domingo, 11 de janeiro de 2009

O GOVERNO BRASILEIRO E O HOLOCAUSTO PALESTINO (Ivan Pinheiro*)

A denúncia que fiz sobre a omissão do governo brasileiro frente ao holocausto palestino provocou polêmica. Não era para menos. Ao mesmo tempo mexi em duas feridas que incomodam alguns setores da esquerda brasileira: o caráter do Estado de Israel e o governo Lula. Tenho recebido algumas críticas, a maioria fraternas e bem intencionadas.



O repúdio mundial ao massacre no Gueto de Gaza tem inibido os que se indignam diante de qualquer crítica a Israel. Depois que até escolas e comboios da ONU com ajuda humanitária foram bombardeados, fica difícil reduzir a crítica ao "exagero" de Israel. O mesmo "exagero" cometem os protetores e mandantes de Israel, os Estados Unidos, no Iraque e no Afeganistão. Está cada vez mais claro que se trata de uma política imperialista de extermínio do povo palestino e de ocupação do seu território.



Mas os lulistas (**) e os que ainda se iludem com Lula o defendem com os seguintes argumentos:

- o governo brasileiro criticou Israel por praticar terrorismo de Estado;

- o Ministro Celso Amorim está a mil por hora, em gestões pela paz.



Na realidade, quem fez essa crítica justa a Israel, em entrevista a uma revista, foi Marco Aurélio Garcia, dirigente petista e assessor pessoal de Lula, sem qualquer cargo oficial no governo. Não foi o governo. A própria direção do PT havia divulgado uma nota condenando Israel, que infelizmente ficou na retórica. Na manifestação desta quinta-feira aqui no Rio,amplamente convocada, não se viu uma bandeira do PT e nenhum parlamentar ou dirigente deste partido.



Mas diante da reação do lobby sionista, Marco Aurélio mandou uma carta para o jornalista Merval Pereira, que ontem a publicou em sua coluna. O assessor de Lula se diz espantado por "um comentário seu ter sido apresentado como posição do governo". Para não o acusarem de não condenar também os erráticos morteiros artesanais que a resistência palestina joga nos territórios que foram roubados de seu povo, ele empata: "mas que fique claro: condeno todos os terrorismos".



Quanto ao Ministro Celso Amorim – do andar de cima deste medíocre ministério -, só agora foi acionado para interromper suas férias em Portugal. A partir de hoje, quinze dias após o início da agressão israelense, ele viaja para contatos no Oriente Médio.



Mas o próprio Lula explica seu silêncio diante do extermínio no campo de concentração de Gaza. Em entrevista à revista Piauí, concedida em 18 de dezembro, antes de suas férias, ele declara que, "para não ter azia", não lê jornais, sítios de notícias e revistas e nem assiste televisão, só se informando em conversas com assessores e pessoas que recebe em seu gabinete.



Está explicado. Se Lula não tem acesso aos meios de informação quando está trabalhando em Brasília como é que vamos querer que ele se informe no relaxante litoral baiano, de onde só hoje se despede, no clima de Toquinho e Vinicius:



O velho calção de banho, o dia prá vadiar!



(*) Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB;



(**) lulistas não são necessariamente petistas; os há em outros partidos e sem partido. Nem todo petista é lulista; há os que mantêm reservas a alguns aspectos do governo Lula;

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