quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

As perspectivas da esquerda socialista no Brasil - por Ivan Pinheiro*

As eleições municipais de 2008 armaram

o cenário para a batalha eleitoral de 2010.

E se a esquerda socialista não aprender

com os resultados de 2008, assistirá o

jogo institucional, a briga de cachorro

grande entre dois projetos cada vez mais

parecidos, ambos se apresentando como

a melhor alternativa para destravar e

alavancar o capitalismo, pela TV.


O centro do debate entre o campo majoritário do PT e o

PSDB serão os números macroeconômicos, a comparação entre

os governos FHC e Lula do ponto de vista do “Risco Brasil”, do

preço do dólar, da balança comercial, das reservas internacionais,

de quem criou mais (e piores) empregos e captou mais

investimentos estrangeiros. Enfim, entre “quem fez melhor o

dever de casa”, quem mais favoreceu o capital, que no governo

Lula continua a aumentar sua participação na riqueza nacional

em detrimento do trabalho.


Se a esquerda socialista e os movimentos populares não

criarem uma alternativa, quem vai decidir o jogo será o PMDB.

Ou alguns fatores levarão a um consenso burguês que imponha

uma solução de “união nacional”, em torno de alguém como

Aécio Neves. Se o governo de Belo Horizonte, de “coabitação”

PT-PSDB, for um sucesso, a burguesia pode forçar a edição nacional

dessa experiência. E os dois partidos já fi zeram alianças

em mais de 1.000 municípios nestas eleições.


O fator com mais potencial para pressionar uma solução

desse tipo é a crise do capitalismo, que traz turbulências para

a economia brasileira. O agravamento da crise e o risco de Lula

fi car refém do PMDB podem levar o governo federal para posições

mais conservadoras. A situação do PT em 2010 pode não ser

confortável. Pela primeira vez, Lula não será candidato a Presidente

e até agora não apareceu o “candidato natural” do Partido.

A crise econômica também pode reduzir sua popularidade.


Assim, quem se considera de esquerda deve tentar criar uma

alternativa à bipolaridade conservadora ou ao consenso burguês.

E o primeiro passo é abandonar a ilusão de uma candidatura “de

esquerda” do PT à sucessão de Lula (que nem é “de esquerda”).


A segunda questão é reconhecer que a Frente de Esquerda

formada em 2006 é insuficiente para se auto-proclamar alternativa

de poder. Não se trata aqui de analisar a questão somente

pelo resultado eleitoral dos três partidos que a compuseram

(PCB, PSOL e PSTU), abaixo da expectativa – sobretudo no caso

do PSOL, partido-frente, herdeiro de uma tradição eleitoral

da antiga esquerda do PT, portador de quatro mandatos no

Congresso Nacional.


Os resultados matemáticos desses partidos foram fracos

principalmente pela desigualdade de condições frente aos

partidos burgueses e reformistas, que dispõem de recursos

fabulosos dos setores do capital que os financiam. E os três

partidos, mesmo juntos, não se tem apresentado como uma

real alternativa de poder.


E a frente não se reproduziu nacionalmente nestas eleições

porque em 2006 não passou de uma coligação eleitoral, sem ter

sequer um programa. Não houve continuidade, ela não se transformou

numa FRENTE POLÍTICA real, permanente. Uma Frente

de Esquerda deve apresentar um projeto político alternativo, para

além das eleições, e não ser um mero expediente para eleger

parlamentares e dar musculatura a máquinas partidárias.


A criação de uma alternativa real de poder em 2010 não

pode ser apenas um ato de vontade da esquerda. Se o movimento

de massas não se reanimar, a reedição de uma frente

de partidos com registro em 2010 (PCB, PSOL e PSTU) será

apenas um gesto burocrático, mais uma coligação eleitoral,

fadada novamente à derrota.


Precisamos constituir uma FRENTE POLÍTICA baseada num

programa comum e na unidade de ação, mais ampla do que

os três partidos citados e que incorpore outras organizações

populares, movimentos sociais, personalidades e correntes de

esquerda não registradas no TSE.


Mas não pode ser uma frente política apenas para disputar

eleições, mas para unir, organizar e mobilizar os setores populares

num bloco histórico para lutar por uma alternativa de

esquerda para o país, capaz de galvanizar os trabalhadores pelas

transformações econômicas, sociais e políticas, na construção de

uma sociedade fraterna e solidária. Uma sociedade socialista.


Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB


Editorial do jornal Imprensa Popular, leia na integra em http://www.pcb.org.br/IPopular.pdf



Um comentário:

  1. Somente a união consistente e comprometida de todos os comunistas e outros da mesma frente popular revolucionária, é que pode oferecer ao país uma alternativa concreta ao predomínio neoliberal e ao governo entreguista que assumiu o Planalto. Lutando por um processo revolucionário socialista, sem retrocessos revisionistas, é que alcançaremos o Estado de novo tipo que tanto sonhamos.

    ResponderExcluir