domingo, 8 de abril de 2012

Tortura durante a ditadura, relato de IGNEZ MARIA RAMINGER


Fui levada para o Dops, onde me submeteram a torturas como cadeira do dragão e pau de arara. No pau de arara, davam choques em várias partes do corpo, inclusive nos genitais. De violência sexual, só não houve cópula, mas metiam os dedos na minha vagina, enfi avam cassetete no ânus. Isso, além das obscenidades que falavam. Havia muita humilhação. Eles tiravam sarro ao mesmo tempo que nos batiam. E eu fui muito torturada, juntamente com o Gustavo [Buarque Schiller], porque descobriram que era meu companheiro. E ele fazia parte da direção da VAR-Palmares. A pior coisa que existe é ver um companheiro ser torturado. Uma vez, eles simularam que iam me degolar. Pegaram uma facona, saíram comigo e disseram para o Gustavo: ‘É a última vez que você vai vê-la’. Aí, eles saíram comigo com aquela faca na garganta e me botaram numa kombi. Depois, pararam o carro e fi caram discutindo o que fazer comigo. Acabaram me deixando de volta no presídio. Foi uma encenação, mas achei que estava indo ser morta. Isso me deixou com trauma durante muitos anos. Eu não conseguia mexer com faca grande na cozinha... No total, fi quei presa durante um ano e meio.

IGNEZ MARIA RAMINGER, ex-militante da VAR-Palmares, era estudante de Medicina Veterinária quando foi presa em 5 de abril de 1970, em Porto Alegre (RS). Hoje, vive na mesma cidade, onde é técnica da Secretaria Municipal de Saúde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário