No ocaso da ditadura, para o que muito contribuíram as greves do ABC paulista, a campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita e, mais adiante, o movimento pelas Diretas Já, o PCB passou a confundir a participação na Frente Democrática de combate à ditadura com uma estratégia de luta política que privilegiava a conquista de espaços institucionais, através das eleições burguesas. Na esteira da crise internacional do socialismo, marcada pela queda da União Soviética e dos regimes do Leste Europeu, parte da direção nacional do Partido abdicou da luta contra o capitalismo e tentou destruir o PCB.


Mas é impossível acabar com o Partidão! Em 1992, iniciava-se nossa trajetória em defesa da reorganização revolucionária do PCB. O XIV Congresso Nacional, realizado em outubro de 2009, consolida este processo, no qual afirmamos nosso compromisso histórico com a revolução socialista, rejeitando categoricamente qualquer possibilidade de alianças com a burguesia. Por isso estamos na oposição ao governo Lula, que hoje cumpre o papel de aprofundar o capitalismo em nosso país. A atual crise econômica, muito mais profunda que a tal "marolinha" desejada por Lula, provocou forte redução da produção industrial e aumentou o desemprego em vários setores da economia. Frações destacadas da burguesia brasileira, tendo à frente o setor financeiro, o empresariado exportador e o agronegócio, que tantos lucros acumularam no período histórico mais recente, buscam ainda tirar proveito da crise aumentando a taxa de exploração da força de trabalho, rebaixando salários e ampliando jornadas, reduzindo direitos e garantias dos trabalhadores.


Por isso mantemos firme nossa determinação de organizar a classe trabalhadora, nas suas lutas específicas e gerais contra o capital e o patronato, em torno da Unidade Classista e da Intersindical. Reorganizamos a União da Juventude Comunista, que agora em abril realizará seu V Congresso, mobilizando e organizando a juventude comunista por todo o Brasil. Reestruturamos nossa atuação junto aos movimentos de mulheres e dos negros, através dos Coletivos Ana Montenegro e Minervino de Oliveira. Prestamos nossa solidariedade militante aos movimentos sociais, com destaque para o MST, que hoje sofrem intenso processo de criminalização de seus atos, por conta da combativa atitude no enfrentamento aos ditames do capital no campo e nas cidades. Defendemos a plena reestatização da Petrobras, mantendo viva a campanha "O Petróleo tem que ser nosso!".
Denunciamos a presença de tropas brasileiras no Haiti, cumprindo o triste papel de força auxiliar e subalterna do imperialismo, assim como a presença da IV Frota dos EUA na América do Sul e toda a tentativa de desestabilizar as conquistas dos governos e movimentos populares na América Latina. Damos vivas à Revolução Cubana, que segue firme enfrentando o criminoso bloqueio econômico imperialista e avança na construção do socialismo.


Para fazer avançar a luta contra o capitalismo e no caminho da construção do projeto socialista em nosso país, defendemos a criação de uma Frente Nacional Permanente de caráter Anticapitalista e Anti-imperialista, que não se confunda com uma articulação meramente eleitoral. E entendemos ser igualmente necessária a formação do Bloco Revolucionário do Proletariado, capaz de reunir as organizações políticas e sociais dos trabalhadores brasileiros dispostas a lutar de forma radical contra o sistema capitalista e em favor da alternativa socialista.


Neste mês de março de 2010, comemoramos também os 110 anos de nascimento de um dos mais destacados personagens da história do proletariado e do PCB, aquele cuja trajetória de lutas melhor representa o tipo de militante e de Partido revolucionário que estamos reconstruindo. Trata-se de Gregório Bezerra, bravo militante comunista que enfrentou os porões da ditadura do Estado Novo, foi deputado atuante da bancada parlamentar do PCB em 1945/1946, organizou a luta dos camponeses sem terra pela reforma agrária, encarou de frente a brutal repressão militar e a tortura imposta pelo regime de 1964. Um exemplo de coragem e dedicação à revolução socialista, um verdadeiro comunista que fez jus à acusação que lhe faziam os órgãos de repressão da ditadura e da qual se orgulhava: um agitador subversivo!

