domingo, 18 de janeiro de 2009

O que os comunistas devem esperar de 2009? Mauro Iasi e Ivan Pinheiro respondem a pergunta.

Mauro Iasi
Doutor em sociologia e membro da direção nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1 – Um dos avanços é a continuidade da tentativa de unificação da esquerda, por meio de iniciativas como a Conlutas, a Intersindical e o Fórum Nacional de Lutas. Tivemos uma reunião no começo de novembro bastante ampla, que aponta boas perspectivas.

2 – Uma das coisas mais importantes de 2008 foi a crise econômica mundial e a forma como ela impactou o Brasil. Estávamos iniciando umas mobilizações, campanhas salariais e contra a concentração de renda e o modelo econômico brasileiro. Ela acaba empurrando a classe trabalhadora para um recuo. Ao invés de um protagonismo, a esquerda volta para a posição de resistência.

3 – efeito paradoxal da crise é que, em um primeiro momento, cria-se uma tentativa de pacto e união nacional, o que desarma a independência da esquerda. O principal papel da esquerda é evitar isso. Saímos de um ciclo de grande acúmulo do capital e agora querem jogar o maior peso da crise sobre a classe trabalhadora. Vai se falar em perda de direitos e de redução de salários. Temos que nos preparar para nos contrapor a isso. Um exemplo disso é o pacote de algumas empresas dos EUA que incluía redução de salários e os trabalhadores conseguiram evitar isso. No Brasil, já há várias categorias em férias coletivas e há uma sinalização de que não haverá reajustes para o funcionalismo. Enfim, a tarefa fundamental da esquerda é se preparar para resistir e colocar a tarefa de um projeto de esquerda mais em longo prazo, uma alternativa de poder mais do que conjuntural para o próximo período.

4 – Demonstrando o verdadeiro caráter do governo brasileiro e das opções que ele fez. Para aqueles que acreditavam em um crescimento econômico, com, pouco a pouco, uma distribuição de renda, fica evidente que o capital cobra sua parte no próximo período. Você tem uma contrapartida disso na crise muito forte. Por isso, acredito que o momento será propício para apresentar propostas alternativas com mais fôlego. A crise pode demonstrar de forma mais didática a importância de propostas anticapitalistas e antiimperialistas.

Ivan Pinheiro
Secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB)

1 – No apagar das luzes deste ano de 2008, estamos vivendo o principal momento das lutas sociais e políticas puxadas pela esquerda no Brasil: a luta pela reestatização da Petrobras. O último e vergonhoso leilão deste ano, promovido pela entreguista ANP, une a grande maioria da esquerda e do movimento popular. O movimento em torno deste tema foi o principal avanço da esquerda no período.

2 – O principal retrocesso tem origem em 2006, em que, em vez de uma Frente de Esquerda, formou-se no Brasil uma coligação eleitoral. Deixamos assim passar uma grande oportunidade para criar uma frente política alternativa e isso repercutiu nas eleições municipais de 2008. Quem mais ganhou com essas eleições foi o PMDB. Depois vem a maioria social-liberal do PT e o PSDB de José Serra.

3 e 4 – A crise, no primeiro momento, vai trazer muitas perdas para o proletariado e as camadas médias, pois a correlação de forças não nos é ainda favorável. Será uma fase reativa, de defendermos direitos e conquistas, que serão ameaçados. Mas o agravamento da crise pode gerar uma contraofensiva popular, que eleve a luta de classe entre nós a um patamar superior. Mas tudo vai depender do grau de unidade que as forças de esquerda alcançarem. O PCB defende a formação de uma frente que integre organizações políticas e sociais do campo de esquerda e popular e a construção de uma forte organização intersindical unitária, baseada na centralidade do trabalho. No nosso entender, o agravamento da crise provocará o acirramento da contradição capital x trabalho e deslocará o centro da luta para os países desenvolvidos e emergentes, como é o caso do Brasil.

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