quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O uso de fósforo branco: Israel usou novas e terríveis armas em Gaza.



De pés descalços e com a cabeça coberta, com as longas vestes que lambem a água, as mulheres da família Abu Halima procuram apagar os sinais da devastação que se abateu sobre a sua casa em Beit Lahiya. Cada centímetro de pavimento, cada palmo de parede foram limpos com vassouras, escovas e quilos de detergente, mas o cheiro que invade as salas resiste mesmo ao vento que irrompe das janelas sem venezianas. O odor nauseante, dizem os especialistas, do fósforo branco.

Alberto Stabile – La Repubblica, 26/01/2009. Tradução: Moisés Sbardelotto.

Sobre o uso dessa substância, não proibida se utilizada em campo aberto, mas ilegal se usada contra as pessoas ou em ambientes densamente habitados, o exército anunciou a abertura de uma pesquisa, afirmando, porém, ter agido sempre no âmbito da legalidade. A Anistia Internacional, ao invés, declarou possuir "provas indiscutíveis" que Tsahal tenha utilizado explosivos de fósforo de modo indiscriminado. Por isso a acusação de ter cometido "crimes de guerra".

O governo israelense reagiu logo e, depois de ter imposto a censura sobre os nomes de soldados e oficiais envolvidos na operação, anunciou ontem ter aprovado um escudo legal de proteção em favor dos militares israelenses no caso de serem chamados a responder por terem cometido violações dos direitos humanos por qualquer tribunal estrangeiro. "Israel – disse Olmert – dará pleno apoio aos comandantes e aos soldados que foram mandados a Gaza, assim como eles nos protegeram com os seus corpos durante a operação". O ministro da Defesa, além de um grupo de advogados, farão parte desse "guarda-chuva" de proteção.

Omar Abu Halima, 18 anos, um dos filhos de Sabah e Sadallah Abu Halima, conta aquela tarde de inferno. Os tanques israelenses estavam a uma centena de metros da casa de família de três pisos que surge, alinhada a outras quatro ou cinco casas das mesmas dimensões, na zona chamado Atara, onde termina a zona urbana de Beit Lahiya e começam as serras e os campos cultivados. Zona de morangos e cítricos, mas também, aqui e ali, dada a vizinhança com a fronteira israelense, de lançamentos do Qassam.

"Eu estava na casa ao lado, de um tio meu, quando sentimos três ou quatro explosões, uma depois da outra. Caí no chão. A nossa casa estava envolvida por uma fumaça densa e branca que não deixava respirar e pelas chamas. Saí ao segundo piso e vi minha mãe envolvida pelo fogo. No corredor, estavam os meus irmãos Abed de 14 anos, Said de 10, Hamza de 8, abraçados ao meu pai Sadallah, de 45 anos. Queimavam. Hamza dizia: quero rezar, quero rezar, mas logo depois morreu. Os outros já estavam mortos. Meu pai não tinha mais a cabeça". No departamento de queimados do hospital Shifa, onde Sabah Abu Halima, a mãe, também de 45 anos, se recuperou, o médico geral Nafez al Shaban, formado em Glasgow, especializado nos Estados Unidos, está certo de que o que provocou as queimaduras sofridas pela mulher e pelos outros feridos foi o fósforo. Ele relata que se encontrou pela primeira vez na sua carreira frente a feridas que continuavam queimando, mesmo depois de horas, emanavam um odor insuportável e sobretudo resistiam ao tratamento normal de cirurgia plástica. "Tanto que – diz –, pela sugestão de colegas jordanianos e egípcios que tiveram experiências semelhantes no Líbano, tivemos que amputar".

Uma tragédia na tragédia é representada pela falta de socorro, seja no caso dos Abu Halima, como no caso da família Abd Rabbo, no vilarejo de Jabaliya (próximo do campo de refugiados homônimo). Em resumo, mortos e feridos da família Abu Halima foram colocados em dois carros e em um trator. O carro com os mortos, segundo o relato dos sobreviventes, bloqueado no primeiro posto de bloqueio israelense, foi virado de cabeça para baixo por um trator militar. Os cadáveres ficaram durante dias sobre o asfalto. Sabah Abu Halima, a mãe ferida, pôde chegar ao hospital em uma carroça puxada por um asno.

É inútil perguntar se no local havia milicianos do Hamas. "Aqui somos todos do Fatah – diz Osam, um vizinho que estava enquadrado na Autoridade Palestina e continua recebendo o salário do Ramallah. Se houvesse alguma coisa, teríamos ido embora". Mesmo que a pergunta: "Para onde iriam?" permaneça sem resposta.

Em Gaza, nestes dias, não se fala apenas de armas proibidas, mas também de armas desconhecidas, como o míssil que matou oito rapazes, três mulheres e cinco homens diante da Educational School da Unrwa, em pleno centro. Um explosivo que difunde uma chuva de estilhaços pequeníssimos, cortantes como navalhas, de forma quadrada, de dois ou três milímetros de largura como aqueles que brilham na contraluz na radiografia do braço ou do joelho de Adib al Rais, que se salvou porque estava dentro da loja. O míssil, no impacto, provocou um buracode dez centímetros de largura e de 30cm de profundidade no asfalto. Mas no muro a três metros de distâncias, nas portas de ferro do pequeno supermercado e nos corpos das vítimas, desferiu os fragmentos, grandes como confetes.

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