VIVA OS 88 ANOS DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)!

CAMARADA GREGÓRIO BEZERRA, PRESENTE! AGORA E SEMPRE!
VIVA A REVOLUÇÃO SOCIALISTA!

COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)

sábado, 20 de março de 2010

GREGÓRIO BEZERRA: UM EXEMPLO DE REVOLUCIONÁRIO







PCB ENTREGA, EM RECIFE, A MEDALHA DINARCO REIS, IN MEMORIAM, A JURANDIR, ÚNICO FILHO VIVO DE GREGÓRIO BEZERRA.


"Em 1935, a gente tinha armas, mas não tinha massa;

Em 1964, a gente tinha massa, mas não tinha armas."

(Gregório Bezerra)


Sem subestimar o fundamental papel dos intelectuais revolucionários, é impressionante como a inserção de um comunista na massa, como um peixe dentro da água, lhe permite, com uma sábia simplicidade, resumir e transmitir ao povo teses de importância prática e teórica.


Com a pequena frase citada em epígrafe, Gregório Bezerra conseguiu caracterizar aqueles que talvez tenham sido os dois maiores erros políticos da heróica, porém pendular, história do PCB, e que trouxeram grandes prejuízos para o Partido e para as massas.


De um lado, critica o baluartismo, o espontaneismo, o foquismo e a subestimação das massas, no levante militar de 1935.


De outro, critica o reformismo, a ilusão de classe e a subestimação da natureza da democracia burguesa, antes do golpe militar de 1964.


Em expressivo e fraterno ato público no último dia 13 de março, no Recife, em que se celebravam 110 anos de nascimento de Gregório Bezerra, o PCB concedeu-lhe, in memoriam, a Medalha Dinarco Reis, com que homenageia anualmente cinco camaradas que honram a história do Partido.


A amplitude e o pluralismo do ato mostraram que Gregório extrapola o PCB.


O ato teve seu momento mais emocionante quando o músico, poeta, cantor e compositor Vital Farias, militante do PCB no Estado da Paraíba, apresentou duas peças musicais que preparou especialmente para o evento, em homenagem à memória de Gregório: um réquiem e uma "incelença", que contaram com a participação do músico Luiz Wagner, também do PCB, e de alguns dos filhos de Vital.


Ivan Pinheiro


Secretário Geral do PCB





sexta-feira, 19 de março de 2010

O déficit da esquerda é organizacional - Por: José Paulo Netto (*)


Para os revolucionários inscritos na tradição marxista colocam-se atualmente problemas inteiramente novos. Não é a primeira vez que, nos últimos cento e cinqüenta anos, uma conjuntura deste tipo se instaura (nem será, talvez, a última). Mas, certamente, nenhuma das conjunturas anteriores revestiu-se da dramaticidade com que se apresenta a situação atual.



Com efeito, o exaurimento de todas as possibilidades civilizatórias do capital alcança hoje um nível tal que a manutenção, ainda que seja por uns poucos decênios, da ordem capitalista implica um grau de violência e barbarização que tornará inviável a sobrevivência da humanidade (o desastre ecológico é apenas um signo, embora crucial, das perspectivas horrorosas que se põem a médio, senão a curto, prazo). E isto se dá na quadra histórica, emergente na transição dos anos 1970 aos 1980, em que o projeto revolucionário fundado em Marx (e, de fato, o processo revolucionário real que tomou sua primeira forma na Revolução de Outubro) registrou derrotas históricas de larga incidência.


Em poucas palavras: nunca foram tão ameaçadoras as perspectivas imediatas da vida da humanidade e, simultaneamente, nunca o movimento revolucionário inspirado em Marx viu-se diante de tantas dificuldades. Precisamente por isto, vale a pena provocar a imaginação com um breve exercício de polêmica: nosso – dos revolucionários – déficit não é teórico, é organizacional.



