terça-feira, 31 de maio de 2011

SOBRE OS ACONTECIMENTOS EM ESPANHA

2011-05-24 07:00

_______________________________

Os acontecimentos da Espanha, pelo seu significado, estão a polarizar

a atenção da Europa e de milhões de pessoas noutros continentes. Em

Washington, Berlim, Paris e Londres, o acampamento da Puerta del Sol,

inicialmente encarado como iniciativa folclórica de jovens pequeno

burgueses frustrados, gera agora preocupação.

Quando o chamado Movimento M-15 alastrou a dezenas de cidades do país

e nas capitais europeias centenas de pessoas se manifestaram frente às

embaixadas espanholas, a indiferença evoluiu para um sentimento de

temor.

Porquê?

O protesto espanhol insere-se na crise global de civilização que a

humanidade enfrenta, cujas raízes arrancam da crise estrutural de um

sistema de opressão: o capitalismo.

Seria um erro concluir que os jovens que criaram o Movimento

«Democracia Real Ya » são revolucionários e o seu objectivo é a

destruição do regime. O M-15 atraiu gente muito diferente. Alguns nem

sequer rejeitam a obsoleta e corrupta monarquia bourbonica. Mas

rapidamente a contestação popular excedeu as previsões. O Movimento,

após a repressão do primeiro dia, foi olhado quase com benevolência

pelo PP e pelo PSOE os dois grandes partidos da burguesia. Mas, ao

assumir proporções torrenciais, o protesto adquiriu os contornos de

uma condenação do regime na qual as massas emergiam como sujeito

histórico.

Na Puerta del Sol começaram a ouvir-se brados inesperados: «No al FMI

»; «No a la farsa electoral»; «PSOE y PP, la misma gente!»; «Noa las

guerras de los EEUU!». Soou até a palavra «Revolução!»

Daí o medo.

Os jovens de Madrid sabem o que não querem, mas a grande maioria não

tem uma ideia minimamente clara sobre o que fazer e como actuar. As

reivindicações aprovadas a 20 de Maio, na Assembleia do acampamento,

são moderadas, algumas ingénuas. Espontaneista, o M-15 não acampa no

centro de Madrid em função de uma estratégia de Poder.

Quando aquilo principiou o que unia a multidão heterogénea de jovens

pouco mais era que a recusa da caricatura de democracia. Terá sido uma

surpresa para o pequeno núcleo inicial a adesão maciça de adultos, de

desempregados, de reformados. Foi ainda numa atmosfera de confusão que

surgiram as primeiras lideranças embrionarias, os porta-vozes do

acampamento.

Jovens entrevistados por media internacionais manifestaram espanto ao

tomar conhecimento da repercussão internacional da iniciativa e das

concentrações de solidariedade em cidades espanholas e europeias.

DE TUNIS A MADRID

O protesto dos «indignados» de Espanha foi obviamente inspirado pelo

modelo da Tunísia e do Egipto. Na época da comunicação instantânea, as

redes sociais permitiram que em tempo rapidíssimo os apelos à

concentração popular na Puerta del Sol fossem atendidos por milhares

de jovens. A praça madrilena foi a Tahrir egípcia.

Tal como ocorrera no Norte de África, a exigência de «democracia»

funcionou como motor da mobilização popular.

Mas enquanto nas rebeliões contra Ben Ali e Hosni Mubarak as massas

reivindicavam liberdades, eleições livres, um parlamento tradicional,

destruição de aparelhos repressivos, o fim de ditaduras ferozes e a

sua substituição por regimes representativos similares aos da União

Europeia, em Espanha a «democracia real ya» reclamada pelos

«indignados» partia dialecticamente da recusa do figurino pelo qual se

batiam os africanos.

O que para os árabes era ambição e sonho aparece hoje a muitos dos

acampados da Puerta del Sol como caricatura da democracia, rosto de um

regime cuja prática nega os valores e princípios que invoca, que

concentra a riqueza numa ínfima minoria e promove o desemprego, amplia

a desigualdade social.

Enquanto a burguesia tunisina e egípcia se solidarizava com os

rebeldes que se manifestavam contra Ali e Mubarak e o imperialismo

rompia com os seus aliados da véspera, a burguesia espanhola, os

partidos tradicionais e os poderosos da União Europeia condenavam os

«indignados» peninsulares, identificando neles arruaceiros de um novo

tipo.

Merece reflexão a dualidade antagónica da posição assumida pelo

imperialismo americano. Na Casa Branca, o presidente Obama compreendeu

que as reivindicações dos rebeldes da Tunísia e do Egipto não colidiam

com a sua estratégia para a Região e, agindo com rapidez e eficácia,

estimulou e aplaudiu nesses países a instalação de Governos de

transição ditos democráticos, sob a tutela de personalidades militares

e civis que, com poucas excepções, tinham servido as ditaduras

eliminadas. Na Líbia bombardeia Tripoli ; no Golfo pede à Arábia

Saudita que afogue em sangue rebeliões incomodas como a do Bahrein,

sede da V Esquadra da US Navy.

O imperialismo encara, naturalmente, com desconfiança e apreensão o

alastramento do protesto inorgânico dos jovens «indignados». Obama e o

Pentágono interrogam-se sobre as consequências imprevisíveis de um

movimento que condena com dureza o envolvimento da Espanha nas guerras

asiáticas dos EUA.

ADESÕES INTERNACIONAIS

A direita arrasou o PSOE nas eleições municipais de domingo. Os

acampados da Puerta del Sol reagiram com indiferença aparente aos

resultados. «Eles não nos representam», declararam porta vozes do

M-15, sublinhando que na engrenagem do poder, o PSOE e o PP, embora

com discursos, histórias , percursos e bases sociais diferentes,

praticam no governo politicas neoliberais muito semelhantes, e

politicas externas caracterizadas pela submissão às exigências dos EUA

e de Bruxelas.

Significativamente, o espaço e o tempo que os media espanhóis

dedicaram durante a última semana aos «indignados» diminuíram

drasticamente desde sábado. O tema quase desapareceu das primeiras

páginas dos grandes jornais e do programa dos canais de televisão. A

vitória do PP e o avanço das Autonomias monopolizaram a atenção de

políticos, analistas e jornalistas do sistema.

Oposta é a atitude assumida pela maioria dos intelectuais

progressistas. Na Espanha e também na América Latina, personalidades

de prestigio, em artigos e entrevistas publicados em revistas Web de

informação alternativa como Resumen Latino Americano e Rebelión e

outras, expressam a sua solidariedade com os jovens do M-15 e

reflectem sobre o significado e as consequências da contestação.

Cito alguns exemplos expressivos.

O filósofo e escritor marxista Santiago Alba Rico, num artigo

intitulado «La Qasba en Madrid» sublinhou que a Espanha «não é uma

democracia». E acrescenta, realista: «Não haverá uma revolução em

Espanha. Mas uma surpresa, um milagre, uma tormenta, uma consciência

nas trevas, um gesto de dignidade na apatia, um acto de coragem na

anuência, uma afirmação anti-publicitaria de juventude, um grito

colectivo de democracia na Europa, não é já um pouco uma revolução?»

Carlos Taibo, professor da Universidade Autónoma de Madrid, esteve na

Puerta del Sol levando solidariedade, e dirigindo-se aos acampados

disse ao saudá-los: «Os que aqui estamos somos, obviamente, pessoas

muito diferentes. Temos na cabeça projectos e ideais diferentes. Mas

conseguimos, apesar disso, chegar a acordo quanto a um punhado de

ideias básicas». E, parafraseando Santiago Alba Rico, afirmou: «Aquilo

a que em Espanha chamam democracia, não o é!».

O escritor italiano Carlo Frabetti escreveu: «Desde o protesto dos

Goya de 2003 que não se conseguira um aproveitamento tão eficaz de

contestaçao interna do sistema e a sua expressão cultural do

espectáculo».

Atilio Borón, um sociólogo marxista argentino de prestígio

internacional, dedica aos jovens acampados um artigo entusiástico

intitulado «Os indignados e a Comuna de Paris». Lembra que aquilo que

a democracia de Moncloa propõe para enfrentar a «crise é o despotismo

do mercado, irreconciliável com qualquer projecto democrático». E,

cedendo a um impulso romântico, conclui o artigo com estas palavras:

«Se persistirem (os indignados) na sua luta poderão derrotar a

prepotência do capital e, eventualmente, iniciar uma nova etapa na

história não só da Espanha, mas da Europa».

Angeles Maestro, a destacada dirigente de «Corriente Roja», da

Espanha, mais realista, salienta que os acampamentos em dezenas de

cidades espanholas «têm um conteúdo anticapitalista» e neles ondula

«uma multidão de bandeiras republicanas». Enfatiza o descrédito da

montagem eleitoral e afirma que «As mobilizações maciças que se

iniciaram em numerosas cidades do estado espanhol a 15 de Maio e que

tiveram continuidade em acampamentos, assembleias e convocatórias para

novas manifestações expressam o alto nível de indignação e raiva de

uma juventude que não tem qualquer esperança de chegar a ter os

direitos básicos que a Constituição pomposamente proclama: direito ao

trabalho, à habitação, à educação e saúde publica de qualidade, a uma

pensão digna, etc.».

