segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A luta do povo da Grécia




Os Editores (odiario.info) - 12.12.08


A maior greve geral da história da Grécia paralisou na quarta-feira aquele país. Os acontecimentos ali ocorridos nos últimos dias transcendem o quadro local. Os grandes media internacionais tentam minimizar o significado das gigantescas manifestações de Atenas confundindo o movimento popular de protesto com a explosão de violência anárquica desencadeada por grupos de jovens após o assassínio pela polícia de um estudante.

Mas a manipulação desinformativa não pode ocultar os factos.

A greve fora prevista com larga antecedência e a resposta maciça do povo ao apelo das centrais sindicais e do Partido Comunista expressou-se em exigências concretas.

O povo grego condenou nas ruas a ofensiva contra o serviço de saúde e a criação de universidades privadas (proibidas pela lei), exigiu salários dignos para os trabalhadores, o encerramento das bases norte-americanas, a revogação das leis que restringem liberdades e penalizam o trabalho, e a ruptura com Schengen, condenou a fascização das polícias e dos serviços secretos, a militarização da União Europeia e a vassalagem perante os EUA.
Manifestação na Grécia
As manifestações de Atenas e noutras cidades gregas são uma outra manifestação da crise económica e social que atinge presentemente toda a humanidade.

A onda de violência não é apoiada pelos Sindicatos nem pelo Partido Comunista, mas surgiu em resposta (compreensível) à politica reaccionária do governo de Kosta Karamanlis que, alinhando com outros da União Europeia, acode com milhares de milhões de euros aos banqueiros responsáveis enquanto desencadeia a repressão contra os trabalhadores

A Grécia é nestes dias uma vitrina dramática da crise mundial. O seu povo, assumindo-se como sujeito, confirma com o seu exemplo, que é pelos caminhos da luta de massas e não através dos parlamentos controlados pelos partidos das classes dominantes que o capitalismo estremece, recua e pode ser derrotado.

No apelo à mobilização que dirigiu aos trabalhadores na ante-véspera da greve, Aleka Papariga, secretária-geral do Partido Comunista da Grécia, afirmou «sabemos como lutar em cada fase e pela via que seja mais adequada em cada momento. É por termos essa experiência que apoiamos toda a forma de luta que acelere, dinamize e dê força política ao movimento».

Na Grécia estavam reunidas condições objectivas e subjectivas para que o povo desafiasse o Poder da burguesia nas ruas e numa greve geral que paralisou totalmente o país.

O que semanas atrás parecia inatingível é hoje, segundo dirigentes da União Europeia, uma situação previsível. Pela força do povo, o governo de Kosta Karamanlis pode cair de um dia para outro.

EDITORES DE ODIÁRIO.INFO





Discurso da secretária-geral do Partido Comunista da Grécia
Papariga apela à mobilização do povo contra o governo

Aleka Papariga

Publicamos hoje o discurso de Aleka Papariga, secretária–geral do Partido Comunista da Grécia, no comício realizado em Atenas no passado dia 8 de Dezembro.

Aleka Papariga* - 12.12.08

Queridos Camaradas

Ontem, sem nos deixarmos levar pelas paixões mas conscientes e com emoção, ira e indignação, decidimos fazer este protesto militante, devido ao facto de um estudante, sentado na praça, ter sido assinado por um polícia. A resposta deve ser massiva, política e organizada. A morte de Alexandros Grigoropoulos é um assassínio, e não é um caso isolado nem acidental. É a crónica de uma morte anunciada pela violência e a repressão estatais, que reconhece o povo como inimigo quando este exige os seus direitos, e odeia a greve, a manifestação, a ocupação ou qualquer forma de luta.

O protagonista deste comício é Alexandros, que infelizmente apenas conhecemos no momento da sua morte. Mas esta manifestação também é dedicada a todos os gregos e imigrantes, trabalhadores, às vítimas da exploração e da guerra, que têm enfrentado a chantagem e a intimidação. Esta manifestação também é dedicada aos estudantes, liceais e universitários, que são perseguidos por que exigem uma educação pública e gratuita, por que enfrentam a ameaça dos tribunais e da procuradoria que pedem aos seus pais e professores que os espiem e denunciem. Também a dedicamos aos refugiados perseguidos pela violência política e a intervenção militar nos seus países, a todos os refugiados e outros prisioneiros que enfrentaram fisicamente o martírio provocado pelos oficiais da polícia.

Dedicamos esta manifestação às vítimas da arbitrariedade dos patrões e aos trabalhadores falecidos em acidentes de trabalho. Os acidentes de trabalho também são um assassínio.

Dedicamos a nossa luta a todos os imigrantes paquistaneses que se converteram em vítimas do mais selvagem sequestro, não por dinheiro mas por pressão política e intimidação.

Todos os trabalhadores, pequenos comerciantes e camponeses pobres devem unir-se ao protesto, mas também tomar posição clara de que têm direito à greve, direito a ocupar, direito a qualquer tipo de luta massiva que se decida. Todos são necessários, mais que nunca agora que se prepara um feroz ataque contra os mais populares direitos às condições de vida, educação e saúde. Não se pode pactuar, não se pode dialogar com os que são responsáveis por estas medidas e preparam novos projectos impopulares. Não há perdão para os que governaram ontem, e hoje vertem «lágrimas de crocodilo».

Escandaliza-nos que o PASOK [Partido Socialista Grego] e a Nova Democracia [Partido da direita, hoje no Poder, em alternância com o PASOK] tentem responsabilizar-se mutuamente pelas mortes violentas. Não importa se quando governava o PASOK houve mais uma ou duas mortes que agora com a Nova Democracia no governo. O que importa é que utilizam a violência, as práticas legislativas e a chantagem para golpear o movimento popular organizado e o lutador espontâneo.

