sexta-feira, 10 de julho de 2009

Estado palestino: com que roupa ? Por: Gershon Baskin (*)


Tudo bem, Binyamin Netanyahu pronunciou as palavras mágicas "Estado palestino". E agora ? Quero dar ao primeiro-ministro o benefício da dúvida e acreditar que ele foi franco. Daqui por diante, no entanto, o que acontece ? Como essas palavras podem se tornar realidade ? Tentemos imaginar.

Suponhamos por um momento que os palestinos aceitassem as condições de Netanyahu: seu Estado seria desmilitarizado, não teria controle efetivo sobre as fronteiras, o espaço aéreo, os portos. Eles concordariam em definir o Estado de Israel como o Estado do povo judeu. A soberania deste Estado palestino seria mais limitada do que a de quase todos os estados conhecidos. Que seja (ao menos como linha de argumentação). Agora, senhor Netanyahu, tenho algumas perguntas sobre sua proposta.

O senhor diz que Jerusalém continuará sendo a capital unificada eterna do Estado de Israel. O que pretende fazer, então, com os quase 300 mil palestinos que vivem na nossa capital unificada ? Garantirá a eles cidadania plena ? Terão passaporte ? Poderão votar nas eleições para a Knesset ? Eles nunca tiveram direitos iguais na cidade de Jerusalém desde 1967. As estatísticas municipais demonstram que, para cada shekel investido por habitante palestino da cidade, sete shekalim são investidos por habitante judeu.

Existe um déficit de cerca de 1.700 salas de aula na parte leste de Jerusalém. O senhor as construirá ? Investirá no desenvolvimento da parte oriental da cidade, para dar conta do crescimento da população palestina ? Continuará com os planos de construir um parque temático em terras onde os palestinos de Jerusalém estão estabelecidos há décadas ? Permitirá o desenvolvimento de uma indústria de turismo palestino na parte oriental da cidade, que compita com a indústria judaica de turismo ?

Se o Estado palestino for desmilitarizado, o senhor impedirá que colonos armados agridam fazendeiros palestinos que trabalham nos campos de oliveiras ? Desarmará os colonos ? Permitirá que os palestinos construam muros e cercas ao redor de seus campos, para impedir que os colonos continuem sua guerra de agressão ? Abortará as tentativas dos colonos se instalarem em áreas palestinas ?

E os cidadãos palestinos de Israel, senhor Netanyahu ? Com o reconhecimento de Israel como o Estado do povo judeu, quais seriam seus direitos ? Será Israel o seu Estado ? Não sendo mais percebidos como ameaça à segurança, terão direitos iguais ou serão sempre tratados como ameaça demográfica ?

O senhor incluirá os cidadãos palestinos do Estado judeu na sua coalizão ? Eles receberão do Estado recursos iguais dos fundos de desenvolvimento ? A eles será permitido ensinar sua herança cultural em suas escolas ? Se nós tratamos os drusos que servem o exército com tamanho desrespeito que seus líderes acabam de protestar na frente de sua casa, como trataremos os cidadãos palestinos de Israel, muçulmanos e cristãos, dentro das fronteiras do Estado judeu ?

Como será o acesso à água no Estado palestino ? Terão os palestinos o mesmo direito à água que têm os judeus em Israel ? Controlarão os recursos hídricos que estão no subsolo ? Como o senhor justificará a discriminação permanente que se observa na distribuição de água, inteiramente controlada pelo Estado de Israel ? As mais de 150 cidades que hoje não têm acesso à água ganharão, afinal, este direito elementar ?

A Justiça, como é que fica ? Se um israelense cometer um crime no Estado da Palestina, poderá ser julgado por uma corte palestina ? Se condenado, cumprirá pena num presídio palestino ? Um policial palestino terá direito de multar um colono numa estrada palestina ?

Vigorará o conceito de reciprocidade ? Palestinos que provem ter direito de propriedade dentro de Israel poderão reivindicar esse direito, ou, ao menos, receber compensação financeira, prática comum, por exemplo, entre judeus na Europa e na Cisjordânia ? Palestinos que têm, comprovadamente, direito sobre terras e moradias na Galiléia ou em Jerusalém Ocidental, terão esse direito respeitado ?

Na medida em que Israel controlará o espaço aéreo no Estado da Palestina, o senhor permitirá que uma linha aérea palestina tenha uma área reservada no aeroporto Ben-Gurion ? Autorizará os palestinos a usarem este aeroporto ? Terá o Estado palestino direito a docas em Ashdod ou Haifa ?

Supondo que haveria uma cooperação postal, qual seria a reação de Israel caso os palestinos imprimissem um selo lembrando a Nakba (Catástrofe; nome que os palestinos dão à criação do Estado de Israel) ? A correspondência seria processada ?

Convidado a visitar o Estado palestino, o que faria quando o presidente palestino o convidasse a conhecer o Museu Nacional, que naturalmente mostraria a luta nacional para se libertar do Estado de Israel ? Não seria equivalente a uma visita de um governante palestino ao Yad Vashem ?

Primeiro-ministro Netanyahu, o senhor sabe, é claro, que os palestinos nunca aceitarão suas pré-condições para criar um Estado nacional. Nem eles, nem o presidente Obama, nem quase ninguém no mundo. Ao invés de ficar lançando balões de ensaio para protelar a criação de um Estado palestino, o senhor deveria pensar em como conseguir uma paz verdadeira com o povo palestino. Um Estado que já nasce humilhado jamais será um vizinho confiável. O senhor fala de reciprocidade. Já é hora de se colocar no lugar deles e, então, imaginar que tipo de Estado gostaria de ter como vizinho.

(*) Israelense, diretor do IPCRI - Israel/Palestine Center for Research and Information.

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