Quanto ao futuro do Movimento, adverte como revolucionaria experiente:

«Nos processos sociais não há atalhos. Se é um facto que a faúlha da

espontaneidade está sempre presente e serve para desencadear as

mobilizaçoes, somente o avanço da organização é a medida da acumulação

de forças, e sem acumulação de forças as lutas leva-as o vento.»

AMANHÃ INCERTO

Esperanza Aguirre, a reeleita alcaide de Madrid, não esconde a sua

hostilidade aos acampados. Se dela dependesse, declarou, ordenaria à

Policia que expulsasse da Puerta del Sol os acampados. A repressão

inicial foi esclarecedora da sua posição. Mas carece de poderes para

recorrer à força.

Qual o desfecho do protesto dos «indignados»?

Por ora é imprevisivel.

Vai persistir, transformando-se em desafio ao Poder?

Uma Assembleia, improvisada e tumultuosa como as anteriores, decidiu

manter o acampamento até ao próximo domingo. Durante a semana

os activistas irão aos bairros. Depois se verá.

Em Barcelona e noutras cidades, as concentrações de protesto também

não se dissolveram, mas os próprios organizadores admitem que o número

de participantes diminua nos próximos dias.

Repito: os jovens «indignados» sentem dificuldade em definir um rumo

para a luta que iniciaram. A maioria talvez não tenha consciência da

complexidade do desafio lançado ao Poder.

Volto a citar Angeles Maestro: «O processo de confluência múltipla em

torno a um programa comum somente poderá abrir caminho se criar raízes

nas lutas operárias e populares. Por outras palavras, se a construção

do referente politico beber a seiva na luta de classes e demonstrar a

sua utilidade para abordar um longo processo de acumulação de forças».

A consciência demonstrada pelos «indignados» de Madrid de que a

«democracia representativa» é uma ficção no Estado Espanhol deve porém

ser saudada como acontecimento importante no âmbito das lutas de massa

europeias e não ignorada, subestimada ou mesmo criticada com

sobranceria em atitudes irresponsáveis por alguns dirigentes de

partidos de esquerda da União Europeia.

Não compartilho a euforia prematura de Atilio Boron, mas julgo

oportuno reafirmar que a Espanha não é excepção na Europa. Não há

democracia autêntica sem participação decisiva do povo. Na União

Europeia um sistema mediático perverso e desinformador esconde a

realidade. Os regimes existentes nos 27 diferenciam-se muito. Mas

existe um denominador comum: a ausência de uma democracia autêntica.

Neste início do século XXI, no contexto de uma gravíssima crise

mundial de civilização, o capitalismo, em fase senil, cola o rótulo da

democracia representativa a ditaduras da burguesia de fachada

democrática.

Vila Nova de Gaia, 23 de Maio de 2011.




--
Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Antissemitismo? Em memória de Simón Radowitzky e Raymundo Gleyzer (Néstor Kohan)

Néstor Kohan

Conheci pessoalmente Néstor Kohan, em Caracas, há dois meses, quando ambos participamos de duas mesas em eventos promovidos pelo Movimento Continental Bolivariano: um seminário sobre Marx e um ato público pelo Dia do Direito à Rebelião dos Povos.

Convivemos alguns dias e surgiu logo uma grande empatia. Conversamos muito, numa mistura de espanhol e português. Mas nos entendemos bem e descobrimos muitas identidades em nossa visão do mundo. Jamais perceberia sua origem familiar e étnica, se ele não me autorizasse a traduzir e publicar o seu texto abaixo. Mandou-me em solidariedade ao PCB, acusado recentemente de antissemita. Sabia apenas do detalhe de que o marxista Néstor é argentino, como podia ser brasileiro, afegão, angolano: afinal, ele é um internacionalista. Mas conhecer mais este detalhe sobre o camarada Nestor me faz ficar mais orgulhoso de o ter conhecido.

Ivan Pinheiro - secretário geral do PCB

Os fatos

O que se sabe: saiu publicado na capa do Clarín e foi exibido em vários canais de televisão. Na Argentina, ocorreu um pequeníssimo ato – algumas poucas centenas de pessoas, não chegavam a quinhentas –, em comemoração ao estado Israel, organizado pela embaixada desse país junto com o governo portenho da direita neoliberal clássica, vinculada ao empresário Maurício Macri. Um grupo muito pequeno de manifestantes – menos de duas dezenas – tentavam divergir do sionismo, distribuindo panfletos no ato. Armou-se um alvoroço. Repressão policial. Os manifestantes, críticos do sionismo, foram golpeados e presos. Uma brutal campanha midiática para ilegalizar a esquerda. A acusação central: "anti-semitismo". Perseguições, invasões, prisões, julgamentos. Tentativa de eliminar projetos sociais e os questionamentos de todo movimento piqueteiro não-oficial.

Sob pressão da embaixada do estado de Israel e da embaixada dos Estados Unidos na Argentina, o governo de Cristina Kirchner e os juízes invadiram um local piqueteiro, na cidade de Buenos Aires, prenderam outros dez militantes, mais os que já estavam presos pelo ato. Histeria midiática acusa toda a esquerda não institucional – principalmente de origem marxista – de... "anti-semita".
Quem escreve e quem opina?
Alguns anti-semitas dissimulam e escondem seus preconceitos com o confuso e manipulado "tenho um amigo judeu". Eu não tenho um amigo judeu. Simplesmente, parte de minha família foi torturada e massacrada pelos genocidas nazistas (genocídio que não teve nada de "holocausto". Não foi "um castigo de Deus", mas sim um empreendimento político bem mundano e terreno, planejado e executado de forma burocrática, a partir de um projeto de reordenamento e contra-revolução capitalista, de cobrança europeia ocidental, cujas pretensões imperialistas apontavam para todo o planeta). Mesmo se minha família não tivesse sofrido esse genocídio na própria carne, teria, igualmente, o direito de opinar.

Nosso vínculo com os presos

Conhecemos muitos deles e delas. Com alguns, compartilhamos militância, formação política e estudo durante anos e décadas, nos bairros da periferia, da cidade de Buenos Aires, na Argentina. Da mesma forma, nas escolas de formação política do Movimento Sem Terra (MST), no Brasil. Assim como em atividades conjuntas com povos originários e indígenas da Bolívia. Todos nos conhecemos bem, principalmente, os companheiros do Movimento Teresa Rodríguez (MTR).

Assistiram nossa Cátedra Che Guevara durante anos: primeiro, na Universidade Popular Madres de Plaza de Mayo, depois, no Hotel Bauen.

Precisamente no local invadido pela polícia, conhecido no bairro Florencio Varela (um dos mais humildes da cidade de Buenos Aires) como Conselho de Castelli, criamos uma escola de formação política para moradores com estes companheiros que hoje estão na prisão, acusados de "anti-semitas". A escola foi feita de maneira totalmente gratuita, absolutamente voluntária, sem cobrar, jamais, um só peso.

Com as pessoas das comunidades, líamos e estudávamos Antonio Gramsci e Che Guevara. Gravíssimo! Terrível! Também discutíamos sobre história argentina. Assistíamos a filmes com os moradores dos bairros, donas de casa, trabalhadores empregados, trabalhadores desempregados, rapazes e moças humildes, da classe trabalhadora. Por exemplo, vimos e discutimos "Os traidores", de Raymundo Gleyzer (o que terão sentido com relação ao filme aqueles que hoje prendem estes companheiros?). Fizemos com estes companheiros, algumas vezes, oficinas de filosofia nos bairros, onde, juntos com trabalhadores e trabalhadoras, donas de casa e muitos jovens, analisamos o capítulo sete do livro Cosmos, do pesquisador, professor e astrônomo da NASA (instituição norte-americana, senhor embaixador dos Estados Unidos... Sim, norte-americana... Que horror!), Carl Sagan: "O espinhaço da noite". Gravíssimo! Perigo! Turmas de filosofia nas periferias? No meio da rua das comunidades? Em meio a crianças correndo e com cachorros latindo ao redor? Inconcebível! Gravíssimo! A filosofia é para as crianças da elite, não para gente humilde e para trabalhadores de comunidades. Terroristas! Inadaptados! Autoritários! Como ousam socializar o saber? Subversivos! Deveríamos voltar a falar latim para que a cultura seja para poucos! Loucos-varridos!

A demonização midiática é tremenda. Apresentam estes companheiros como se fossem os obscuros e monstruosos "terroristas" dos filmes mais baratos de Hollywood. Conhecemos bem esses companheiros. Se não fosse trágico, daríamos boas risadas. Certamente, riremos juntos quando estes companheiros saírem do cárcere...

O estado de Israel defende o povo judeu?

