domingo, 10 de maio de 2009

Quão perto estamos de uma depressão? (por Monthly Review *)

Nota da UJC do Paraná: Este interessante artigo da Monthly Review (uma revista marxista dos Estados Unidos) ajuda a compreender a atual crise através de uma visão crítica da realidade.


É hoje universalmente reconhecido que a economia norte-americana atravessa um declínio profundo, algo nunca visto desde a década de 1930. A questão surge continuamente: quão perto estamos de uma depressão? Uma forma de encontrar uma resposta é observar a taxa de desemprego. A Grande Depressão atingiu o fundo em 1933, quando a taxa de desemprego chegou aos 25 por cento. Hoje, os Estados Unidos estão a perder cerca de 600 mil empregos por mês. Mas a taxa de desemprego oficial mantém-se nos 8,1 por cento (ajustada sazonalmente, Fevereiro de 2009). Trata-se da taxa de desemprego mais elevada do último quarto de século, mas dificilmente pode ser considerada uma taxa ao nível da depressão, que, habitualmente, só é vista assim quando atinge os dois dígitos.

No entanto, é cada vez mais visível que a taxa de desemprego oficial é demasiado conservadora na sua medida do trabalho subutilizado, levando a que alguns dos melhores analistas económicos prefiram a taxa de desemprego mais inclusiva, disponibilizada pelo Gabinete de Estatísticas do Trabalho (BLS), conhecida por medida U-6, por oposição à medida U-3 (a taxa oficial). A U-6 é composta por três componentes: (1) os "desempregados oficiais", ou U-3, os que não têm emprego e procuraram trabalho nas últimas quatro semanas; (2) os "trabalhadores ocasionalmente activos", ou seja os indivíduos que desejam ter um emprego e o procuraram no último ano, mas não procuram actualmente (inclui as seguintes subcategorias: (a) "trabalhadores desencorajados" que consideram que o mercado de trabalho está definitivamente fechado para eles; e (b) todos os restantes "trabalhadores ocasionalmente activos" que referem frequentemente factores estruturais para não procurarem emprego, como a impossibilidade de deixarem as crianças ou os transportes); (3) os "trabalhadores em part time " que se encontram nessa condição por razões económicas, mas desejam um emprego a tempo inteiro. (John E. Bregger e Steven Haugen, "BLS Introduces a New Range of Alternative Unemployment Measures", Monthly Labor Review 118, n.º 10, 1995.) A taxa de desemprego U-6 está actualmente nos 16 por cento (ajustada não sazonalmente, Fevereiro de 2009).

A U-6 é claramente a medida mais desenvolvida da taxa de desemprego real. Como sustentou Paul Krugman, "a taxa de desemprego oficial [U-3] tem sido um pobre guia para a realidade do mercado de trabalho nos últimos anos", ao passo que a U-6 é preferível por ser uma medida mais completa ("Labor Market Deterioration", blogue do The New York Times 5 de Abril de 2008). Ainda assim, vale a pena notar o quanto a própria U-6 está longe de medir a subutilização de trabalho. Algumas limitações da U-6 incluem a não contagem para efeitos dos números do desemprego da grande quantidade de pessoas com subsídios de invalidez da Segurança Social e da elevada taxa de encarceramento (que recai sobre populações com níveis de desemprego desproporcionalmente altos). Quer um caso quer outro representam, obviamente, formas de "desemprego escondido". (Cf. Hasmet M. Uluorta, The Social Economy, Routledge, Nova Iorque, 2009, pp. 48-49.)

Na verdade, face à insatisfação com os números do desemprego, quer os da U-3 quer os da U-6, alguns analistas preferem utilizar uma medida separada conhecida como a "taxa dos sem-emprego". Essa taxa define-se como a percentagem dos civis não-institucionais, com idades entre os 25 e os 54 anos (ou em idade de primeiro emprego), sem emprego. Na medida em que a participação do trabalho feminino mudou radicalmente nos últimos 30 anos, afectando drasticamente esses números, as comparações entre a taxa de desemprego oficial e a taxa dos sem-emprego centra-se, habitualmente, nos homens.

O que é importante é que, embora as flutuações nas duas taxas estejam bastante próximas até aos anos 1980, depois disso, a taxa de desemprego caiu enquanto a taxa dos sem-emprego cresceu, aumentando o fosso entre as duas. Actualmente, há um fosso de 10 por cento entre as duas taxas (com a taxa de desemprego nos homens em Fevereiro de 2009 nos 8 por cento e a taxa dos sem-emprego nos 18 por cento). Em meados dos anos 1970, essa diferença era de 3 por cento. Com efeito, a taxa actual dos sem-emprego nos homens está 12 por cento acima do que estava em 1948. A taxa dos sem-emprego para todos os trabalhadores (mulheres e homens), actualmente (Fevereiro de 2009), é de 23 por cento. Claramente, no que diz respeito particularmente aos homens, a percentagem de jovens sem emprego cresceu dramaticamente, bem acima dos dois dígitos, mesmo sem considerar os efeitos do emprego em part time . (Gabinete de Estatísticas do Trabalho; Yoonsoo Lee e Beth Mowry, "Gender Differences in Employment Statistics", Cleveland Federal Reserve Bank, 13 de Maio de 2008, http://www.clevelandfed.org/research/trends/2008/0508/04ecoact.cfm ; Floyd Norris, "Many More Are Jobless Than Are Unemployed", The New York Times, 12 de Abril de 2008).

O que é que tudo isto trás de novo? O desemprego/subemprego na economia norte-americana está a crescer rapidamente e em massa – um facto que não pode mais ser ignorado. Na verdade, os números actuais reflectem a organização dos mercados de trabalho numa sociedade capitalista. Os técnicos de estatística dos patrões e do governo estão fundamentalmente interessados em perceber qual é a folga que existe na economia. Não estão preocupados com o nível da miséria humana. No entanto, uma avaliação mais cuidadosa revela como a dimensão da miséria humana reflectida nas estatísticas do desemprego é profunda. Um em cada seis trabalhadores está actualmente desempregado ou subempregado, de acordo com a medida U-6. Ao passo que um em cada quatro jovens trabalhadores está sem emprego, de acordo com os cálculos da taxa dos sem-emprego. A disponibilização de emprego útil e, tanto quanto possível, bem remunerado é algo que devia ser exigido a qualquer economia. Se o sistema existente não o consegue assegurar, então a razão e a moral sugerem que a população de baixo devia levantar-se e substitui-lo por um que consiga.


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