A potencialidade teórica do marxismo



É enorme a bibliografia sobre as crises do marxismo e, sem prejuízo de observações pertinentes que nela se encontram, quase toda possui um denominador comum: identifica a crise de uma ou outra vertente da tradição marxista (que, de fato, é um acervo ídeo-teórico e político muito diferenciado) com a crise do marxismo. Se houve, e de fato houve, uma paralisia no desenvolvimento da tradição marxista no segundo terço do século XX – aqui, as hipotecas derivadas do stalinismo foram decisivas -, paralisia que compeliu Lukács a reclamar, nos anos 1960, um "renascimento do marxismo", o que os anos posteriores a 1970 revelaram foi a crise terminal de uma vertente particular (certamente relevante) daquela tradição: o marxismo-leninismo oficial, prolongamento do "marxismo vulgar" dominante na Segunda Internacional1.



Mas, marginalmente ao marxismo-leninismo e após a denúncia do "culto à personalidade" (1956), outras vertentes marxistas se desenvolveram (ou continuaram se desenvolvendo) e constituíram um acúmulo ídeo-teórico capaz de propiciar um conhecimento social adequado. Um exame cuidadoso da documentação produzida por marxistas de diferentes matizes, a partir dos anos 1950, revela a emersão de um estoque crítico que, depois dos anos 1970, só fez crescer. Ao contrário do que sustenta o senso comum das ciências sociais acadêmicas e do que é veiculado pelos meios de comunicação social, a elaboração teórica de extração marxista tem se revelado capaz de análises extremamente corretas (ou seja: validadas pela dinâmica social real) dos processos histórico-sociais dos últimos trinta anos. Não é este o lugar para oferecer provas bibliográficas desta afirmação, mas basta cotejar, por exemplo, a visão da dinâmica econômico-social do sistema capitalista nos últimos vinte e cinco anos oferecida por diferentes teóricos marxistas (Mandel, Mészáros, Chesnais, Husson et alii) com aquela traçada pelos apologistas do capital para aquilatar da atualidade e da atualização da capacidade heurística do referencial analítico elaborado originalmente por Marx.



É evidente que este efetivo desenvolvimento de vertentes da tradição marxista está longe de significar que inúmeros complexos problemáticos, que peculiarizam a atual quadra histórica, estejam minimamente equacionados2. Há toda uma série de níveis societários - no plano da cultura, no espaço da vida cotidiana, no campo das relações entre ciência e ética, nos domínios da demografia, da territorialidade etc. – em que se acumulam dilemas e impasses sobre os quais o estoque de conhecimentos é extremamente assimétrico em comparação à sua magnitude. As lacunas teóricas existentes são indiscutíveis e não há por que dissimulá-las. Mas, ainda aqui, cumpre sublinhar que carências crítico-cognitivas de monta afetam o conjunto das teorias sociais contemporâneas e são imensamente mais expressivas no campo dos saberes funcionais à ordem do capital – que, no plano teórico-social, mostra-se cada vez menos apta a engendrar concepções que resistam às fortes tendências constitutivas do que Lukács, na esteira de Marx, designou como "decadência ideológica".



Com estas considerações - necessariamente breves e esquemáticas -, o que pretendo ressaltar, com ênfase, é que as dificuldades com que se defrontam hoje os revolucionários que se reclamam vinculados à tradição marxista não derivam essencialmente de uma "crise teórica". A potencialidade teórica da tradição marxista tem resistido à prova da história.



Teoria e política



Em alguma passagem de seus escritos, P. Togliatti anotou: "quem erra na análise, erra na ação". A observação é crucial para os revolucionários (como, aliás, já o sabia Marx): para aqueles que se propõem como tarefa a supressão da ordem do capital e a ultrapassagem da sociedade burguesa, o conhecimento verdadeiro da realidade social é, como Lukács esclareceu desde 1923, uma questão de vida ou de morte. Isto equivale a dizer que, para os revolucionários, a formulação de projetos e o estabelecimento de estratégias no marco das lutas de classes supõem o máximo conhecimento possível da dinâmica social concreta.