Os acusam de "anti-semitas"? Israel protege o povo judeu? A embaixada de Israel e a embaixada ianque da Argentina são os «pais» do povo judeu?

O estado de Israel fala hoje em nome das vítimas do genocídio nazista, dos sobreviventes e de suas famílias. Para legitimar-se, se auto-intitula "protetor" dos judeus, além de representante dos familiares e vítimas do nazismo.

Pensemos um pouco. Façamos memória.

Se Israel nos protege, não entendo porque o estado de Israel foi um aliado estreito e fiel de Videla e Massera, ditadores simpatizantes de Adolf Hitler (como todas as Forças Armadas argentinas, segundo demonstra o documentário «Panteón militar», do historiador e jornalista periodista Osvaldo Bayer). O general Videla era um católico ultraconservador, que preconizava a guerra contra-insurgente como se fosse uma guerra santa contra os ateus marxistas. Todos os manuais de ensino médio daquela época comprovam isso. Por sua vez, almirante Massera era integrante da organização neonazista P2. Por que o estado de Israel tinha uma aliança tão estreita com esta ditadura militar?

Nessa época, o Movimento Judeu pelos Direitos Humanos (MJDH) havia calculado que, dos 30.000 desaparecidos e desaparecidas na Argentina, aproximadamente entre 1.500 e 2.000, eram de origem judia. Uma proporção bastante maior (na realidade, corresponde a 16 vezes mais) se comparar a relação quantitativa da comunidade judia com o conjunto da população total de nosso país. Não foi casual.

Isso é explicado, ao menos, por duas razões. Em primeiro lugar, pela ativa militância do judaísmo progressista e de esquerda nas organizações revolucionárias argentinas (incluindo as político-militares PRT-ERP, FAR, Montoneros e outras similares). Em segundo lugar, pelo caráter brutalmente anti-semita dos militares argentinos. Existem numerosos testemunhos, por exemplo, no Nunca mais (um livro que não possui posições de "ultra-esquerda" precisamente, já que o prólogo de Ernesto Sábato tristemente fortaleceu a célebre "teoria dos dois demônios"), sobre a ira especial dos torturadores militares com os prisioneiros e sequestrados de origem judia, as torturas "especiais", as marchas nazistas que eles faziam escutar nas câmaras de torturas, etc. O general Camps, chefe policial que se responsabilizou pelo desaparecimento e assassinato de 5.000 prisioneiros, era um confesso anti-semita. Sempre que podia, expressava seu ódio aos judeus. Não era o único, apenas um dos mais conhecidos e cínicos.

O que fez o estado de Israel para proteger não os 30.000 desaparecidos e desaparecidas em geral, mas, especialmente, os 1.500 ou 2.000 desaparecidos judeus?

Segundo reconhece Pinjas Avivi, o então cônsul da embaixada do estado de Israel na Argentina (entre 1978 e 1981), quando acompanhou o jornalista Jacobo Timerman (um dos poucos, talvez o único, que conseguiu se salvar) ao aeroporto de Ezeiza, pediu que não denunciasse a ditadura e as tremendas torturas sofridas... Mas o contrário! "Pedi-lhe que não atacasse o governo militar porque nosso trabalho corria perigo" (Página 12, 8/9/2001). O funcionário israelense reconhece que este tipo de atitude correspondia a: "não queríamos prejudicar as relações diplomáticas entre Israel e Argentina". O mesmo funcionário diz que "houve detidos que recusaram nossa ajuda. Eles nos acusaram: vocês são colonialistas, genocidas e conquistadores. Não queremos a ajuda de vocês. São piores que os generais»" (http://www.hagshama.org.il [1/2/2000]). Iosi Sarid, um dos deputados de Israel da Frente de Esquerda Meretz, revelou que nos arquivos da chancelaria israelense e no ministério de Defesa de Israel, existem provas que negam a versão acerca da suposta "ignorância" do estado de Israel a respeito dos massivos desaparecimentos, sequestros e torturas de judeus na Argentina, "provas que trataram de ocultar para não incomodar as «boas relações» e, entre elas, a venda de armas" (18/11/2003, www.wzo.org.il).

A colaboração do estado de Israel – venda de armas, votos da ditadura a favor de Israel nas Nações Unidas, etc. – com a ditadura militar, genocida e anti-semita do general Videla não foi uma exceção. O mesmo aconteceu com outros regimes fascistas ou de extrema direita, como os de Augusto Pinochet (que usava o uniforme nazista) no Chile, Anastasio Somoza, na Nicarágua, ou o regime neonazista do apartheid, na África do Sul. Todos estreitos aliados, como Israel, da cabeça da serpente mãe extremista, o estado norte-americano: USA. Uma casualidade?
O apoio entusiasta à Somoza tinha a ver com "a defesa do judaísmo"? Os comandos israelenses hoje combatem a insurgência marxista das FARC-EP ou assessoram os narco-militares de Uribe nas selvas e montanhas da Colômbia para "defender os judeus"? Quais são os judeus que vivem nas montanhas ou selvas da Colômbia? Queremos conhecê-los para compartilhar algumas comidas ou assistirmos juntos alguns filmes de Woody Allen!

Quando o famoso intelectual norte-americano Noam Chomsky (de origem judia, que viveu vários anos em Israel e que de lá saiu sumamente decepcionado e amargurado) afirmou que as FARC-EP da Colômbia não são terroristas e que, em contrapartida, a política oficial do estado de Israel é de extrema direita, não somente no Oriente, mas em todo mundo, será ele, por acaso, um "terrorista anti-semita"?
Longe da tradição humanista de Sigmund Freud, Albert Einstein e Karl Marx, que soube defender o querido escritor judeu Isaac Deutscher, hoje Israel faz culto à limpeza étnica e à discriminação, constrói um muro de intolerância (pelo qual ninguém se "ofende", como ocorreu hipocritamente com o muro de Berlim...), legaliza a monstruosidade da tortura (chamando-a com o mesmo eufemismo utilizado pelos "democratas" norte-americanos: "interrogatórios fortes") e pratica sobre os demais o mesmo que o povo judeu sofreu na própria carne. Como bem alertou em sua época o pensador judeu Martín Buber: "Deveremos enfrentar a realidade de que Israel não está inocente nem redentora. E que em toda sua criação e expansão, nós judeus temos causado o que sofremos historicamente: uma população de refugiados na diáspora".

Como escreveu em seu livro Ser judeu o filósofo judeu e marxista argentino, León Rozitchner: "Que estranha inversão se produziu nas entranhas desse povo humilhado, perseguido, assassinado, para humilhar, perseguir e assassinar aqueles que reclamam o mesmo que os judeus reclamavam antes para si mesmos? Que estranha vitória póstuma do nazismo, que estranha destruição inseminou a barbárie nazista no espírito judeu? Que estranha capacidade volta a despertar neste apoderar dos territórios distantes, onde a segurança que se reclama é, no fundo, a destruição e dominação do outro pela força e pelo terror? Se vê, então, que quando o estado de Israel enviava suas armas aos regimes da América Latina e da África, já ali era visível a nova e estúpida coerência dos que se identificam com seus próprios perseguidores. Não esqueceremos os judeus latino-americanos. Tampouco esqueceremos Chatila e Sabra".
Quem é o inimigo?
Permitem-nos um conselho? Aos jovens do MOSSAD e das Forças Armadas de Israel, humildemente, sugerimos que se o que buscam é adrenalina e vingança pelos ferozes assassinatos nazistas do passado contra o povo judeu, pois bem, então, por que não planificar e preparar-se para atacar, de forma mortífera e demolidora, as grandes empresas europeias e norte-americanas que se enriqueceram com o genocídio nazista? Como bem explica o formidável livro Negócios são negócios. Os empresários que financiaram a ascensão de Hitler ao poder, do escritor judeu Daniel Muchnik, o nazismo não foi uma "anomalia".

As hierarquias políticas, militares e ideológicas do nazismo são conhecidas: Hermann Göring, Joseph Goebbels, Ernst Röhm, Alfred Rosemberg, Ulrich F.J.von Ribbentrop, Heinrich Himmler, Rudolf Hess, Gottfried Feder, Josef Mengele, entre outros. No entanto, muito menos o são os empresários beneficiários-cúmplices, sócios de interesses, aliados ou colaboracionistas do nazismo na Alemanha.

A lista é longa e Muchnik a percorre minuciosamente. Entre outros, inclui as empresas Siemens (elétrica), a BMW e a Volkswagen (automotivas), Fritz Thyssen (industrial siderúrgico que morreu em Buenos Aires, em 1951), Gustav Krupp (dono da gigante do aço alemão), Ernst Heinkel ("führer econômico-militar" desde 1938) e Emil Kirdorf (empresário do carvão). Estes empresários, recorda amargamente Muchnik, que utilizavam mão de obra escrava dos prisioneiros judeus, comunistas ou ciganos, saíram ilesos dos julgamentos de Nuremberg... Uma mera casualidade?

