sábado, 31 de janeiro de 2009

Polícia pernambucana ataca covardemente estudantes

Polícia para quem precisa de polícia - por Roberto Numeriano

Mais uma vez, a Polícia Militar de Pernambuco prende e arrebenta estudantes em protesto contra mais um (abusivo) aumento do preço das passagens. Ao mesmo tempo, os policiais (leia-se praças, cabos e sargentos, além de oficiais de baixa patente) sofrem com baixos salários e condições de vida indignas para quem tem como papel defender a segurança do cidadão. Nesta condição, suas palavras de ordem são por direitos trabalhistas e salários decentes.

Onde está a contradição? Por que o mesmo policial que bate em estudantes quer ser reconhecido como um cidadão que sofre com salários indecentes? Por que ele quer apoio da sociedade civil às suas demandas? Por que eles elegem seus colegas de farda para pressionarem o Governo Estadual pela via parlamentar?

Em primeiro lugar, esses policiais que obedecem à ordem de reprimir manifestações são produtos das contradições sociais do próprio sistema sociopolítico que estão obrigados a defender. Conhecem a miséria e seus efeitos numa cidade como a do Recife, sofrem na pele a miséria de um salário que a avilta a dignidade da farda e do papel institucional da PM, mas são chamados a reprimir aqueles que protestam contra a miséria desse mesmo sistema.

Já imaginaram a situação de um pai policial ser designado para conter a manifestação de estudantes e entre estes ele vê o próprio filho? E então? Ele vai bater no filho que, no mínimo, está garantindo um dinheiro a mais em casa, se o aumento da passagem cair ou ficar num percentual menor? Ele vai decidir pelo pão ou pelo cassetete da ordem política, econômica e social que avilta seu salário e a qualidade de vida de sua família? Se houver por aí algum policial que afirmar decidir espancar o filho, estará mentindo. Ou precisa de apoio psicológico.

Não queiram interpretar, a partir de nossa crítica, que estamos propondo à corporação deixar de cumprir seu mister, que é manter a ordem pública. Mas estamos, sim, criticando sem meios termos e eufemismos o fato de essa polícia ser despreparada para conter distúrbios sociais, do mesmo modo como está perdendo o combate contra o crime, a despeito da seriedade com que a maioria da corporação (de praças a oficiais) enfrenta a criminalidade em todas as suas dimensões.

È despreparada porque aplica métodos que são menos dissuasivos que repressivos, além de enxergar, predominantemente, os movimentos sociais a partir de uma perspectiva criminalizante. A nossa polícia reflete, no limite, o Estado brasileiro que muitas vezes vê a organização popular e social como um caso de... polícia.

Temos 350 mil desempregados no Recife. Terão que andar a pé para garantirem o dinheiro que restar para o pão, enquanto procuram um emprego. Já pensou se esses milhares de jovens, homens e mulheres saíssem às ruas do Recife para protestar contra o aumento das passagens?

Polícia para quem precisa de polícia...

Roberto Numeriano é membro da direção estadual do PCB de Pernambuco.

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