Esta determinação, que parece incontestável, requer três notações minimamente convalidadas pela experiência histórica. A primeira é que tal determinação diz respeito àqueles que se empenham na superação da ordem do capital – a manutenção e a gestão desta ordem reclamam, obviamente, conhecimentos e saberes; entretanto, a natureza destes pode ser meramente manipulatória e instrumental; já o empenho exitoso na desarticulação da sociedade burguesa no rumo das transformações socialistas exige o conhecimento teórico rigoroso da estrutura e da dinâmica da vida social. Em segundo lugar, ela se refere aos segmentos dirigentes dos movimentos revolucionários – a elevação do nível de consciência das massas, sempre potenciado nas lutas e em especial nas conjunturas revolucionárias, não elimina a efetiva fronteira distintiva (sempre móvel) entre elas e as suas vanguardas. Finalmente, é preciso lembrar que nenhum processo revolucionário se deflagra contando com um conhecimento teórico exaustivo e total das suas possibilidades e limites – se assim fosse, certamente a história moderna não registraria nenhuma revolução.



É necessário acrescentar, porém, que aquela determinação - quem erra na análise, erra na ação – está longe de significar que quem acerta na análise tem êxito na ação revolucionária. Para os revolucionários, o acerto na análise (vale dizer: um acúmulo crítico que garanta o máximo conhecimento possível da realidade social) é condição necessária para o êxito da intervenção política, mas não é condição suficiente. A política (revolucionária) não se reduz à teoria (revolucionária) ou, mais exatamente, a política não é teoria.



Na tradição marxista, foram freqüentes os equívocos derivados de uma interpretação simplista da decantada "relação entre teoria e prática", que não poucas vezes conduziram - confundindo unidade com identidade – a desastres simultaneamente teóricos e políticos. Por isto mesmo, é preciso afirmar com vigor que teoria e política configuram âmbitos distintos, mesmo que não divorciados, na totalidade das formas pelos quais os homens e as mulheres procuram compreender e transformar o mundo. No âmbito da teoria, o conhecimento verdadeiro é um fim; no âmbito da política, o conhecimento é um meio 3. Na teoria, importa a verdade; a política é o campo das relações de força. As conexões entre teoria e intervenção política não são unívocas nem diretas, até porque suas dinâmicas são estruturalmente diversas - a temporalidade da ação política não é a da elaboração teórica (antes, é reiteradamente emergencial).



Nada disso aponta no sentido de subestimar o peso do conhecimento teórico na intervenção política revolucionária – ao contrário, decorre desta linha de argumentação a conseqüência da mais exigente qualificação das vanguardas e de seus representantes mais destacados, notadamente quando se verifica que, no decurso do tempo, esta qualificação veio registrando uma curva descendente4. Mas, sem qualquer concessão a um weberianismo ocasional, se se constata a existência de "duas vocações", a teórica (científica) e a política, que não se excluem, mas que, se não coincidem necessariamente nas mesmas figuras (como, para citar tipos diversos, em Lênin, Mariátegui, Togliatti, Cunhal), há que dizer que elas podem articular-se no "intelectual coletivo" que as vanguardas organizadas devem estruturar.



Esta argumentação, porém, aponta num sentido preciso (e obviamente polêmico): não são as lacunas teóricas que estão na raiz das dificuldades políticas com que se vêem a braços os revolucionários de inspiração marxista. A paralisia que enfermou a vertente teórica dominante da tradição marxista ao tempo do stalinismo (o marxismo-leninismo oficial), bem como outros esclerosamentos, certamente foi um componente ponderável a embaraçar o desenvolvimento do movimento revolucionário – que, por outro lado, nunca se reduziu aos processos de transformação social substantiva direcionados por vanguardas de corte marxista. O insuficiente conhecimento de que esta tradição dispõe sobre vários domínios da vida social contemporânea decerto incide negativamente na potenciação de vetores revolucionários. Nada disto, todavia, é o determinante essencial das dificuldades atuais - até porque, como se referiu, a massa crítica produzida nos últimos trinta anos, no marco da tradição marxista, está longe de ser negligenciável. O determinante essencial parece residir na problemática da organização política dos revolucionários.