Por acaso, hoje em dia – volta a perguntar-se Muchnik – não continuam operando com total impunidade empresas de origem nazista (derivadas da IG Farben, que fabricava o raticida das câmaras de gás) como a Bayer, a Hoesch ou a BASF, acusadas por sobreviventes do genocídio nazista?

Muchnik apresenta, então, uma quantidade enorme de dados sobre a colaboração sistemática, os negócios ou, inclusive, a simpatia ideológica que mantiveram com Hitler – ainda durante a segunda guerra mundial – empresas como a General Motors (associada com IG Farben), a General Electric, a Brown Boveri (filial de Westing House), a britânica Unilever, a Shell, a United Steel, o Chase Manhattan Bank de Rockefeller, a Standard Oil, a TEXACO, a ITT (a mesma do golpe de estado de 1973, no Chile), o National City Bank, o grupo editorial Bertelsman, dono da RCA e acionista majoritário do American On Line (o principal provedor de Internet dos EUA) e a Ford. Todos eles se encheram de dinheiro com o nazismo e, hoje, em pleno século XXI, continuam engordando suas contas bancárias e suas ações com total impunidade!

Aí, os jovens do MOSSAD e das Forças Armadas de Israel teriam que atacar e dirigir sua violência mortal, não aos refugiados palestinos, não às escolas palestinas, não aos hospitais palestinos, não às famílias palestinas... O inimigo tampouco são os piqueteiros da Argentina, a insurgência da Colômbia, os negros da África do Sul. O inimigo são as grandes empresas que ganharam fortunas com o nazismo.

Jovens, confundiram-se de inimigos ou vocês são amigos e cúmplices desse inimigo? Leiam esse livro, "desinformados" jovens do MOSSAD...
Os revolucionários são "terroristas anti-semitas"?
A literatura sionista, a grande imprensa do poder (monopólico), a embaixada dos Estados Unidos e a embaixada de Israel estão construindo um grande sofisma. Todo revolucionário é... "um terrorista". Quando se questiona a política de estado de Israel ou dos Estados Unidos é, além disso, um "terrorista anti-semita".

Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam um dos principais fundadores das FAR (Forças Armadas Revolucionárias) da Argentina dos anos 70, o militante de origem judia e comunista Marcos Osatinsky? Marcos Osatinsky não só era guevarista, como promovia uma opção político-militar, era aliado de Cuba e defendia a causa palestina. Esteve preso pela ditadura militar no cárcere de Rawson, escapou do "massacre de Trelew", passou pelo Chile de Salvador Allende e chegou a Cuba, onde desenvolveu trabalhos voluntários e foi fotografado com Mario Robi Santucho e outros revolucionários antiimperialistas daquela época. Este grande revolucionário de origem judia está desaparecido. Marcos era um "terrorista anti-semita"?

Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam o jovem trabalhador judeu libertário Simón Radowitzky? Radowitzky, em começos do século, justiçou com um explosivo o feroz coronel da polícia, Ramón Falcón, quando este último massacrou trabalhadores indefesos durante um ato pelo primeiro de maio, numa praça portenha. Simón Radowitzky foi castigado com mais de duas décadas de torturas, vexames e reclusão nas piores prisões do sul argentino. Depois da deportação para Montevidéu, marchou para combater, com as armas em punho, junto aos batalhões internacionalistas da guerra civil espanhola. Simón era um "terrorista anti-semitista"?

Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam Teresa Israel, jovem advogada de guerrilheiros e militantes populares? Esta jovem judia comunista, advogada de presos políticos, foi uma das mais audazes que incursionou no tenebroso quartel militar de Campo de Mayo, denunciando as torturas dos detidos. Nos anos 70, se metia nos quartéis para tentar salvar a vida dos revolucionários sequestrados e torturados pelos militares argentinos (aliados do estado de Israel). Hoje está desaparecida. Muitos centros culturais e comunitários levam o nome de Teresa, jovem judia revolucionária. Teresa era uma "terrorista anti-semita"?

Como os dirigentes sionistas e os monopólios de (in)comunicação chamariam Raymundo Gleyzer? Era um jovem militante judeu, comunista e combatente do guevarista Partido Revolucionário dos Trabalhadores-Exército Revolucionário do Povo (PRT-ERP). Na casa de Raymundo, fundou-se o teatro IFT, um dos baluartes culturais do judaísmo progressista argentino, hoje situado no bairro de Once. Raymundo, brilhante e apaixonado, dirigiu o grupo Cine da Base e foi o grande cineasta da insurgência argentina, amiga da causa palestina. Raymundo era um "terrorista anti-semita"?

A lista de exemplos segue e é incontável. Não só da Argentina, mas de toda a América Latina e do mundo.

O jovem dirigente uruguaio Jorge Zabalza, que começou militando no agrupamento judeu Hashomer Hatzair, visitou Israel, viveu num kibbutz e, ao regressar, se converteu num dos comandantes e num dos nove reféns históricos do Uruguai, pertencentes ao Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, organização amiga da causa palestina. O «tambero», como o chamam no Uruguai, é um "terrorista anti-semita"?

E Mauricio Rozencof, igualmente judeu, outro dos fundadores dos Tupamaros do Uruguai? Era um "terrorista anti-semita"?

E Enrique Oltusky, jovem militante judeu cubano, que se converteu em estreito colaborador do comandante Ernesto Che Guevara (Oltusky, junto com seu amigo Orlando Borrego, foi o organizador das Obras Completas do Che, conhecidas pelo título O Che na revolução cubana. Os três, Oltusky, Borrego e Guevara, estudaram juntos O Capital, em Cuba). Como seu chefe Guevara, Oltusky era amigo da causa palestina. Era Enrique um "terrorista anti-semita"?

E se formos ainda mais para trás... O jovem guerrilheiro socialista Mordejai Anielevich que, enquanto os grandes papas do sionismo negociavam com os nazistas, organizava no gueto de Varsóvia o único caminho para enfrentar os fascistas, isto é, com luta armada... Era um "terrorista anti-semita"?
A criminalização macarthista dos revolucionários – especialmente daqueles que possuem ou assumem posições radicalizadas – e a falácia de identificá-los com o brutal e monstruoso anti-semitismo de origem nazista, não possui como base a menor análise histórica. Visa, unicamente, a condição de apagar, não só a heróica resistência palestina, mas, inclusive, a própria história de honra e valentia do judaísmo revolucionário e socialista – impulsionador da luta armada. Como se pode aceitar a propaganda oficial do MOSSAD, o estado de Israel e a embaixada dos Estados Unidos?
A esquerda piqueteira é "anti-semita"?
Todavia, hoje permanece sem solução o atentado à AMIA. Enquanto a direção oficial do sionismo se abraçava com os políticos do sistema e aplaudia o presidente Carlos Saúl Menem, todo mundo sabia que estava em processo um atentado. Atentado que não se fez nos bairros onde viviam os judeus ricos e milionários, mas no bairro Onde, um dos mais populares da cidade de Buenos Aires (precisamente o mesmo bairro onde, em princípios do século XX, teve lugar a "semana trágica", quando os "bons filhos" dos empresários e as tropas para-policiais reprimiram trabalhadores insurretos e caçaram "judeus bolcheviques", humilhando mulheres e crianças, assassinando, à sangue frio, em nome da "pátria"). No local do atentado à AMIA, todo mundo suspeitava que a polícia da cidade de Buenos Aires, conhecida popularmente como "a bonaerense", havia posto sua garra suja e corrupta ali. Também se suspeitou que os militares caras-pintadas – ex-instrutores de contra-insurgência nas escolas ianques do canal do Panamá – tinham colaborado.

Porém, a ninguém, absolutamente a ninguém, nem sequer aos mais delirantes, ocorreu que o movimento piqueteiro esteve misturado com o atentado à AMIA.

Então, por que agora esse ódio e essa histeria que vemos em todos os monopólios da (in)comunicação contra a esquerda piqueteira?

Pedimos permissão para contar uma história. Há alguns anos, uma das organizações de vítimas do atentado à AMIA, os companheiros da APEMIA, organizaram um ato nas ruas Corrientes e Pasteur, no bairro de Once, Capital Federal da Argentina. O ato teve bastante concorrência. Quando um trabalhador morocho e muito humilde do Pólo Obrero tentou subir no palanque para solidarizar-se com as famílias das vítimas, alguns sionistas que estavam na plateia começaram a insultá-lo, vaiá-lo e tentaram tirá-lo. Quase nos agarramos a golpes.

