quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Lições do colapso da Wall Street (por James Petras)




O colapso em curso do mercado de acções e a perda de centenas de milhares de milhões de dólares administrados pelos bancos de investimento da Wall Street ilustra as armadilhas e ciladas do capitalismo de livre mercado que confronta toda a população trabalhadora dos Estados Unidos.

1. A quase bancarrota da Segurança Social. A tentativa da Casa Branca e dos principais congressistas republicanos e democratas, há apenas três anos atrás, de "privatizar" a Segurança Social – essencialmente entregando a administração e fundos de investimento de milhões de milhões (trillions) da Segurança Social à Wall Street – com o argumento de que investidores privados acumulariam mais, teria levado à bancarrota de todo o fundo da Segurança Social. A privatização teria permitido aos principais bancos de investimento especularem e alavancarem instrumentos financeiros ainda mais arriscados com os resultados desastrosos que estamos hoje a testemunhar. Enquanto fundos privados de pensão vão à falência – a Segurança Social continua. Foram as pensões privadas que foram à bancarrota – não o fundo da Segurança Social administrado publicamente, ao contrário do que diziam peritos e críticos da Segurança Social. Evidentemente a actual derrocada privada argumenta em favor do controle público e da sua administração de programas de pensão.

2. Todos os principais fundos de pensão privados para empregados públicos e privados , incluindo TIAA CREF, CALPERS e pensões de sindicatos de trabalhadores perderam algo entre 23% e 30% desde Janeiro e mostram crescimento negativo ao longo dos últimos cinco anos. Evidentemente, a ligação de fundos de pensão ao mercado de acções reduziu severamente os padrões de vida dos aposentados, forçando muitos a permanecerem na força de trabalho com mais de 70 anos e para além disso ou a afundarem na pobreza. Pensões ligadas a actividade produtiva financiada publicamente evitariam as perdas e riscos implícitos em investir no mercado de acções.

3. As decisões estratégicas bipartidárias de converter os EUA numa economia de "serviços", em oposição a uma economia manufactureira avançada e diversificada, é a causa raiz do colapso do sistema financeira dos EUA e da emergente recessão a longo prazo. A partir da década de 1960, a elite política adoptou diretrizes que promovem as finanças, o imobiliário e os seguros, os chamados sectores FIRE que aumentaram rendas, redirigiram subsídios, proporcionaram concessões e subsídios fiscais e destruíram ou deslocaram a indústria. A reconversão da economia FIRE outra vez a uma economia manufactureira equilibrada e ao estado previdência, essencial para reverter o colapso da economia dos EUA, exigirá uma grande reviravolta política.

4. A fuga maciça do capital de sectores produtivos para o FIRE foi acompanhada pelo enorme incremento do capital para o exterior, tornando a economia interna super dependente dos "serviços", particularmente volátil e de arriscados "serviços financeiros" e também com consumidores altamente endividados.

A conversão dos EUA de uma economia diversificada para uma monocultura "FIRE" aumentou a probabilidade de um colapso geral se e quando o mercado financeiro/imobiliário vier abaixo. A recuperação e o crescimento sustentado só pode ocorrer com o retorno de uma economia diversificada, a retenção do capital que foge para o estrangeiro em grande escala, o investimento público a longo prazo e incentivos para os sectores produtivos e de serviço social.

5. A busca da edificação do império baseado no poder militar , a expensas de joint ventures e acordos comerciais recíprocos com países com mercados em expansão, recursos estratégicos e grandes populações, criou enormes défices orçamentais e comerciais e alienou fontes potenciais de mercados e mercadorias estratégicas.

Milhões de milhões de dólares de gastos militares em guerras coloniais prolongadas, custosas e infindáveis divergiram fundos da aplicação em avanços tecnológicos e manufacturação de alta tecnologia, a qual teria reduzido custos e melhorado a competitividade nos mercados. Igualmente importante, ao comutar a expansão do mercado interno orientado pelo mercado para conquista além mar orientada pela lógica militar, todo o eixo do poder económico foi comutado do capital industrial para o financeiro. O capital financeiro, essencial ao financiamento dos défices orçamentais do governo, incidiu preferencialmente nas despesas militares, cresceu de influência – a Wall Street a cintura do aço como eixo do poder em Washington.

6. A ascendência do militarismo e do capital financeiro facilitou o aumento da influência de uma virulenta configuração de poder que promove os interesses de hegemonia regional especificamente de um estado colonialista-militarista, um lobby político anteriormente marginal – a configuração de poder Israel-sionista (Zionist power configuration, ZPC).

Os construtores do império orientado pela lógica militar viram na ZPC um aliado estratégico na busca das suas conquistas globais; a ZPC viu uma porta aberta para altos poderes e múltiplas oportunidades para promover a agenda expansionista de Israel através da sua influência em Comités do Congresso, campanhas eleitorais e nomeações directas da Casa Branca. A ascensão da ZPC ao escalão de topo do poder foi ajudada e encorajada pelo aumento do apoio financeiro que eles recebiam de membros em posições estratégicas na maior parte das instituições financeiras lucrativas. A ZPC foi beneficiária económica da bolha especulativa: foi a maciça infusão de contribuições financeiras que permitiu à ZPC expandir amplamente o número de funcionários a tempo inteiro – especialmente na promoção de guerra americanas no Médio Oriente, acordo desequilibrados de livre comércio (em favor de Israel) e apoio inquestionado à agressão israelense contra o Líbano, a Síria e a Palestina. A recuperação económica está dependente do fim da ruína orçamental do imperialismo militar. Isso não acontecerá a menos que haja uma substituição geral da elite alimentada com a metafísica do pode global baseado no militarismo.

Nenhuma recuperação económica é possível agora ou no futuro previsível enquanto o Congresso e o executivo dos EUA proporcionar salvamentos de milhão de milhões de dólares a especuladores insolventes da Wall Street, financiar orçamentos de 700 mil milhões de dólares de gastos de guerra sempre em expansão e enquanto intermediários do poder sionista ditarem as políticas no Médio Oriente.

As lições do passado contam-no muito acerca dos caminhos que deveríamos e não deveríamos tomar.

A Segurança Social ainda existe precisamente porque o público dos EUA rebelou-se e derrotou a sua tomada pela Wall Street e ele continuou a ser um programa administrado publicamente. O sistema financeiro entrou em colapso porque a economia dos EUA "especializou-se" numa única cultura – as finanças – a expensas de uma economia produtiva diversificada. O sistema político está totalmente desacreditado porque é dirigido por uma elite política fracassada a qual descaradamente representa e actua no interesse de uns poucos milhares de oligarcas financeiros; um par de centenas de oligarcas militaristas e umas poucas dúzias de apaixonadas organizações sionistas.

A "elite do poder" só é poderosa enquanto for capaz de manipular, intimidar e seduzir mais de três centenas de milhões de cidadãos levando-os a pensar que eles são indispensáveis para as suas vidas. A esmagadora rejeição popular da privatização da Segurança Social e do salvamento da Wall Street sugere que a oligarquia dominante não é invencível.

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