O déficit da organização política



A passagem de Lenin é conhecida à exaustão: "sem teoria revolucionária não pode haver também movimento revolucionário" – mas nem sempre se leva em conta que ela vem inscrita num texto (Que fazer?) em que o futuro líder da Revolução de Outubro está tematizando, centralmente, o problema da organização política. Não me parece adulterar sua tese interpretá-la como exigindo a referência teórica (que, para ele, estava dada: o marxismo) para que a organização política (o partido) pudesse direcionar o processo revolucionário na Rússia czarista - mas a centralidade, no processo revolucionário, cabe à organização e à direção política.



Recordemos que o texto lenineano (fundante de um partido novo) inscreve-se nas polêmicas que se travaram num arco temporal que pode ser claramente delimitado: o período que vai do Bernstein-Debatte (a segunda metade dos anos 1890) até a elaboração trotskiana do Programa de transição (às vésperas da Segunda Guerra Mundial). Aí se compreendem a crise da Segunda Internacional, a Revolução de Outubro, o fracasso da revolução no Ocidente, os giros da Terceira Internacional, a emersão do fenômeno stalinista etc. As riquíssimas polêmicas dessas quase quatro décadas tiveram sempre, explícita ou tacitamente, a centralidade da organização política (as vanguardas e sua relação com as massas) como elemento constitutivo. Todos os confrontos, colisões, divergências etc. - expressando decerto diferenças nas concepções teóricas - relacionavam-se à problemática da organização política. Elas são nítidas nas formulações (e práticas) de Kautsky, de R. Luxemburgo, de Lênin e mesmo de Trótski e Bukharin, apenas para referir os seus protagonistas mais conhecidos5. Depois deste período de polêmicas, praticamente não se introduziu nada de novo nos elementos nelas contidos.



A recorrência a tais polêmicas e, igualmente, às soluções que nelas foram propostas é, obviamente, de capital importância para enfrentar as dificuldades atuais. E, sendo procedente a hipótese com que aqui se trabalha, segundo a qual o "núcleo duro" dessas dificuldades radica na problemática da organização política, de tanto maior relevo se reveste a análise daquelas polêmicas e das implicações práticas das soluções nelas aventadas.



Todavia, e este é o ponto que me interessa salientar, a análise crítica dessa herança do movimento revolucionário, realizada com o estudo da experiência histórica do período que lhe corresponde (que tanto condicionou aquela herança quanto foi por ela modificada), pouco pode contribuir para romper com os nós que embaraçam hoje a atividade revolucionária. Com certeza, a meu juízo, essa análise reafirmará seja a indispensabilidade do máximo conhecimento possível da realidade social, seja a centralidade da organização política – mas não nos dirá nada acerca das formas concretas dessa organização nem sobre a sua articulação com instâncias e sujeitos sociais. Para ser bem claro: a análise crítica daquele legado haverá somente de nos indicar, à exceção dos dois constitutivos acima mencionados (o conhecimento e a organização política), a que herança devemos renunciar. Extrairemos, por exemplo, lições de Rosa Luxemburgo (quando alertava que a ditadura do proletariado poderia se tornar uma pura e simples ditadura) e de Trótski (quando denunciava/analisava a burocratização) - mas não extrairemos elementos positivos para uma refundação político-organizacional.