Por que esse ódio de classe? Ao sionismo interessa o povo judeu ou, na realidade, defende seus próprios interesses, inclusive contra os próprios judeus? Se, de verdade, interessa o bem-estar dos judeus, NUNCA, repito, NUNCA deveriam ter apoiado uma ditadura anti-semita como a de Videla e Massera.
O sionismo nos protege?
Peço permissão para contar outra história pessoal, esta da adolescência. Ocorreu numa escola secundária, onde militávamos no grêmio estudantil. Alguns de nossos amigos eram judeus, outros católicos e um companheiro de origem árabe, ainda que de fé católica. Sem renegar nossa origem, nós éramos (e somos) ateus. No entanto, aproveitando o "dia do perdão", faltamos à aula, como grande parte dos adolescentes, tentando escapar da disciplina escolar. Junto com os de sobrenome judeu, também faltaram nosso amigos de origem católica e o de origem árabe. O que esse grupo de amigos encontrou no dia seguinte, ao regressar à aula? Em cada uma de nossas cadeiras de madeira haviam pintado uma imensa cruz suástica (nazista), de cor vermelha, com cada um de nossos nomes. A primeira reação, instintiva, foi irmos fechando os punhos. Porém, rapidamente, pensando politicamente, como militantes do grêmio estudantil. Fizemos uma denúncia pública contra este gravíssimo ato antissemita. Como dirigentes do grêmio estudantil, recorremos a inúmeros jornais. Ninguém publicou nada. O único jornal que publicou a denúncia foi Nueva Presencia, órgão jornalístico que havia sido, nos tempos ditatoriais, baluarte cultural da resistência popular. Dirigido pelo jornalista Herman Schiller (conheci Herman pessoalmente muitos anos depois, já militando com as madres de plaza de mayo), Nueva presencia deu lugar em suas páginas à colorida família da esquerda argentina, judia e não judia.

Imediatamente depois da denúncia, vieram à escola alguns dirigentes sionistas. Não recordo agora se eram da OSA ou da DAIA. Porém, era um dirigente de peso e renome. Veio averiguar e pedir explicações pelo feito anti-semita. O reitor da escola, fascista disfarçado de liberal, jurista legitimador dos golpes de estado e colunista do jornal de extrema-direita La Prensa, chamou os estudantes agredidos e também o agressor (que veio junto com seu pai), que tinha pintado as cruzes nazistas. Em meio à discussão, o reitor disse ao dirigente sionista, apontando-me com o braço estendido: "Porque este estudante é marxista e milita no fascismo vermelho". Automaticamente, seus olhos se cruzaram com os do dirigente sionista. Nesse instante, esqueceram-se do jovem neonazista, das cruzes suásticas, da agressão anti-semita e começaram a me insultar. Eu não entendia nada. Não vinha nos defender dos nazistas? Nós não éramos os atacados? Não! Para o dirigente sionista, que não era um jovem ignorante, mas um alto dirigente do sionismo argentino, era mais perigoso um estudante marxista judeu que um nazista que pintava suásticas... Incrível!!! Naquela época eu era muito garoto. Não entendi nada. A situação me parecia um absurdo e absolutamente ridícula. De agredido e denunciante, eu tinha terminado sendo acusado... Nada menos que por outro judeu! Anos depois, o compreendi muito bem...
Os palestinos nos odeiam?
Os palestinos nos odeiam? Não é certo. Gravíssimo erro confundir judaísmo com sionismo. Confusão claramente falsa, exercida em defesa do estado de Israel ou contra Israel. A resistência palestina – ao menos em suas vertentes e organizações mais lúcidas, as oriundas de um tronco antiimperialista laico e socialista – luta contra a política de estado de Israel, não contra os judeus em geral.

Se me permite, gostaria de contar uma terceira história para ilustrar este pensamento.

Quando se inaugurou a Escola Nacional «Florestan Fernandes», em São Paulo, por iniciativa do Movimento Sem Terra (MST) do Brasil, encontramos militantes de muitas partes do mundo, todos unidos pelas mesmas bandeiras e os mesmos ideais, os mais nobres conhecidos pela humanidade até o momento. Existiam, entre inúmeras pessoas, judeus não israelenses. Também estavam presentes alguns marxistas israelenses e, igualmente, mães palestinas. Estas últimas, vestidas com seus lenços e túnicas tradicionais. Todavia, recordo com uma emoção indescritível o imenso abraço internacionalista e fraterno que estas mães nos deram, a todos e todas por igual, incluindo os judeus não israelenses e os marxistas de Israel, sabendo perfeitamente quem era cada um. Ninguém me contou. Não li em nenhum livro. Não vi em nenhum filme. Esse abraço íntimo, afetuoso e fraternal de palestinas e judeus, palestinos e judias, simbolizou para nós um avanço, de como poderíamos viver e conviver se, neste mundo cruel e mesquinho não governassem o imperialismo e as burguesias, com todo seu primitivismo político, ódio racial, opressão nacional e fanatismo religioso, mas como povos organizados sobre um projeto socialista de alcance mundial. Não é um sonho delirante. É algo possível e ao alcance das mãos, com a condição de tirarmos de cima os donos do poder burguês, do mercado, do capital e da guerra fratricida.

Por isto tudo, pedimos aos senhores defensores do sionismo que façam toda a propaganda que queiram, mas, por favor...
Já basta! Não façam em nosso nome!
Não usem a memória dos nossos avós e bisavós torturados, perseguidos e massacrados pelo nazismo, para fins mesquinhos, egoístas e indefensáveis!
Viva a causa dos irmãos e irmãs palestinas!
Viva o socialismo!
Liberdade a todos as presas e presos políticos!
23 de maio de 2009
Autor: Néstor Kohan

* Montoneros (Guerrilla de origen peronista revolucionaria, nacionalista radical)
* PRT-ERP (Partido Revolucionario de los Trabajadores – Ejército Revolucinario del Pueblo)
* Cine de la Base: expresión cinematográfica de la guerrilla marxista
* FAR (Fuerzas Armadas Revolucionarias)
* PC: Partido Comunista
* Ashomer Atzair: La joven guardia
* MLN Tupamaros: Movimiento de Liberación Nacional Tupamaros (de Uruguay)
* MOSSAD (En hebreo ha-Mossad, acronismo de le-Modiin ule-Tafkidim Meyuhadim, (Instituto para Inteligencia y Operaciones Especiales). son los servicios de Israel)
* IFT: El Teatro IFT es miembro del ICUF -Federación de Entidades Culturales Judías de Argentina- ( la vertiente del Partido Comunista al interior de la comunidad judia argentina, en ese espacio se solía hablar el idioma judía de la diáspora idish, además del castellano, y no se hablaba el hebreo) y de ARTEI -Asociación Argentina del Teatro Independiente.-
* DAIA: Delegación de Asociaciones Israelitas Argentinas (sionista)
* AMIA: Asociación Mutual Israelita Argentina (sionista)
* A.P.E.M.I.A: Agrupacion Por el Esclarecimiento de la Masacre Impune de la AMIA (http://apemia.blogspot.com/ fracción encabezada por Laura Ginsberg, de izquierda, enfrentada a la direccion del sionismo local y de todos los gobiernos (Menem, De la Rua, Kirchner)
* Polo Obrero: Expresión piquetera del Partido Obrero (trotskista)
* "La Bonaerense: Expresión popular para referirse a la policia de la provincia de Buenos Aires.
* Carapintadas: Corriente de las Fuerzas Armadas, de pose y retórica "nacionalsita" enfrentada a los militares liberales. Sus líderes fueron instructores en contrainsugencia en las escuelas yanquis de Panamá







--
Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922




quarta-feira, 25 de maio de 2011

A DIREITA APROVA DILMA!

Brasil
imagemCrédito: PCB


Sérgio Domingues

Dilma mantém o essencial da política de seu antecessor, com uma vantagem. Dilma é Lula sem o jogo de cena. Não precisa dizer que faz o que pode. Ela faz o que deve ser feito, segundo as receitas neoliberais.

O governo Dilma completou 100 dias em 10 de Abril passado. A grande imprensa fez seu balanço. E, como se sabe, os editoriais dos jornalões brasileiros são porta-vozes de vários sectores da direita nacional. Para “O Globo”, o saldo é positivo. A “Folha” diz que é “auspicioso”. O “Estadão” limitou-se a cobrar um “estilo”. Ou seja, a esperança venceu o medo… dos empresários.

Parece ter ficado para trás o clima de terror fanático que reinou durante as eleições presidenciais do ano passado. As demonstrações de boa vontade em relação à presidenta não foram poucas. Em programas de TV populares, em entrevistas cordiais, visitas de celebridades. E, claro, no reconhecimento de que o governo Dilma mantém o essencial da política de seu antecessor, com uma vantagem. Dilma é Lula sem o jogo de cena. Não precisa dizer que faz o que pode. Ela faz o que deve ser feito, segundo as receitas neoliberais.

É o que demonstrou ordenando um corte de R$ 50 bilhões no orçamento de 2011. As áreas atingidas? Gastos com pessoal foram reduzidos em R$ 3,5 milhões, incluindo congelamento dos salários dos servidores. Foram também cortados R$ 5 bilhões no Programa “Minha Casa Minha Vida”. O ministério da Reforma Agrária ficou sem R$ 929 milhões. Na área da Educação, corte de R$ 3,1 milhões. Na Saúde, R$ 578 milhões. R$ 1,5 bilhão, nos Desportos. Quase R$ 400 milhões no Meio Ambiente. R$ 2,3 bilhões dos Transportes.

