quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

“Assim se morre sem socorro”: o testemunho dos médicos voluntários que estão na Faixa de Gaza

Médicos e enfermeiros da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras contam a própria experiência nas zonas inacessíveis a imprensa

Segundo os dados oficiais, 50% das vítimas registradas desde o inicio da ofensiva terrestre na faixa de Gaza è constituído por mulheres e crianças. Ao mesmo tempo, o acesso aos feridos foi gravemente impedido. Os membros da equipe dos MSF perderam muitos familiares por causa dos bombardeamentos, enquanto outros tiveram que abandonar as próprias casas. Um médico palestino dos MSF e Cecile Barbou, coordenadora medica do MSF na faixa de Gaza, foram contatados telefonicamente.
Um médico palestino dos MSF: “No dia 5 de Janeiro em gaza, foi atingida uma ONG sanitária local. Perto do bairro onde vivo destruíram quatro ambulâncias, antigidas quatro vezes por um F-16.
A explosão destruiu um edifício perto da minha casa, na qual perderam a vida 10 pessoas da mesma família, sobretudo mulheres e crianças. Era mas 6.30 da manhã. Agora acabaram de atingir uma estufa para a cultivação de verduras aqui perto.
Estamos todos completamente exaustos. Eu estou exausto porque tenho uma família, e acordamos por causa das bombas, dormimos sob os bombardeamentos. E não sabemos quando as bombas caem.
A maior parte da vitimas são civis, em grande parte são crianças, e o numero continua a crescer. Existe um grande problema para o acesso e para evacuar os feridos e mortos nas zonas atingidas, as ambulâncias não conseguem chegar nas zonas que devem ser evacuadas. Por isso a maior parte das vitimas durante a ofensiva terrestre morreram por causa das feridas sem que ninguém pudesse salvá-las e levá-las para um hospital.
Ontem, ambulâncias conseguiram evacuar os feridos do dia precedente e muitos feridos eram graves. Talvez tenham sido feridos levemente ou moderadamente, mas a causa da perda de sangue e da falta de acesso à cuidados médicos se encontram agora em uma situação muito grave e critica.
Por 10 dias o hospital de Shifa efetuou sozinho 300 operações cirúrgicas importantes – amputações, cirurgias vasculares e ortopédicas. Acho que os médicos estão completamente exaustos, estão fazendo o melhor que podem, trabalham 24 horas por dia, sem noticias da própria família. Isto pode se rum problema nos próximos dias. Todos nos temos limites.”

Ceceai Babou, coordenadora medica do MSF na faixa de Gaza: “Desde o inicio da ofensiva terrestre, quatro membros do nosso staff foram atingidos diretamente. Uma colega ficou presa nos escombros da própria casa e conseguiu sair sem feridas, mas ela teve muita sorte. Um outro colega viu metade da própria família morrer na sua frente e teve enorme dificuldade para evacuar o restante da sua família.
A jovem filha de uma outra colega foi ferida no ombro, foi operada e agora está bem, a irmã de um outro colega foi atingida no abdômen, também foi operada e esta bem.
Mas tudo mudou. Podemos afirmar que o nosso staff estava em uma situação de insegurança no início, mas agora se encontra em uma situação muito, muito complicada”.

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