De fato, os dois constitutivos que deverão estar presentes para que se possa promover uma ofensiva socialista expressam os elementos universais do processo revolucionário conducente à superação da ordem do capital. Mas a sua particularização conseqüente com a quadra histórica contemporânea supõe e implica uma concretização para a qual a experiência passada pouco pode contribuir. Os problemas inteiramente novos, a que me referi na abertura desta rápida comunicação, escapam ao âmbito próprio daquela experiência – que, entretanto, permanece ainda como a referência básica do movimento revolucionário.



Um mundo novo



A constatação pode ser acaciana, mas deve ser repetida: as transformações societárias que se explicitaram nos últimos trinta anos configuraram um mundo novo.



A análise deste mundo revela que a teoria social de Marx é completamente atual: o modo de produção capitalista, em todas as diversas formações sociais existentes, obedece à dinâmica que foi idealmente (teoricamente) reproduzida n'O capital: exploração do trabalho, crescimento destrutivo e autodestrutivo, concentração e centralização de riqueza e poder, contradições e antagonismos etc., com toda a sua coorte de conseqüências deletérias no plano sócio-cultural e humano. A análise marxista do capitalismo contemporâneo, registrando novos fenômenos e processos - e esta análise vem sendo feita -, não infirma nenhuma das descobertas estruturais de Marx; mas revela que elas não dão plena conta das determinações novas desse capitalismo. Esta análise demonstra que as determinações teóricas de Marx, estruturalmente válidas, não são, apenas elas, suficientes para apreender o capitalismo dos nossos dias.



O desenvolvimento recente deste capitalismo introduziu profundas mutações na sociabilidade própria à sociedade burguesa. E se não afetou as bases da pertinência de classe (a propriedade) e se, menos ainda, reduziu a gravitação das lutas de classes no processo social, alterou substancialmente as modalidades pelas quais a estrutura e o movimento daquela sociabilidade são tomados pela consciência de homens e mulheres. As transformações na vida cotidiana (na constelação familiar, no espaço da reprodução imediata dos indivíduos etc.), na distribuição espacial dos indivíduos e grupos sociais, na organização e na repartição do tempo de trabalho, no controle do tempo fora do trabalho, os novos mecanismos de manipulação ideológica, seus impactos sobre os costumes – tudo isto, e muito mais, alterou qualitativamente as condições de constituição da consciência da massa dos homens e das mulheres.



É somente a partir da consideração desse mundo novo - e os traços dele aqui esboçados já se encontram minimamente estudados - que se pode intentar, de modo sério, encontrar soluções conducentes à criação de instrumentos de organização política eficazes para operar uma ofensiva socialista. Porque, e esta é uma determinação essencial, se as dificuldades que embaraçam a atividade revolucionária são notáveis, igualmente notáveis são as motivações reais que permitem a mobilização e a organização de largos contingentes de homens e mulheres contra a ordem do capital. Em todos os quadrantes, do Norte ao Sul, o capitalismo contemporâneo enfrenta uma insatisfação generalizada e uma resistência ora difusa, ora ganhando expressões corporativas e particularistas. Molecularmente, a ordem do capital tem exponenciado os seus coveiros - mas este movimento real permanece espartilhado nos limites da ordem porque carece de instâncias universalizadoras.



E estas não serão criadas somente a partir da análise crítica da experiência anterior do movimento revolucionário. O mundo novo requer, também, invenção.



A invenção de um novo padrão organizacional



Lênin não foi citado por acaso nas páginas anteriores. Também ele se situa, historicamente, num momento de inflexão do capitalismo (a emergência do imperialismo) e também para ele se punha um problema específico: encontrar um instrumento que tornasse interventiva a referência teórica de Marx. E Lênin inventou esse instrumento: o partido novo.



