sábado, 16 de janeiro de 2010

HAITI – SÉRIO DEMAIS PARA JOBIM BRINCAR DE GENERAL - Por: Laerte Braga


O jornalista Gilberto Scofield, do jornal THE GLOBE – no Brasil O GLOBO – em contato


telefônico com o noticiário EM CIMA DA HORA, edição das 20 horas de quinta-feira, dia


14 de janeiro, disse, entre outras coisas, que não viu as forças "humanitárias" das Nações


Unidas coordenando qualquer operação de resgate de vítimas, socorro a desabrigados,


feridos, distribuição de alimentos, água, remédios, que o caos é absoluto.


E um detalhe. Segundo o jornalista as forças "humanitárias" estavam guardando


propriedades privadas. Não de trabalhadores haitianos, mas de banqueiros, empresários,


figuras do governo e latifundiários.



O ministro da Defesa – presidente B do Brasil – Nelson Jobim, desceu de um avião da


FAB vestindo um uniforme de campanha. A única campanha que o ministro conhece é a


eleitoral. A chegada de Jobim, uma figura repugnante, foi documentada pela TV BRASIL


como se fosse a descida de um messias a um país atingido por mais uma tragédia e com


centenas de milhares de pessoas entre mortos, feridos e milhões de desabrigados.


Jobim quer ser vice de alguém, ou quer ser, se chance tiver, um eventual candidato a


presidente da República. Foi lá para se exibir, ser filmado e não fazer coisa alguma.


O Haiti tem cerca de nove milhões de habitantes, é dominado por potências estrangeiras


desde sua descoberta, em 1492 por Cristóvão Colombo e já foi a mais próspera colônia


francesa na América.



Marcado por lutas pela independência, que nunca aconteceu na prática, é tratado como


quintal pelos norte-americanos. Desde a posse de Lula o Brasil participa com o mais


numeroso contingente de soldados que formam as chamadas "forças humanitárias da


ONU". E tem o comando dessas forças.



Os motivos para essa atual força de ocupação foram os de sempre. "garantir a paz


mundial" e assegurar a construção de uma "democracia".


A rigor não existem empresas haitianas, mas laranjas de companhias norte-americanas


numa economia primária, onde os principais produtos de exportação são o açúcar, a


manga, a banana, a batata doce e alguns poucos mais.



O projeto real de "reconstrução" do Haiti formulado no governo do presidente Bush


implicava num centro têxtil com mão de obra barata – escrava – para concorrer com os


produtos da indústria têxtil da China. O Brasil é parte desse projeto.


Na segunda metade da década de 50 do século passado o médico François Duvalier foi


eleito presidente e instalou no país uma feroz ditadura, com apoio dos EUA (manteve


intocados os privilégios de empresas daquele país) e governou até a sua morte em 1971,


sendo substituído por seu filho Baby Doc. O pai ficou conhecido como Papa Doc.


Jean Claude Duvalier, o filho, ficou no poder de 1971 a 1986, quando foi deposto em


conseqüência de revolta popular e interesses contrariados de militares haitianos. No


regime de Papa e Baby Doc ficaram conhecidos os Tonton Macoutes (bichos papões),


guarda pessoal dos dois ditadores e ligados ao culto Vudu.


É o país mais pobre das três Américas, um dos mais pobres do mundo e agora é hora dos


show internacional humanitário.



O terremoto, evidente, ninguém pode evitar, escapa ao controle do homem, pelo menos


por enquanto, mas a pobreza, a fome, as doenças, os altos índices de analfabetismo,


toda a miséria poderia ter sido extirpada se as tais intervenções norte-americanas (agora


de brasileiros também) tivessem de fato realizado aquilo a que se propunham e que era


apenas o pano de fundo de um saque sistemático a um povo dilacerado em todos os


sentidos, preservação de poderes e privilégios de elites econômicas estrangeiras.


Uma única guerra dessas que os EUA fazem a cada mês para "libertar" o mundo do "eixo


do mal" daria, falo de recursos, para modificar a realidade haitiana.


Evo Morales e Hugo Chávez acabaram com o analfabetismo em seus países em menos


de dois anos de programas sérios e vontade política.



Mas não é esse o propósito nem dos EUA e nem dos militares brasileiros. As tropas do


Brasil apenas garantem a "ordem", a propriedade privada, enquanto fazem de sua


presença naquele país uma espécie de laboratório para novos métodos de repressão e


brutalidade.



É sintomático, não é por acaso isso não existe, a presença de uma figura repulsiva como


o ministro Nelson Jobim vestido de "general" e brincando de socorrer milhões de pessoas


que sempre foram tratadas como escravas, gado, ao sabor das conveniências de


colonizadores, norte-americanos e agora brasileiros.



O sorriso do ministro ao ser filmado em seu desembarque, imaginando-se um general


Patton chegando a Berlim, é um escárnio diante de tanta dor e sofrimento imposto a um


povo inteiro em toda a sua história por figuras como Jobim. Causa asco imaginar que integra o governo Lula. Um Gilmar Mendes com um pouco mais


de erudição (Gilmar não tem nenhuma).



A perda de Zilda Arns é dolorosa e traz um grande prejuízo ao Brasil e ao mundo. Irmã do


cardeal Paulo Evaristo Arns (resistente contra a ditadura militar) foi responsável pela


Pastoral da Criança, surgida nos tempos da teologia da libertação. Quando do governo


FHC todos os recursos carreados pelo poder público federal ao grupo – Pastoral da


Criança –, responsável entre outras coisas por acentuada queda nos índices de


mortalidade infantil no Brasil, o eram via a mulher do ex-presidente, Rute Cardoso. FHC


chegou a dizer publicamente que "A Zilda é uma chata com esse negócio de querer


dinheiro para a Pastoral".




O Haiti é sério demais para que um político desqualificado e sem caráter como Nelson


Jobim fique brincando de general. Em seguida às informações do jornalista Gilberto


Scofield para o noticiário EM CIMA DA HORA, inclusive de "venda" de sacos de água a


cidadãos famintos e sedentos pelas ruas da capital Porto Príncipe, logo após o sorriso de


Nelson Jobim, a notícia que sete mil corpos haviam sido enterrados em valas comuns.


E com destaque, o show de Obama, numa das salas da Cervejaria Casa Branca, ao lado


de seu vice-presidente e "principais" assessores e secretários. O dinheiro gasto numa


guerra para controlar o petróleo do Iraque teria transformado o Haiti num país menos


miserável e dado condições ao povo haitiano de construir seu futuro em cima de


estruturas políticas, econômicas e sociais dignas.



As tropas estão, no entanto, garantindo a propriedade privada.

Jobim é o "general da banda".



Pior que isso só o pastor Pat Robertson, republicano que disputou e perdeu as prévias –


primárias – do seu partido. Disse na terça-feira, 12 de janeiro, que o Haiti é um "país


amaldiçoado", pois "fez um pacto com o diabo para se ver livre dos colonizadores


franceses e o diabo aceitou". Falou numa "propriedade privada", sua rede de tevê. Nem


William Bonner chegou a tanto, ficou só nas ranhuras das pistas do aeroporto de


Congonhas.



Só falta o vereador Tico-Tico para "me ajuuuuudeeeem para que eu possa ajudaaaaar".

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