Gastos sociais são sacrificados, mas Dilma mantém em dia o pagamento da enorme dívida pública. Um rombo e um roubo que consumiu 44% do orçamento federal no ano passado. Em 2010, foram reservados mais de R$ 78 bilhões para pagar os juros dessa dívida. É o chamado superávit primário, cujo pagamento é sagrado, mesmo que se destine a banqueiros e especuladores nacionais e estrangeiros.

O resultado já se fez sentir. O superávit primário do primeiro trimestre deste ano foi 105% maior em relação ao mesmo período do ano passado.

O balanço dos movimentos populares, dos trabalhadores e da esquerda em geral deveria ser outro. Nada positivo. A começar pela luta pelo reajuste do salário mínimo. O governo barrou um aumento maior, dando mais uma demonstração de “responsabilidade” ao empresariado. As centrais sindicais não gostaram. Mas as mágoas logo se dissiparam.

Na mesma época, os trabalhadores de obras do PAC entraram em greve. Os sindicalistas pelegos agiram prontamente. As centrais sindicais oficiais, incluindo a CUT, saíram em defesa dos patrões e das obras. Entre elas, Belo Monte, que recebeu uma licença ambiental ilegal por pressão do governo. Depois de muita negociação, a solução aceite pelos sindicalistas foi vergonhosa: 3 mil demissões.

A direcção do MST reclama do desprezo do governo quanto à reforma agrária. Não deveria. Não foram poucas as lideranças dos Sem-Terra que acusaram o governo Lula de fazer menos pela reforma agrária do que FHC. Dilma, cuja candidatura foi apoiada por muitas dessas lideranças, apenas continua Lula.

Operações urbanas como os “choques de ordem” multiplicam-se nas grandes cidades. Na verdade, são acções de expulsão das populações pobres dos centros urbanos em busca de revalorização para especulação imobiliária. Processo que deve se radicalizar durante a preparação para a Copa Mundial e Olimpíadas. Tudo isso contando com a cumplicidade activa do governo federal.

Muita gente defendia o voto em Dilma para manter a política externa de Lula. O novo governo condenou o Irão e seus ataques ao povo iraniano. Mas falta coerência. Nada fez contra a intervenção militar estrangeira na Líbia. Ao mesmo tempo, recebeu Obama com tapete vermelho e as maiores honrarias. O chefe da potência mais violenta do mundo teve uma recepção quase monárquica. Depois, foi à China mendigar acordos comerciais para as multinacionais brasileiras. Em nome disso, fechou os olhos para a falta de liberdades e a feroz repressão do Estado chinês a movimento populares e de trabalhadores.

É o lulismo em pleno funcionamento. Uma engenharia política que favorece os poderosos; pede calma aos explorados e alivia a fome dos miseráveis com migalhas. Daí, um início com grande apoio popular do governo Dilma. A herança de Lula lhe garantiu a melhor avaliação para um presidente dos últimos 12 anos. No início de Abril, registaram-se 56% das pessoas pesquisadas pelo Ibope considerando o governo Dilma óptimo ou bom.

O grande álibi utilizado pelos apoiadores de esquerda do governo Lula eram os ataques da grande media. Apesar de tudo o que o governo petista fez para manter intacto o monopólio dos meios de comunicação, estes não engoliam o ex-sindicalista.

Dilma tem um inimigo diferente. É a extrema-direita. Um sector que não perdoa seu passado de guerrilheira. Bom álibi para a esquerda que defende a presidenta. Mas, diferente dos gorilas fardados, Dilma não nega seu passado nem está presa a ele. Sua tarefa actual é a manutenção de uma ordem injusta e opressora.

Ao mesmo tempo, a verdadeira oposição popular ao lulismo continua a tropeçar em suas próprias dificuldades. O movimento sindical combativo não consegue se unificar. Houve divergências e debates intermináveis até para decidir os locais de manifestações do 1º de Maio. Os partidos de esquerda são incapazes de unir forças, não somente em eleições, mas nas lutas e frentes em que actuam lado a lado.

As principais lideranças dos movimentos sociais se deixaram vencer pelas políticas de cooptação de governos e instituições. Principalmente em relação à dependência financeira. O MST reclama dos efeitos desmobilizadores do Bolsa-Família, mas a maioria de suas lideranças alinha-se ao governo quase incondicionalmente. Além disso, o maior problema é o apoio decidido do governo petista ao agronegócio, que enfraquece a agricultura familiar a passos largos. Compromete o horizonte camponês que atrai e impulsiona a luta da maioria dos integrantes do movimento.

Outro aspecto importante é a institucionalização dos conflitos. Algo que já vinha se impondo antes dos governos petistas, mas que se aprofundou. Foi imposta aos movimentos sociais e sindical a lógica do “lobby”. A pressão popular passa a ser direccionada para gabinetes parlamentares, órgãos governamentais e instituições oficiais. Importantes decisões são tomadas em consultas públicas controladas pelo poder económico. Os espaços e instrumentos de luta se esvaziam, fragmentam e são domesticados. A militância torna-se cada vez mais profissionalizada a serviço de ONGs e na disputa por espaço para sua “clientela” em programas sociais.

Para começar a superar tais dificuldades é preciso romper com uma trajectória de crescente dependência da institucionalidade. Um caminho que vem sendo seguido há quase três décadas, marcado pela valorização exagerada da conquista de aparelhos sindicais e pela montagem de grandes estruturas burocratizadas em partidos e entidades de luta.

O problema é que esse tipo de superação não depende apenas da vontade militante. Ela precisa ser empurrada pelas contradições que somente as lutas e conflitos de classe podem fazer surgir. Uma situação que se apresenta principalmente em momentos de crise social. Momentos que deixam à mostra a exploração dos trabalhadores e da população como verdadeiro motor de um desenvolvimento económico desigual e injusto.

Não é possível profetizar quando tais momentos podem surgir. Mas há sinais de que o crescimento económico a partir do qual o lulismo se fortaleceu pode sofrer abalos em breve. A economia nacional conseguiu escapar às piores consequências da crise económica de 2008. Para isso, contou com um forte aumento no preço de produtos nos sectores do agronegócio, mineração e =petróleo. Sectores em que a produção brasileira se destaca.

É inegável o considerável crescimento no consumo interno através de uma pequena mas inédita elevação de renda entre os mais pobres. Em especial, através do Bolsa-Família e do microcrédito. É o que se convencionou chamar de crescimento da “classe C”. O fenómeno é ainda bastante recente e de difícil compreensão. Mas tudo indica que se trata muito mais de um acesso maior ao mercado consumidor do que a direitos básicos como saúde, educação, secularidade social, habitação e cultura.

No entanto, a dependência em relação à produção de sectores como agronegócio, mineração e petróleo é perigosa. São ramos do chamado sector primário, que criam poucos empregos e geram pouco valor. Uma tonelada de minério de ferro, por exemplo, vale menos que um par de ténis importado. Trocamos mercadorias do sector primário por produtos dos sectores secundário e terciário, mais dinâmicos, rentáveis e avançados tecnologicamente.

Por outro lado, a enorme dívida pública brasileira vem atraindo dólares ao país. Os especuladores trocam a moeda americana, que anda desvalorizada, por papéis do governo que pagam os maiores juros do planeta. Esse movimento inunda a economia brasileira de dólares e valoriza o real. As importações ficam baratas. Produtos estrangeiros, incluindo máquinas e equipamentos, invadem o mercado nacional. Derrubam a produção nacional e começam a frear a criação de empregos e ocupações. É o que os especialistas chamam de desindustrialização e reprimarização.

Além disso, o crescimento do mercado interno, que vem sustentando boa parte da actividade económica, pode encontrar dois obstáculos. Um deles é a capacidade de consumo das famílias, que pode estar chegando a seu limite. Outro é a inflação causada, principalmente, pelo aumento nos preços de alimentos em nível mundial. Este último problema talvez não fosse tão grave, não fosse a fobia que os neoliberais sentem em relação ao aumento de preços em larga escala. Um medo ligado ao terror de que isso leve ao aumento da temperatura da luta de classes, com trabalhadores exigindo constantes e elevados reajustes salariais.

Como a equipe económica do governo petista compartilha dessa fobia, começam a se suceder aumentos nas já elevadas taxas de juros praticada no país. Uma medida que desestimula a produção, dificulta a venda a crédito e, portanto, diminui as oportunidades de empregos. Enfim, o crescimento económico pode diminuir muito de ritmo, causando mais problemas de desemprego, com a consequente pressão por salários menores e maiores dificuldades económicas para a maioria da população.

Outro elemento complicador do cenário económico pode ser um novo abalo económico mundial. Uma nova rodada de problemas envolvendo a quebradeira de países e instituições financeiras. Fenómeno que já se pode sentir em alguns países da Europa. Desta vez, algo assim poderia causar uma fuga de recursos e dólares do país, em relação aos quais a economia vem desenvolvendo uma relação de dependência perigosa. Pode-se até temer a formação de bolhas financeiras que venham a colocar o País entre os atingidos por uma nova manifestação da crise que teve início em 2008.

As possibilidades de ocorrer um cenário como este não são poucas. Mas estão longe de configurar uma situação inevitável e previsível. De qualquer maneira, as crises no capitalismo são constantes. A esquerda combativa deve se preparar para saber como intervir quando tais condições ocorrerem. Elas proporcionam momentos “grávidos de possibilidades”, como diria Rosa Luxemburgo.

Só saberemos aproveitá-los se combinarmos a análise da realidade com a busca incessante de formas de organização da luta dos explorados e oprimidos. E esta passa actualmente por dois combates. O primeiro tem como alvo as ilusões geradas pelo governo Dilma e pelo lulismo em geral junto aos movimentos sociais.

Mas a melhor maneira de desmascarar tais ilusões é nos mostrarmos prontos para fazer o combate principal. Aquele que deve ser travado contra os ataques bastante reais e concretos da burguesia, nosso inimigo principal. Para isso é preciso combinar presença nas lutas, debate fraterno e firme com o conjunto da militância socialista e propostas concretas de unidade e acção.

Fonte: http://www.odiario.info/?p=2078

terça-feira, 24 de maio de 2011

SIONISTAS TENTAM CRIMINALIZAR O PCB E CASSAR O REGISTRO DO PARTIDO NO TSE (Nota Política do PCB)

Fomos informados de que uma entidade chamada CONIB (Confederação Israelita do Brasil) teria formalizado, no início deste mês, representação contra o PCB (Partido Comunista Brasileiro), junto ao TSE, alegando prática de "antissemitismo", por ter a página do partido na internet publicado artigo denominado "Os Donos do Sistema: o Poder Oculto; de Onde Nasce a Impunidade de Israel".

Na apresentação de seu portal, a entidade se assume sionista, posiciona-se "na linha de frente do combate ao antissemitismo" e oferece "links" para todas as organizações sionistas de Israel, dos Estados Unidos e de âmbito mundial ou nacionais, a imensa maioria de direita.

Apesar de ainda não conhecermos os termos da representação (não divulgada pela entidade), inferimos que sua verdadeira intenção é tentar cassar o registro do PCB, como se se fosse possível calar a voz dos verdadeiros comunistas brasileiros. Nosso partido – o mais antigo do Brasil, fundado em 1922 - foi escolhido criteriosamente para esta ofensiva por razões que nos orgulham. Além de lutarmos pela superação do capitalismo, praticamos com firmeza e independência o internacionalismo proletário, a solidariedade a todos os povos em luta contra o imperialismo e o sionismo, cujo significado não se refere ao seu conteúdo original, mas ao caráter atual do movimento, hegemonicamente fascista e imperialista.

A nosso ver, trata-se de uma ação política, muito mais do que jurídica.

O texto que provocou a reação da CONIB é de autoria do jornalista argentino Manuel Freytas, divulgado originalmente no sítio eletrônico IAR Notícias, e reproduzido mundialmente em pelo menos mais de trinta portais progressistas e anti-imperialistas, listados ao final desta nota.

Segundo a apócrifa nota publicada pela citada CONIB (www.conib.org.br), o texto se utiliza "de imagens apelativas, distorções da realidade e argumentos conspiratórios e claramente anti-semitas", revelando "alto grau de desconhecimento do cenário político-econômico internacional", por repetir (agora no século 21!) chavões da obra "Os Protocolos dos Sábios de Sião, farsa montada pela polícia czarista da Rússia, no século 19". Assim, o PCB é acusado de "incentivar a discriminação e a proliferação da intolerância religiosa, étnica e racial em nosso país".

Termina a nota afirmando que a representação baseia-se na Lei Orgânica dos Partidos Políticos, com a "finalidade de evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira".

Diante deste fato, o PCB vem a público se pronunciar:

1 – O PCB não se intimidará diante da pressão de organizações sionistas de direita e continuará prestando ampla, geral e irrestrita solidariedade ao povo palestino, vítima da escandalosa impunidade de Israel, tema do artigo considerado ofensivo. Desrespeitando todas as Resoluções da ONU, o estado israelense continua ampliando a ocupação de territórios dos palestinos, derrubando suas casas, criando o chamado "Muro do Apartheid", invadindo e cercando a Faixa de Gaza, onde impede a entrada de ajuda humanitária (inclusive alimentos e medicamentos), assassinando e prendendo militantes palestinos, mantendo mais de 11.000 deles em condições abjetas em seus cárceres. Mais do que isso, continuaremos a denunciar que Israel se transformou numa enorme base militar norte-americana no Oriente Médio. O país é o primeiro destino da ajuda militar estadunidense no mundo e o único do Oriente Médio a ter direito a armas nucleares, sem permitir a inspeção internacional que exige de outros países.

2 – Esta ofensiva contra o PCB se deve ao fato de que apoiamos e participamos dos diversos Comitês de Solidariedade ao Povo Palestino que se consolidam e se multiplicam pelo Brasil. No nosso portal, este texto foi escolhido aleatoriamente, pois com uma simples pesquisa se pode verificar que ali os artigos e informações sobre a luta contra a política terrorista do Estado de Israel se contam às centenas, muitos deles mais contundentes que o escolhido para ofender a liberdade de imprensa consagrada em nosso país e tentar intimidar e criminalizar o PCB. Publicamo-lo exatamente há um ano, mas só agora ele foi "descoberto".

3 – É significativo que esta atitude intimidatória (que está se dando em vários países) ocorra no exato momento em que as duas maiores organizações políticas palestinas (Fatah e Hamas) anunciam a retomada de seus entendimentos e o desejo de dividir a responsabilidade pela administração dos territórios palestinos, que foram separados arbitrariamente pelas forças militares israelenses com o uso da violência e da ocupação.

4 – A unidade dessas duas organizações contraria os planos imperialistas de divisão sectária entre os palestinos – exatamente porque cria melhores condições para o reconhecimento internacional do Estado Palestino e para uma negociação pela paz na região -, tudo que Israel não deseja, apesar das reiteradas resoluções da ONU nesse sentido.

5 – Esta atitude arbitrária de perseguição política coincide também com a satanização do mundo muçulmano, este sim vítima de preconceitos e estigmatização, sem que a mídia burguesa se utilize de expressões como "anti-islamismo", "anti-xiitismo", "anti-sunitismo" etc. Coincide também com a proximidade da Assembleia Geral da ONU que, no próximo mês de setembro, discutirá o reconhecimento do Estado Palestino.

6 - Coincide ainda com a movimentação imperialista para ampliar seletivamente a agressão militar no Norte da África e no Oriente Médio, para além do Iraque e do Afeganistão. Coincide com a descarada intervenção militar na Líbia, com as provocações contra a Síria e o Irã, acusados de solidários aos palestinos e de apoio ao "terrorismo".

7 - As raivosas declarações das autoridades israelenses sobre a unidade das citadas organizações políticas palestinas deixam em evidência que Israel não tem qualquer interesse na paz na região e muito menos na criação do Estado Palestino. Fica claro que o objetivo do sionismo é ocupar todo o território palestino, através dos assentamentos ilegais, transformando o antigo território palestino no que chamam de Grande Israel, para inviabilizar na prática uma decisão da ONU, de 1948 - da coexistência pacífica de dois Estados, no território até então exclusivamente palestino -, boicotada pelos israelenses há mais de sessenta anos!

8 – Não tememos qualquer processo judicial, porque conhecemos as leis brasileiras, que têm como cláusula pétrea constitucional o livre direito de expressão e a proibição da censura.

9 – Mesmo que prosperasse esta absurda afronta às liberdades democráticas, estamos certos de que teríamos a solidariedade firme e militante de centenas de organizações políticas e sociais e personalidades democráticas, não só do Brasil, mas de todo o mundo.

10 – Não há, em qualquer documento do PCB, qualquer intolerância religiosa, étnica e racial contra qualquer povo ou comunidade. Criticar a direita sionista não significa criticar a comunidade judaica que, no Brasil e no mundo, é composta também por militantes democratas, humanistas e comunistas, que lutam contra a política terrorista e imperialista do Estado de Israel e se solidarizam com o povo palestino. O PCB tem uma vasta e orgulhosa tradição, desde a sua fundação até os dias de hoje, de contar com militantes e amigos de origem judaica.

11 - Os comunistas, em todo o mundo, somos contra qualquer intolerância religiosa ou étnica, contra preconceitos e nacionalismos xenófobos, porque lutamos por um mundo de iguais, sem fronteiras, sem Estado, sem forças armadas, sem opressores e oprimidos. Não entendemos o que a CONIB quer dizer com a expressão "intolerância racial", pois todos os povos pertencem à mesma raça humana. A não ser que assim pensem os que se acreditam pertencentes a uma "raça superior", escolhida por alguma divindade.

