sábado, 16 de maio de 2009

O povo de Perote (México) contra a empresa estado-unidense Granjas Carroll

Assista mais abaixo o documentário sobre a luta do povo de Perote contra
a empresa estado-unidense Granjas Carroll


A gripe dos porcos e a mentira dos homens - Por Mauro Santayana


O governo do México e a agroindústria procuram desmentir o
óbvio: a gripe que assusta o mundo se iniciou em La Glória, distrito
de Perote, a 10 quilômetros da criação de porcos das Granjas Carroll,
subsidiária de poderosa multinacional do ramo, a Smithfield Foods. La
Glória é uma das mais pobres povoações do país. O primeiro a contrair
a enfermidade (o paciente zero, de acordo com a linguagem médica) foi
o menino Edgar Hernández, de 4 anos, que conseguiu sobreviver depois
de medicado. Provavelmente seu organismo tenha servido de plataforma
para a combinação genética que tornaria o vírus mais poderoso. Uma
gripe estranha já havia sido constatada em La Glória, em dezembro do
ano passado e, em março, passou a disseminar-se rapidamente.

Os moradores de La Glória – alguns deles trabalhadores da Carroll –
não têm dúvida: a fonte da enfermidade é o criatório de porcos, que
produz quase 1 milhão de animais por ano. Segundo as informações, as
fezes e a urina dos animais são depositadas em tanques de oxidação, a
céu aberto, sobre cuja superfície densas nuvens de moscas se
reproduzem. A indústria tornou infernal a vida dos moradores de La
Glória, que, situados em nível inferior na encosta da serra, recebem
as águas poluídas nos riachos e lençóis freáticos. A contaminação do
subsolo pelos tanques já foi denunciada às autoridades, por uma agente
municipal de saúde, Bertha Crisóstomo, ainda em fevereiro, quando
começaram a surgir casos de gripe e diarreia na comunidade, mas de
nada adiantou. Segundo o deputado Atanásio Duran, as Granjas Carroll
haviam sido expulsas da Virgínia e da Carolina do Norte por danos
ambientais. Dentro das normas do Nafta, puderam transferir-se, em
1994, para Perote, com o apoio do governo mexicano. Pelo tratado, a
empresa norte-americana não está sujeita ao controle das autoridades
do país. É o drama dos países dominados pelo neoliberalismo: sempre
aceitam a podridão que mata.

O episódio conduz a algumas reflexões sobre o sistema agroindustrial
moderno. Como a finalidade das empresas é o lucro, todas as suas
operações, incluídas as de natureza política, se subordinam a essa
razão. A concentração da indústria de alimentos, com a criação e o
abate de animais em grande escala, mesmo quando acompanhada de todos
os cuidados, é ameaça permanente aos trabalhadores e aos vizinhos. A
criação em pequena escala – no nível da exploração familiar – tem,
entre outras vantagens, a de limitar os possíveis casos de
enfermidade, com a eliminação imediata do foco.

Os animais são alimentados com rações que levam 17% de farinha de
peixe, conforme a Organic Consumers Association, dos Estados Unidos,
embora os porcos não comam peixe na natureza. De acordo com outras
fontes, os animais são vacinados, tratados preventivamente com
antibióticos e antivirais, submetidos a hormônios e mutações
genéticas, o que também explica sua resistência a alguns agentes
infecciosos. Assim sendo, tornam-se hospedeiros que podem transmitir
os vírus aos seres humanos, como ocorreu no México, segundo supõem as
autoridades sanitárias.

As Granjas Carroll – como ocorre em outras latitudes e com empresas de
todos os tipos – mantêm uma fundação social na região, em que aplicam
parcela ínfima de seus lucros. É o imposto da hipocrisia. Assim, esses
capitalistas engambelam a opinião pública e neutralizam a oposição da
comunidade. A ação social deve ser do Estado, custeada com os recursos
tributários justos. O que tem ocorrido é o contrário disso: os estados
subsidiam grandes empresas, e estas atribuem migalhas à mal chamada
“ação social”. Quando acusadas de violar as leis, as empresas se
justificam – como ocorre, no Brasil, com a Daslu – argumentando que
custeiam os estudos de uma dezena de crianças, distribuem uma centena
de cestas básicas e mantêm uma quadra de vôlei nas vizinhanças.

O governo mexicano pressionou, e a Organização Mundial de Saúde
concordou em mudar o nome da gripe suína para Gripe-A. Ao retirar o
adjetivo que identificava sua etiologia, ocultou a informação a que os
povos têm direito. A doença foi diagnosticada em um menino de La
Glória, ao lado das águas infectadas pelas Granjas Carroll, empresa
norte-americana criadora de porcos, e no exame se encontrou a cepa da
gripe suína. O resto, pelo que se sabe até agora, é o conluio entre o
governo conservador do México e as Granjas Carroll – com a
cumplicidade da OMS.

Documentário sobre a luta do povo de Perote contra
a empresa estado-unidense Granjas Carroll:


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