Quando há violência sobre o lutador, é certo que esta afectará também todos os que não estão interessados na política. A violência não tem limites, tal como a morte não é acidental.

Agora devemos unir as nossas vozes para que as leis que os governos do PASOK e da Nova Democracia (ND) aprovaram sejam abolidas na teoria e na prática:

• As leis antiterroristas da UE.

• A legislação do governo do PASOK sobre o uso de armas pela polícia que dá poder e margem a uma má utilização.

• A ampliação dos poderes dos Serviços Secretos Nacionais pelo governo da Nova Democracia em 2005.

• O estabelecimento de sistemas de monitorização e câmaras, implementados tanto pelo PASOK como pela Nova Democracia.

• A implicação gradual das Forças Armadas em questões da ordem interna.

• Os acordos com a UE e os EUA.

• A promoção da lei de limitação das manifestações da responsabilidade do PASOK.

• O Tratado de Schengen.

• A utilização da repressão pela polícia municipal, inclusive com cães, de acordo com o último projecto de lei.


Queridos camaradas e Amigos

Ouvimos ontem controversos comentários de vários jornalistas e diversas personalidades políticas. Perante a violência cega dos que vão encapuçados acabam de ver a ira do povo; perdoando todas as acções e ajudando o governo e todo o tipo de governo antipopular a promover e aplicar as suas próprias leis repressivas, bem como as da UE, contra o seu próprio povo, a criar novos corpos repressivos do Estado, legal ou ilegalmente. Ao mesmo tempo tentam manter-se próximos dos lojistas que viram as suas lojas destruídas. Todos estes jornalistas e personagens políticos aparecem a apoiar ambas as partes.

Muitos deles elogiam as denominadas forças «antipoder». Perguntamos-lhes directamente se a viúva dum trabalhador assassinado num acidente de trabalho deitar o fogo à casa do empresário responsável, o que dirão? Apresentá-la-ão como heroína ou gritarão que não tem o direito de fazer justiça pelas suas mãos, que há uma legislação e um estado de direito e tudo o mais?

Se os filhos dos trabalhadores que perderam as suas vidas em acidentes de trabalho queimassem as fábricas e as propriedades dos patrões, justificavam-nos? Naturalmente que não.

Chamemos as coisas pelos nomes. O núcleo das chamadas forças «antipoder» é heterogéneo, espontâneo, e está pronto para difamar a luta e o movimento organizado, para aparecer como um substituto simples da luta de classes. Todas estas forças «antipoder» são inofensivas para os que estão interessados em que poder político continue como está, mudando apenas, em certos períodos, o seu rosto aparência político.

O KKE [Partido Comunista da Grécia] tem uma longa história e forjou-se em todas as formas de luta e na luta de cara aberta, naturalmente sem apoio do status quo e sem qualquer tipo de imunidade prévia. Sabemos como lutar em cada fase e pela via que se mostrar adequada em cada momento.

É por termos esta experiência que apoiamos toda a forma de luta que acelere, dinamize e dê força política ao movimento. Condenamos a Nova Democracia e o PASOK porque cultivam e organizam a violência estatal. Porque fazem como se não vissem que há mecanismos que legitimam a violência contra o povo, que ocultam as dolorosas situações como as daqueles que vivem há muitos anos com as denominadas forças «bem conhecidas-desconhecidas», só para terem pretextos e argumentos.

As forças «bem conhecidas-desconhecidas» tentam perverter o espontaneísmo puro da juventude, o espírito de vingança pela injustiça que esta sente, lançando-a na direcção oposta do que seria correcto e benéfico. Deixem aos jovens, que transbordam dinamismo criado pelo ódio à injustiça, pensar que práticas como a de queimar bancos se tomam por algum tipo de vingança contra os banqueiros e o capital financeiro. Deixem a juventude que quer castigar os culpados considerar que realmente os prejudicam quando queimam carros e lojas de pessoas inocentes.

Sabemos muito bem que muitos destes jovens amadureceram e pensaram com calma. Apontaram contra quem devem, por qualquer meio e sem pena alguma, contra os culpados.

Mas deixemos que todos os que apoiam a integração europeia também pensem seriamente, os que se levantam e dormem com o sonho das urnas, quanto e como estão a contribuir para um efectivo movimento com verborreia antipoder nas pequeno-burguesas «forças antipoder».

Queridos camaradas e amigos

Estes dias poderão dar-nos a oportunidade de uma reconstrução responsável do movimento, agora, antes que seja relativamente pequeno ou demasiado tarde.

O movimento popular significa que cada centro de trabalho, cada escola, cada classe, vizinho, quinta ou pequenas lojas de rua se converta numa fortaleza para a acção. Um movimento baseado na orientação de classe, adequando a sua organização a cada sector da economia, um por todos e todos por um. Um movimento na generalidade não emancipado do poder, mas concretamente emancipado do poder dos monopólios e dos compromissos imperialistas.

Ninguém pode perder-se nem ausentar-se das grandes manifestações de amanhã para uma vitoriosa greve a 100% na próxima quarta-feira.

Teremos lutas amanhã e nos dias seguintes…


* Secretária-Geral do Partido Comunista da Grécia

Este discurso foi pronunciado num grande comício do PCG, no passado dia 8 de Dezembro, evocando o assassínio do jovem Alexandros Grigoropoulos

Título da responsabilidade de odiario.info

Tradução de José Paulo Gascão a partir do texto em espanhol.

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