12 - Os comunistas do mundo inteiro tiveram papel decisivo na luta contra o nazi-fascismo que vitimou dramaticamente os judeus, mas também a muitos outros povos. O povo russo, dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética, foi o que entregou mais vidas em defesa da humanidade, mais de 20 milhões, principalmente de seus jovens.

13 – O sítio do PCB na internet é um espaço de difusão não apenas das opiniões do Partido, mas de outras organizações e personalidades com alguma afinidade política, porque objetiva também prestar informação e fomentar o debate sobre questões candentes, nacionais e internacionais. Na primeira página de nosso portal (www.pcb.org.br), deixamos claro que:
"Só publicamos nesta página textos que coadunam, no fundamental, com a linha política do PCB, a critério dos editores (Secretariado Nacional do CC). Quando não assinados por instâncias do CC, os textos publicados refletem a opinião dos autores".

14 - Com o texto questionado pela central sionista brasileira temos uma identidade política, na medida em que ele denuncia a impunidade de Israel, os massacres que este Estado comete contra o povo palestino, o seu importante papel econômico e militar no contexto do imperialismo. Publicamo-lo como contribuição a um debate necessário, ainda que algumas opiniões ali expostas possam diferir, em alguns aspectos, de nossa análise marxista da luta de classes no âmbito mundial. Para nós, o sionismo não é o "Comitê Central" do imperialismo nem o único "dono do poder", mas sócio e parte importante de sua engrenagem, uma significativa linha auxiliar com forte lobby internacional, enorme peso na mídia hegemômica, na economia mundial e na máquina de guerra imperialista.

15 – Sem preocupação com ameaças de qualquer tipo, estamos aqui oficialmente oferecendo à direção da Confederação Israelita do Brasil o direito de resposta, no mesmo espaço em que divulgamos o artigo criticado, para que a entidade possa se contrapor aos argumentos expostos pelo autor do texto "Os Donos do Sistema". Como certamente o texto da CONIB será uma exceção ao nosso critério da afinidade política, nos reservaremos o direito de publicá-lo com comentários de nosso Partido.

16 – Este convite, além de democrático, atende à preocupação da CONIB, embora injustificada, de que sua finalidade, ao adotar a medida judicial, é "evitar que abusos e inverdades desencadeiem preconceitos contra a comunidade judaica brasileira". Portanto, estejam à vontade para enviar ao nosso endereço eletrônico os seus pontos de vista.

17 – Esperamos também que a recíproca seja verdadeira, ou seja, que a CONIB publique em sua página a íntegra da presente nota política do PCB. Aproveitamos para sugerir que, no documento que nos mandarem, possamos conhecer suas posições em relação às Resoluções do último Congresso Nacional do PCB, a respeito do tema, e que transcrevemos aqui na íntegra:

"XIV Congresso Nacional do PCB (outubro de 2009):
DECLARAÇÃO DE APOIO À CONSTRUÇÃO DO ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR E LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO:
1) Pelo fim imediato da ocupação israelense nos territórios tomados em 1967, fazendo valer o inalienável direito à autodeterminação do povo palestino sobre estes territórios;
2) Aplicação de todas as resoluções internacionais não acatadas pelo sionismo;
3) Garantia aos refugiados (atualmente, 65% da totalidade do povo palestino) de retorno às terras de onde foram expulsos (Resolução 194 da ONU);
4) Libertação imediata dos cerca de 11.000 prisioneiros, entre eles Ahmad Saadat, Secretário Geral da FPLP, e outros dirigentes da esquerda;
5) Reconstrução da OLP, ou seja, reconstrução da unidade política necessária às tarefas que estão colocadas para o bravo povo palestino, com garantia de participação democrática de todas as forças políticas representativas dos palestinos;
6) Apoio irrestrito a todas as formas de resistência do povo palestino;
7) Destruição do muro do apartheid, conforme resolução do Tribunal de Haia;
8) Demolição e retirada de todos os assentamentos judaicos na Cisjordânia/Jerusalém;
9) Fim imediato do bloqueio assassino a Gaza;
10) Pelo fomento de campanha internacional para levar os criminosos de guerra sionistas aos tribunais de justiça, dentre os quais, o Tribunal Internacional de Haia.
11) Estabelecimento de sólida relação entre os partidos comunistas irmãos para concretizar ações de solidariedade e, em especial, apoio logístico à materialização desta luta;
12) Apoio a todas as iniciativas que visem estreitar laços entre os partidos da esquerda palestina, em especial a Frente Democrática pela Libertação da Palestina (FDLP), a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Partido do Povo Palestino, em unidade concreta programática e de ação.
POR UM ESTADO PALESTINO DEMOCRÁTICO, POPULAR, LAICO, SOBRE O SOLO PÁTRIO HISTÓRICO! PELA TOTAL INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA DOS TERRITÓRIOS OCUPADOS EM 1967! PELO RETORNO DOS REFUGIADOS E JERUSALÉM CAPITAL! LIBERTAÇÃO DE TODOS OS 11.000 PRISIONEIROS PALESTINOS! PELA CONDENAÇÃO INTERNACIONAL DOS CRIMINOSOS DE GUERRA!"
18 – Mas voltando ao artigo que gerou a representação, para que as críticas da CONIB se centrem na contestação às informações ali prestadas - ao invés de se esconderem sob o manto autoritário do carimbo "antissemita" -, sugerimos que releiam o texto, sem sectarismo nem preconceito. Verão que ele pode ter equívocos na forma de sua correta condenação ao Estado de Israel, mas não tem qualquer intolerância religiosa ou étnica.

19 – O texto, em nenhum momento, atinge o povo judeu, mas à sua liderança hegemônica - direitista, sionista e terrorista - deixando claro que nem todos os judeus concordam com seus métodos e que há vários intelectuais, organizações e militantes judeus que condenam e protestam contra o genocídio em Gaza e outras violências do Estado de Israel.

20 – Leiamos novamente algumas passagens do artigo de Manuel Freytas:
"Israel não invadiu nem perpetrou um genocídio militar em Gaza com a religião judia, senão com aviões F-16, bombas de rácimo, helicópteros Apache, tanques, artilharia pesada, barcos, sistemas informatizados, e uma estratégia e um plano de extermínio militar em grande escala. Quem questione esse massacre é condenado por "anti-semita" pelo poder judeu mundial distribuído pelo mundo".
"O lobby sionista pró-israelense não reza nas sinagogas, senão na Catedral de Wall Street: um detalhe a ter em conta, para não confundir a religião com o mito e com o negócio".
"As campanhas de denúncia de antissemitismo com as quais Israel e organizações judias buscam neutralizar as críticas contra o massacre, abordam a questão como se o sionismo judeu (sustentáculo do Estado de Israel) fosse uma questão "racial" ou religiosa, e não um sistema de domínio imperial que abarca interativamente o plano econômico, político, social e cultural, superando a questão da raça ou das crenças religiosas".
"A esse poder (o lobby sionista internacional), e não ao Estado de Israel, é o que temem os presidentes, políticos, jornalistas e intelectuais que calam ou deformam diariamente os genocídios de Israel no Oriente Médio, temerosos de ficarem sepultados em vida, sob a lápide do "antissemitismo".

22 - Estejam certos de que não calarão nem sepultarão o PCB em vida, tarefa que não foi possível nem para as mais cruéis ditaduras de direita que marcaram a história do nosso país. Prenderam, exilaram, assassinaram, desapareceram com muitos comunistas, no Brasil e no mundo, por lutarem contra a opressão, pela autodeterminação dos povos, pelas liberdades democráticas e contra o nazi-fascismo.
Exigimos respeito!

Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional
Maio de 2011
Observações:

1 – Este e outros artigos de Manuel Freytas são publicados, entre muitos outros, nos seguintes sítios:
2 - Segundo levantamento feito pela Federação Árabe-Palestina, apenas em 2011, a CIA destinou 120 milhões de dólares, para financiar o sistema de difamação da religião islâmica no Brasil.

3 – O mesmo texto usado pelo sionismo contra o PCB é usado como pretexto para o mesmo tipo de ação intimidatória na Venezuela, num relatório denominado "Antisemitismo en Venezuela", de autoria de uma organização à qual a CONIB é ligada, chamada ADL (Anti-Defamation League), que em português significa Liga contra a Difamação. Apesar do nome genérico da entidade, ela só criminaliza e intimida o que considera difamação "anti-semita". Veja a página 16 do sítio htpp://www.adl.org.

4 – neste momento, Israel está usando os céus da Grécia, por autorização do governo local, para treinar seus pilotos e testar seus aviões militares para um possível ataque ao Irã, cuja topografia tem características semelhantes às do país helênico.

5 – nos próximos dias, estaremos publicando aqui nesta página vários textos de judeus progressistas e comunistas, inclusive israelenses, contra o sionismo e a utilização do carimbo "antissemitismo" como forma de censurar denúncias contra o Estado de Israel.

--

Veja a Página do PCB – www.pcb.org.br

Partido Comunista Brasileiro – Fundado em 25 de Março de 1922