Cuidemos de evitar mal-entendidos. Lênin – de quem, em 1924, Lukács salientava o realismo e o antiutopismo – não inventou o partido arbitrariamente, mediante simples volição individual (também esta invenção respondia a possibilidades históricas concretas). Ele não só dispunha de uma análise concreta da formação social para a qual dirigia suas energias (recorde-se O desenvolvimento do capitalismo na Rússia) e de um substantivo conhecimento das experiências (anteriores e contemporâneas) dos movimentos revolucionários: incorporava criticamente os desdobramentos da teoria e da ciência que lhe eram contemporâneas6. E mais: assimilava sem preconceitos o que havia de válido na reflexão alheia, desenvolvia pistas referidas por outrem, inscrevia-se num debate coletivo e dava formulação rigorosa ao que nele emergia.



É deste tipo de invenção que o movimento socialista revolucionário de inspiração marxista necessita hoje. O conhecimento da herança já referida (de que Lênin é parte importante, mas não única) é, como sublinhei, indispensável para realizá-la – mas está longe de ser o bastante. Essencialmente, a invenção de um novo padrão político-organizacional e a formulação de seus parâmetros, que permitam direcionar para um processo revolucionário as generalizadas insatisfações e resistências em face da ordem do capital será resultado de uma elaboração coletiva, capaz de incorporar a massa crítica de que já dispomos sobre o capitalismo contemporâneo e de apreender as/responder às formas atuais da sociabilidade. Será uma tarefa muito mais complicada que a realizada por Lênin – devendo conjugar, num registro antes desconhecido, a teoria revolucionária atualmente acessível com demandas muito diferenciadas e pulverizadas. Mas é esta mesma conjugação que poderá unificar (sem identificar, com a diluição das suas especificidades) tais demandas, situando-as numa perspectiva universalizante que supere particularismos e corporativismos. E trata-se de tarefa factível desde que, aproveitando as lições do passado, deixemos de tomá-las como exemplos – e este é, como diria o velho Florestan, o buzílis da questão: a incontornável referência à herança não pode hipotecar a experimentação necessária.



Num ensaio de mais de vinte anos, Perry Anderson observava, com a sua conhecida argúcia, que o chamado marxismo ocidental tinha como traço pertinente o nunca haver conseguido vincular-se a movimentos de massa. Sem exagero, quer-me parecer que, nos dias correntes, o problema não reside em o marxismo tout court estar desvinculado de movimentos de massa - o problema está em que movimentos de massa são raros.



A invenção de um novo padrão de organização política, se, de um lado, é condicionada pela existência desses movimentos, de outro pode fomentá-los e torná-los mais densos.



Não é possível sequer prospectar se e quando uma tal invenção terá lugar – ainda que, para ela, estejam dados muitos elementos. Mas, salvo grave erro de avaliação, é possível concluir assegurando que da ultrapassagem deste nosso déficit organizacional depende, em escala decisiva, a possibilidade de travar e reverter a barbárie

capitalista.



*José Paulo Netto é professor titular da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro do PCB.



1 Tratei desta questão no meu ensaio Crise do socialismo e ofensiva neoliberal (S. Paulo: Cortez, 2007).


2 Por exemplo: ainda carecemos de análises suficientemente exaustivas sobre a crise do "socialismo real" ou do tipo de desenvolvimento social que se verifica na República Popular da China.


3 É sempre saudável recordar que o esforço teórico é dinamizado por dúvidas e perguntas, ao passo que a direção da atividade política demanda convicções (no caso da atividade revolucionária, preferencialmente fundadas em conhecimento teórico).


4 Uma imagem-limite desse declínio desolador se obtém quando se confronta o Comitê Central dirigido por Lênin e o Comitê Central secretariado por Brejnev – mas o fenômeno operou universalmente, quase sem o registro de exceções. E transcendeu o espaço da política revolucionária: ao passo que G. Washington lia Rousseau, L. Johnson deleitava-se com o pato Donald.


5 As importantíssimas reflexões de Gramsci pertencem a este rico período em que a tradição marxista tanto se desenvolveu – entretanto, só se tornaram conhecidas e influentes muito posteriormente.


6 Ainda que nem sempre tenha sido bem sucedido nesta interlocução, como o atesta Materialismo e empirocriticismo.